Fifpro - sindicato internacional dos atletas de futebol - faz levantamento inédito com profissionais de 54 países. Cerca de 60% ganha menos que US$ 2 mil por mês
Por Martín Fernandez
A realidade de quem joga futebol profissionalmente é muito mais dura e menos glamourosa do que parece. A Fifpro, sindicado mundial de jogadores, fez pela primeira vez uma espécie de censo da categoria: uma pesquisa que ouviu quase 14 mil jogadores, que atuam em 87 ligas de 54 países - o que significa 21% dos atletas filiados ao sindicado.
Os resultados da pesquisa, apresentados em primeira mão pelo GloboEsporte.com no Brasil mostram um retrato diferente: jogadores mal pagos, com contratos precários, que sofrem constantemente com atraso de salário, assédio e ameaças. As estrelas, claro, são exceção.
Apesar de ser a maior pesquisa do gênero já realizada, há limitações. Países que representam mercados importantes como Alemanha, Inglaterra, Holanda, Alemanha e México não participaram, por não serem filiados à Fifpro. Outros - como a Espanha - enviaram um número baixo de respostas, e por isso não foram computados.
A seguir, os principais pontos da pesquisa:
Os resultados da pesquisa, apresentados em primeira mão pelo GloboEsporte.com no Brasil mostram um retrato diferente: jogadores mal pagos, com contratos precários, que sofrem constantemente com atraso de salário, assédio e ameaças. As estrelas, claro, são exceção.
Apesar de ser a maior pesquisa do gênero já realizada, há limitações. Países que representam mercados importantes como Alemanha, Inglaterra, Holanda, Alemanha e México não participaram, por não serem filiados à Fifpro. Outros - como a Espanha - enviaram um número baixo de respostas, e por isso não foram computados.
A seguir, os principais pontos da pesquisa:
CONTRATOS
De acordo com a Fifpro, 8% dos jogadores não têm um contrato formal. Isso é mais comum na África (15%) do que nas Américas (8%). E é raro na Europa (3%). A situação chega ao extremo em países como o Congo, onde 89% dos jogadores não têm um contrato. Na América do Sul, quem lidera tal estatística é o Peru (20%). No Brasil, tal situação praticamente inexiste.
Entre os jogadores que são contratados formalmente, um número significativo não tem cópia do próprio contrato. "Só" 77,7% mantém consigo uma cópia do contrato, enquanto 6,6% deixam isso com seus agentes e outros 15,7% não tem cópia nenhuma.
O Brasil está em sexto lugar neste quesito - com "preocupantes" (o termo é da Fifpro) 47% dos jogadores sem cópia dos próprios contratos. O Brasil só está atrás de Camarões, Gabão, Costa do Marfim, Guatemala e Namíbia.
SALÁRIOS
Em 2015, o mercado de transferências de jogadores movimentou US$ 4,1 bilhões - e o número está aumentando.
- Em nenhum outro mercado os empregados têm tanta influência sobre os futuros movimentos dos seus empregadores. Os jogadores de elite são excepcionalmente bem remunerados, o que leva a críticas de fãs contra o aumento de preço dos ingressos ou das assinaturas de TV - diz o relatório.
Para não melindrar os jogadores que responderam ao questionário, a Fifpro não perguntou exatamente quanto eles ganhavam, mas em que faixa seu salário se encaixaria. E a resposta foi esta, em dólares por mês: cerca de 60% ganha até US$ 2.000 (R$ 6.800) mensais.
Em 2015, o mercado de transferências de jogadores movimentou US$ 4,1 bilhões - e o número está aumentando.
- Em nenhum outro mercado os empregados têm tanta influência sobre os futuros movimentos dos seus empregadores. Os jogadores de elite são excepcionalmente bem remunerados, o que leva a críticas de fãs contra o aumento de preço dos ingressos ou das assinaturas de TV - diz o relatório.
Para não melindrar os jogadores que responderam ao questionário, a Fifpro não perguntou exatamente quanto eles ganhavam, mas em que faixa seu salário se encaixaria. E a resposta foi esta, em dólares por mês: cerca de 60% ganha até US$ 2.000 (R$ 6.800) mensais.
É provável que essa média tenha sido puxada para baixo pela ausência de três dos principais mercados da bola - Inglaterra, Alemanha e Espanha. Em Gana, por exemplo, 100% dos jogadores ganham menos de US$ 1 mil por mês. No Brasil, esse número chega a 83,3%. Os países que apresentam o menor número de "jogadores mal pagos", por assim dizer, são Itália (2,3%) e França (2,7%).
A duração média dos contratos é de 22 meses. O que, segundo a Fifpro, deixa a maioria dos jogadores em situação vulnerável. O Brasil aparece como um exemplo negativo: é o país com a menor duração média dos contratos: 11 meses.
A Fifpro perguntou aos jogadores: "Quão seguro você se sente com sua situação no clube atual e no futebol profissional em geral". As alternativas iam de 1 (muito inseguro) a 5 (muito seguro). A média geral foi 3,58. O Brasil ficou no meio, com média 3. Os países mais seguros foram os escandinavos Suécia, Dinamarca, Islândia e Noruega. Na outra ponta estão os africanos: Marrocos, Gabão, Tunísia e Camarões.
ABUSOS
Nada menos do que 41% dos jogadores entrevistados relataram ter sofrido com algum tipo de atraso de salário - em casos extremos, por mais de 12 meses. A pesquisa também identificou jogadores que foram obrigados a treinar sozinhos ou que sofreram com preconceito, ameaças e até violência física. Os mais expostos a situações de risco são os jovens que estão fora de seus países de origem.
A prática de atrasar pagamento de jogadores de futebol não tem relação com a localização geográfica do país. O Gabão lidera esse ranking - 96% dos jogadores ouvidos relataram algum atraso - seguido pela Bolívia (95%) e pela Tunísia (94%). Na outra ponta, com índices abaixo muito baixos aparecem Paraguai (10%), Escócia (5%) e França (3%). No Brasil, 52% dos jogadores relataram ter sofrido com atraso de salário nos últimos dois anos.
Obrigar um jogador a treinar isolado de seus companheiros é uma prática comum, segundo a pesquisa: 22% dos jogadores disseram que conhecem a prática, e 6,2% disseram já ter passado por essa situação.
Também é alto o número de jogadores que diz ter sofrido com ameaça de violência (16%), bullying ou assédio (15%), e discriminação (7,3%) - neste caso de raça, religião ou sexual. Os estrangeiros são os mais vulneráveis.
MANIPULAÇÃO DE RESULTADOS
De acordo com o censo da Fifpro, 6,6% dos jogadores disseram ter sido abordados por pessoas interessadas em promover manipulação de resultados. Mas o sindicato acredita que, "pela sensibilidade do tema, a quantidade de casos deve ser muito maior. A entidade estima que, durante a carreira, 10% dos jogadores são assediados por manipuladores de resultados. As quadrilhas que atuam para fabricar resultados preferem assediar jogadores mais velhos.
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Benê Lima