Todos nós já vimos isso.
Recentemente eu estava assistindo a um jogo de futebol de garotos de 12 anos de idade, e aconteceu novamente. Um garoto aparentemente meio perdido em campo virou-se para um lado do campo, onde o técnico do time pedia para que ele apertasse em seu marcador, não deixando espaços para receber o passe. Ao mesmo tempo, atrás do banco seu pai pedia para que ele recuasse mais, deixando um espaço maior, para não perder na corrida caso seu adversário pegasse a bola.
E então o que ele faz? Enquanto ele deveria estar focado em receber a instrução e se posicionar, agora ele tem peso de uma escolha. Ignorar o pai com quem convive todos os dias, e escutar que errou desde o carro no caminho para casa até o dia do próximo jogo? Ou escutar o técnico que é o professor, a quem foi dito para ouvir e respeitar pelo próprio pai, a pessoa que tem o poder de escalar quem ele quiser se achar que está cumprindo corretamente o que se pede?
Será que é por isso que vemos crianças confusas no esporte? Com medo de cometer erros? Não é correto tirar da criança a vontade se divertir enquanto pratica esporte. A perda do encanto pelo esporte pode ser decorrência natural de ter que ser confrontado por desempenho toda semana e ser obrigado a desrespeitar uma de suas figuras de autoridade em suas vidas. Não é de se admirar que tantas crianças desistam de seus esportes favoritos quando começam a praticá-los com compromisso.
Todos amamos nossos filhos, e queremos o melhor para eles, mas os comentários dos pais fazendo papel de treinadores mais machucam do que ajudam. Prejudicando o desempenho ao invez de potencializar, fazendo o esporte um momento de constante decepção em vez de divertimento. Muitas crianças com grande potencial desistem do esportes quando o prazer se foi.
Um dos principais componentes do engajamento de longo prazo no esporte é o prazer de praticar. Quem corre maratonas sabe que corrida de longa distância nem sempre é agradável, mas pode trazer grande alegria.
Quando os pais e treinadores se esquecem de que suas equipes de esportes para jovens estão cheios de crianças que querem jogar bem e se divertir, as crianças começam a questionar se a experiência que já não é agradável vale a pena de ser feita. Os pontos negativos começam a superar os positivos, e quando isso acontece eles desistem.
Aqui estão 5 maneiras de como adultos acabam com o prazer dos esportes:
- Pais treinadores: Gritar instruções na beira do campo vai mais confundir do que ajudar. Não seja iludido caso alguma instrução de certo, a maioria delas só vai gerar desgaste e frustração.
- Pais corneteiros: Cornetar o técnico, o juíz ou até mesmo a própria criança simplesmente não funciona. Além disso vai contribuir ainda mais com o ambiente hostíl que a pratica esportiva está se tornando para a criança.
- Desrespeitar oficiais: A cultura do futebol não é famosa pelo respeito aos árbitros vindo das arquibancadas. Não é diferente nas categorias de base. Por ser um ambiente de desenvolvimento não é apropriado querer ganhar a todo custo, aprenda a se frustar e respeite as decisões da arbitragem, ou conteste mas sem nunca perder o respeito.
- Comparações com outros atletas: Quando os pais tentam comparar as crianças e rotular quem é melhor ou pior, seja para motivar o desenvolvimento ou para elevar a moral do filho, a tendência é gerar frustrações no longo prazo. Por exemplo, a criança se compara a outra considerada pior que ela, mas no ano seguinte a criança que era pior cresce e se desenvolve mais rápido, aquele rótulo que era para elevar o moral acaba gerando uma frustração muito maior.
- Palestra de fim de jogo no caminho para casa: O caminho para casa é especial. As crianças gostam de ser valorizadas se os pais realmente sabem o que estão falando. Elogiar por elogiar pode gerar uma bolha de ilusão, ou ainda banalizar os elogios. Fique atendo as jogadas onde a criança mostra superação, a chave de tudo está em valorizar a evolução e não apenas o desempenho nivelado pelas outras crianças.
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Benê Lima