Aqui no Brasil são pouco divulgadas essas linhas de pesquisas, ou são meramente excluídas dos temas de pesquisas. Também, com certa razão, pois é um tema muito complexo e sem muitas definições teóricas para explicar tal fenômeno. Assim, certas pessoas, baseadas no empirismo, têm sido contratadas para identificar os talentos para o futebol dos grandes clubes, mas comprovado na prática que muitos também não têm uma porcentagem muito grande de acertos.
Não temos como prever o futuro de um menino apenas observando-o jogando futebol num campo de várzea. Podemos, sim, identificar alguma facilidade desse menino ou menina com a bola.
Na questão de identificação de um talento, Joch (2005, p. 43), relata que:
“Na falta de critérios inequívocos, são mencionadas características sem sistema e ao acaso, que se baseiam em hipóteses de formação corporal, (suposto) potencial genético, tolerância à carga, dedicação ao treino, alto desempenho juvenil, condições ambientais favoráveis ao desempenho, etc. É considerável a variedade de critérios, específica à modalidade esportiva, vinculada à experiência subjetiva de cada um. Combinações de critérios, também mencionadas em relações cientificamente comprovadas, referem-se aos desempenhos marcantes precoces, em combinação com interesse especial e aumento rápido de desempenhos obtidos sem grande esforço.”
Outros autores, como Gabler e Mergner (1990, p. 8), definem talento com um elevado grau de liberdade e baixa precisão no detalhe:
“Como talento esportivo pode ser chamada uma pessoa que, em uma certa etapa do desenvolvimento, possui determinadas condições corporais, motoras e psicológicas e que, com condições externas favoráveis, com grande probabilidade, irá alcançar altos desempenhos futuros.”
Embora digamos que essa definição é de baixa precisão, precisamos tomá-la como um parâmetro, pois, infelizmente, na literatura nacional, não temos uma definição melhor. Por isso, comento que precisamos de uma política esportiva mais elaborada e preocupada com essa questão da identificação de talentos esportivos, mas isso precisa ser estudado cientificamente e colocado em prática, a fim de que possamos aumentar ainda mais a qualidade de nossos futuros jogadores de futebol.
Existe outra linha de pesquisa defendida por Michel e Novack (1983, p. 43-44), que diz respeito a vocação, interesse especial, determinação e promoção pelo meio ambiente, como sendo determinantes de um talento. Aqui, como sinônimo de vocação:
“Podemos falar de vocação especial, quando já em idade precoce, desempenhos acima da média e até excepcionais são alcançados. Esta vocação especial é reconhecida por meio das seguintes características:
1. A criança já apresenta na idade pré-escolar uma tendência incomum de realizar certas tarefas;
2. A criança realiza as tarefas com uma certa facilidade e felicidade, e demonstra interesse especial e motivação para o esforço de alcançar desempenhos ainda maiores;
3. A vocação é desenvolvida em idades precoces, onde sobretudo o importante é a educação e promoção pelo ambiente.”
Com essas citações, nota-se a preocupação europeia com a identificação de talentos esportivos já na mais tenra idade; assim, podemos entender como países que têm dimensão territorial e populacional menor do que a do Brasil (um “país continental”) possuem tantos atletas bem formados e sendo considerados sempre os melhores do mundo. Na Europa existe essa preocupação do embasamento científico para colocar em prática nos treinamentos a melhor metodologia possível, colhendo dessa forma ótimos frutos.
Precisamos despertar para essas questões de identificação de talentos baseadas em dados científicos, para que assim possamos melhorar ainda mais o nosso material humano.
Bibliografia
Bompa, T. O. Periodização: teoria e metodologia do treinamento. 4 ed. São Paulo: Phorte, 2005.
Joch, W. O Talento Esportivo: identificação, promoção e perspectivas do talento. Rio de Janeiro: Publishing House Lobmaier, 2005.
Weineck, J. Treinamento Ideal. 9 ed., São Paulo: Manole, 2003.
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Benê Lima