Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

sexta-feira, setembro 25, 2009

Ceará é destaque em site de renome

Paulo Vasconcelos, diretor do DM do Ceará S.C
Profissional fala sobre mudanças estruturais no clube, que planeja ser referência do N/NE na área
Bruno Camarão

"Pode ser que o Ceará nem suba à Série A ainda neste ano. O que está acontecendo é uma coisa bem melhor do que isso". Para o torcedor do clube nordestino, que figura desde 1993 na divisão de acesso do futebol nacional, ouvir essas palavras em um momento no qual a tabela aponta para o G-4 pode soar como frustrante. Mas merece atenção: elas são ditas por alguém que participa diretamente de um processo de modernização da estrutura física alvinegra.

Trata-se de Paulo Vasconcelos, diretor do departamento médico do Ceará, equipe que, sob o comando-técnico do treinador Paulo César Gusmão, ocupa desde o fim do primeiro turno da Série B do Campeonato Brasileiro posição no bloco de cima da classificação.

Com uma formação acadêmica na própria capital cearense, Vasconcelos estendeu seus laços de simpatia pela agremiação mais popular do Estado à condução da carreira profissional. Especializou-se na área de medicina esportiva, com viés também na parte de nutrição, e hoje integra um staff que mira o ano de 2014, data em que o país abrigará uma edição de Copa do Mundo - e o time do coração, em particular, comemora o centenário de fundação.

“Não temos planos mirabolantes, como Dubai-2010. É uma passada por vez. Temos como meta ter, não a melhor, mas uma das principais estruturas do Norte/Nordeste em 2014”, revelou Vasconcelos, nesta entrevista à Universidade do Futebol.

De um plano que se iniciou há duas temporadas, o Ceará já montou, com o auxílio de projetos de torcedores, uma academia e um espaço fisioterápico e desenvolveu a criação de um departamento médico - algo que inexistia até então. O trabalho ocorre de maneira integrada, reflexo de uma mudança de mentalidade coletiva.

“Em futebol, tudo pode acontecer, mas temos de ir para o lado científico, também. Temos de apostar as fichas em trabalho, em coisas sérias”, apontou Vasconcelos que, dentre outros temas, abordou ainda as diferenças entre os clubes dos eixos Norte e Sul, a filosofia presente no futebol local, o que pensa sobre as comissões técnicas permanentes e por que o atacante Mota, pretendido por algumas forças da primeira divisão, resolveu apostar em sua volta ao clube onde iniciou a trajetória.

Universidade do Futebol - Qual a sua formação acadêmica e como ingressou no futebol? Há quanto tempo atua diretamente no Ceará?

Paulo Vasconcelos - Sou formado em medicina pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e sempre fui torcedor do Ceará. Tive algumas desilusões na faculdade e acabei optando por uma especialização nessa área, até que recente, da medicina esportiva. No Brasil, temos apenas duas residências - uma em São Paulo e outra em Caxias do Sul*.

Tenho mestrado em nutrição, na parte de metabolismo, e estou fazendo doutorado em nutrição esportiva, ambos na UFC, também.

A faculdade de medicina do Ceará fica no mesmo bairro do clube [conhecido como Porangabussu, expressão carregada pela própria torcida – “Alvinegro de Porangabussu”] e, quando eu era acadêmico, participava dos trabalhos nas categorias de base.

Profissionalmente, atuei no Ferroviário [fundado em 1933 e campeão estadual por nove vezes, é uma das três forças mais tradicionais na região, ao lado de Fortaleza e do próprio Ceará] no começo, até que fui chamado para trabalhar no Ceará, há aproximadamente dois anos.

*Em São Paulo, na Universidade São Paulo - USP e na Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP (ambas públicas), vinculadas ao HC- FMUSP; já no Rio Grande do Sul, na Universidade de Caxias do Sul - UCS (privada) - IME-UCS

Universidade do FutebolNo dia 17 de setembro, o Ceará lançou o seu Centro de Fisiologia do Exercício, que pretende ser uma referência no país. Explique um pouco mais sobre esse projeto e de que forma o clube vem se estruturando no departamento de futebol como um todo.

Paulo Vasconcelos - Quando entrei no Ceará, ainda na gestão Eugênio Rabelo [de janeiro de 2006 a março de 2008, antes de seu afastamento**], ocorreram os primeiros passos de todo o processo. Não tínhamos local nem para fazer um exame clínico básico, não havia consultório médico, e sempre pensei na área de pesquisa, ensino, educação continuada. Fomos, então, ao encontro de alguns movimentos da torcida que visavam reestruturar o patrimônio do clube.

Com o apoio do Ceará Unido, fizemos uma academia, um consultório médico e uma área de fisioterapia no ano passado. É o Ceprap, com a função de atender os jogadores e funcionários do clube, mas há a visão de educação continuada.

Temos estágios acadêmicos, com o pessoal da medicina e da fisioterapia da UFC. Existe uma Liga de medicina esportiva lá, temos convênios, e há uma interação com os alunos e o corpo docente. É um apoio conjunto, que beneficia a todos.

Contratamos outro médico recentemente. Queremos que tenha um profissional sempre pronto para atender a demanda, independentemente do turno. Temos também equipamentos para análise de testes de esforço, uma farmácia com todos os medicamentos possíveis, e agora construímos essa sede da fisiologia.

Há dois anos efetuamos um processo de suplementação dos atletas, com a minha participação, dos nutricionistas especializados e a área de medicina do esporte.

Adquirimos vários equipamentos para obtenção de parâmetros nessa esfera fisiológica, e há um gasto muito elevado com isso. Estamos começando a melhorar nossa infraestrutura. O Cruzeiro e o Grêmio, por exemplo, lançaram seus departamentos de fisiologia em 1999. Uma década depois, iniciamos o nosso. Mas nunca é tarde para começar.

Areditamos que, com trabalho, obteremos os resultados almejados em campo. O jogador não rende 100% o máximo dele só com o salário em dia. É necessário um suporte por trás.

**Em reportagem da Folha de S. Paulo, apurou-se que Eugênio Rabelo, deputado federal eleito pelo PP-CE, bancou com dinheiro da Câmara 77 passagens para 27 jogadores, dois técnicos e três dirigentes do Ceará Sporting Club, além de parentes e amigos dos atletas e radialistas encarregados de cobrir os jogos da equipe.

Os bilhetes eram de 2007 e foram emitidos no período em que o parlamentar presidiu o clube paralelamente ao exercício do mandato no Congresso. Segundo registros das companhias de aviação aos quais o jornal teve acesso, Rabelo gastou ao menos R$ 31,2 mil da cota aérea com esses bilhetes.

Após uma sucessão de derrotas, ele deixou a presidência do clube sob ameaças, no dia 12 de março de 2008.



Ceprap - Centro de Preparação e Reabilitação Alvinegro de Porangabussu é um dos trunfos da direção

Universidade do Futebol - Há uma integração entre as especialidades da área médica? E existe também o laço entre o departamento médico, comissão técnica, área de comunicação e direção de futebol?

Paulo Vasconcelos - Não existia departamento médico no Ceará até 2007. Havia apenas a figura do médico, em si, geralmente um abnegado, um torcedor do clube. Mas estamos construindo essa nova filosofia.

É como se estivéssemos cuidando de um recém-nascido. Precisa ter zelo, e estamos crescendo, conquistando um respeito, em especial do departamento de futebol, que já sabe a necessidade de um depto médico atuante no clube.

O departamento médico do Ceará hoje é composto por cinco médicos, todos independentes, sendo que todos os turnos são assistidos por pelo menos um deles. Há o chefe médico, o Marcos Girão, que efetua um trabalho longitudinal, e passa as informações para o treinador, mantendo o diálogo com comissão técnica e diretoria.

O presidente Evandro Leitão comuna com todas as nossas ideias, o que é muito importante. Ele também acredita que apenas com o esforço coletivo haverá sucesso e uma eventual subida de divisão no campeonato nacional. E o treinador Paulo César Gusmão, na figura da comissão técnica, tem sido um fator catalisador para isso tudo.

Ele funciona como um agente aglutinador de todas essas mudanças, já que trouxe a experiência de outros clubes, e tem passado que é realmente necessário esse conhecimento técnico e a melhora constante da estrutura.

Universidade do Futebol - O PC Gusmão é um profissional que, como preparador de goleiros, passou por Corinthians e Palmeiras, além de ter sido treinador de Cruzeiro e Figueirense, por exemplo, dois clubes estruturados e referenciais. Há uma mentalidade diferente nele, em comparação com outros técnicos que passaram pelo Ceará?

Paulo Vasconcelos - Sentimos essa diferença no dia-a-dia, com certeza. É uma pessoa que cobra uma estrutura adequada para poder trabalhar, o que converge com nosso pensamento atual. Sabe que não basta colocar os jogadores para atuar sem um fisiologista, um médico, um apoio nutricional, não é assim que funciona.

Universidade do Futebol - O presidente Evandro Leitão recentemente comentou que o alvo do Ceará não é apenas subir para a primeira divisão do futebol nacional, mas se estabelecer por lá. E, para isso, seria necessário profissionalizar todos os departamentos do clube. Como isso vem ocorrendo na sua área de atuação, especificamente?

Paulo Vasconcelos - Todos os profissionais médicos são remunerados, fisioterapeutas e demais integrantes dos departamentos. Pode ser que o Ceará nem suba à Série A ainda neste ano. O que está acontecendo é uma coisa bem melhor do que isso: a mudança de filosofia, a estruturação do clube, a nossa modernização.

Não temos planos mirabolantes, como Dubai-2010. É uma passada por vez. Temos como meta ter, não a melhor, mas uma das principais estruturas do Norte/Nordeste em 2014, ano em que a agremiação comemora seu centenário.



Com auxílio de torcedores, Ceará municiou sua academia: mais de 17 aparelhos, em estrutura que custou aproximadamente R$ 30.000,00

Universidade do Futebol - Em se respeitando todas as especificidades de região para região, como você, que atua em um clube do Norte/Nordeste, enxerga as principais carências em termos de atualização e capacitação aos profissionais locais? Há seminários, congressos, e o que é necessário para um maior intercâmbio nesse sentido?

Paulo Vasconcelos - Temos de tirar o chapéu para o Dr. Runco [José Luiz], do Flamengo e da seleção brasileira, que vem organizado essa área de atuação. Recentemente ele criou com alguns outros profissionais a Comissão Brasileira de Médicos do Futebol (CBMF), em Teresópolis, e o Ceará enviou dois representantes para esse evento.

Temos total adesão a esse projeto e, após cada jogo, mandamos à comissão fichas estatísticas, com o intuito de melhorar a medicina voltada ao futebol e criar um banco de dados.

A faculdade de medicina mais próxima de Fortaleza fica em Natal, 520 km daqui, o que dificulta um deslocamento. São as próprias universidades locais que fomentam as discussões internamente.

Com a abertura das redes digitais, claro, também conseguimos obter informações em tempo real do ápice da pesquisa moderna em nossas funções.

Universidade do Futebol - A Uefa possui uma associação que estuda as principais causas de lesões em atletas, com um grande banco de dados. Recentemente, foi criada no Brasil uma associação de médicos ligados ao futebol para a montagem de algo semelhante ao que é feito por lá. É esse o caminho para que haja uma melhor prevenção no futebol? Já houve alguns frutos efetivos?

Paulo Vasconcelos - Nós temos bancos de dados muito escassos. Com a fundação da CBMF, teremos dados nacionais sobre lesões, a parte epistemológica delas, até se o árbitro validou ou não aquela contusão com uma punição ao jogador, por exemplo.

Teremos um grande leque, é questão de tempo. Isso a Uefa tem feito há muito tempo, mas haverá aqui no Brasil, pode ter certeza.

Universidade do Futebol - Sobre centros de medicina esportiva que são referências, na sua visão, há ainda uma disparidade entre os eixos "Sul e Norte"?

Paulo Vasconcelos - Eu acredito que o gap não seja tão grande. Se você for ao centro do Ceará, não deixamos nada a desejar em um paralelo com o próprio Reffis [Centro de preparação e reabilitação física do São Paulo Futebol Clube], por exemplo. Claro que não possuímos todos os aparelhos de que gostaríamos, os quais estão presentes em muitas dessas estruturas de grandes agremiações do Sul, mas não fazemos feio, não.

Recentemente fui para a Itália e visitei o Milan Lab. Em relação a eles, sim, há uma grande diferença, principalmente em termos estruturais, mas estamos no caminho.



Visão externa do Ceprap: clube abre as portas para jogadores de Estados vizinhos, como RN e PB

Universidade do Futebol - Quais são os principais diferencias em termos de metodologia dos profissionais brasileiros em comparação com os profissionais de EUA e Europa? E com um olhar interno, podemos efetuar essa distinção também entre os representantes dos clubes do N/NE com os do Sul/Sudeste?

Paulo Vasconcelos - Na medicina da área de saúde, existe a relação médico-paciente. E para haver a "cura", digamos, algo salutar, há uma série de fatores envolvidos. O médico brasileiro é muito respeitado em termos mundiais. As nossas técnicas são iguais às dos europeus, com algumas especificidades, obviamente, e o jogador brasileiro se sente melhor sendo tratado pelo conterrâneo, muitas vezes pelo contato no idioma, ou pela própria intimidade e histórico existentes.

Universidade do Futebol - O atacante Mota, que iniciou sua carreira profissional com mais destaque no Ceará, teve uma lesão de tornozelo quando atuava no futebol sul-coreano e escolheu retornar ao clube para se tratar. Por que ele escolheu voltar?

Paulo Vasconcelos - Justamente porque ele viu que havia no Ceará uma estrutura básica funcionando. Já é símbolo do nosso trabalho, com certeza, o que nos deixa muito felizes.

Sabemos que grandes profissionais retornam aos clubes por conta do departamento médico, da estrutura, e o Mota foi um desses frutos para nós.

Recebemos muitos telefonemas de atletas que atuam na Paraíba, no Rio Grande do Norte, que gostaram de se tratar aqui. Começamos a abrir esse espaço a jogadores de outros clubes.


Ídolo da torcida, Mota foi tentando por clubes como Palmeiras, Santos e Flamengo, mas confiou no projeto de seu time do coração

Universidade do Futebol - Em julho do ano passado, conversamos com o Cláudio Taumaturgo, médico do clube, assim que o centro de reabilitação do clube foi lançado. E ele comentou sobre a intenção de torná-lo "um chamariz e uma referência" na região. Pode-se considerar que o Ceará está consolidado como uma porta de entrada para os Estados vizinhos?

Paulo Vasconcelos - Referência se torna com tradição, com o tempo. Estamos começando, com alguns atletas que passaram pelo Ceará e retornam para esse ambiente, como o lateral-direito Izaquiel, hoje no Campinense-PB. Ainda não o é, mas acredito que temos essa possibilidade [de nos tornarmos referência] como condição.

Universidade do Futebol - O Ceará tem algum psicólogo atuando diariamente em seu departamento de futebol?

Paulo Vasconcelos - Ainda não. Contratamos esse serviço por períodos, o que não é o ideal, mas num futuro próximo pretendemos contar com a atuação de um profissional no cotidiano.

Chamariz e referência nordestina moldam centro fisioterápico do Ceará

Universidade do Futebol - Para esta temporada, mais especificamente a disputa da Série B, o Ceará montou um elenco com alta faixa etária - dos titulares, o mais jovem é o lateral-diteiro Boaideiro, com 24 anos. Entretanto, são poucos os casos recentes de lesão muscular (quatro, segundo Vasconcelos). Há uma explicação genérica para isso, deve-se mesmo ao perfil diferenciado de cada um ou já é reflexo do trabalho que está sendo realizado?

Paulo Vasconcelos - Lesão muscular é uma lesão multifatorial. O lactato pode estar em um nível baixo, bem como algum outro limiar, e o atleta vai treinar em estado deficitário. Aí, pode haver problemas. Com o aporte nutricional bem dirigido, o trabalho muito bom do preparador físico, o Jorge Sarter, que tem uma comunicação aberta com o departamento médico, o jogador não sai do departamento médico direto para o treino. Ele obrigatoriamente passa por uma avaliação que está inserida em uma visão integrada de todas as esferas de saúde.

Estamos entrando na área da educação fisica terapêutica, e o Jorge Sarter trabalha com o jogador à parte até que ele chegue ao seu ápice do treinamento físico. Somente aí estará liberado para regressar às atividades com o restante do grupo.

Universidade do Futebol - Em alguns clubes no Brasil, parte das comissões técnicas e outros departamentos são permanentes. Como você vê essa característica na formação desses profissionais de apoio? É uma tendência, ou varia de caso a caso para obtenção de sucesso?

Paulo Vasconcelos - Acho que é importante a permanência, pois existe todo um perfil de planejamento em médio e longo prazos. E, para alcançá-los, é necessária uma comissão fixa. No caso do Ceará, por exemplo, o alvo é 2014.

Mas também não acho que a entrada de novos profissionais não seja salutar. Muda a mentalidade. O que não pode passar por alterações bruscas é a filosofia de trabalho e a estrutura. Se você vai de "A-B", não pode mudar para "C" ou "D" com a chegada de um novo integrante.



Estrutura médica é composta também por espaço para fisiologia e odontologia

Universidade do Futebol - É concebível se pensar o sucesso de uma equipe profissional de futebol sem um centro de treinamento adequado e um suporte na área de medicina esportiva?

Paulo Vasconcelos - Tudo é possível, mas as chances são menores. Eu posso chegar e montar uma equipe, pagar os salários em dia e eles se darem muito bem em um determinado momento. Mas se você tem um aporte óptimo para isso, é melhor. Em futebol, tudo pode acontecer, mas temos de ir para o lado científico, também. Temos de apostar as fichas em trabalho, em coisas sérias.

Universidade do Futebol - Vemos alguns exemplos de clubes emergentes que disputaram e disputam a elite do futebol nacional, com uma história e um apego de torcida muito menor em comparação com forças, como Bahia, Santa Cruz e o próprio Ceará. O fato de haver essa pressão, da existência de uma paixão enorme por trás de tudo, dificulta esse processo? O torcedor alvinegro já compreende que é necessária essa profissionalização de fato; do contrário, a marca, por si só, não obterá os resultados?

Paulo Vasconcelos - A torcida está vendo que não é só de resultado imediato que vivemos. Existe toda uma estrutura. Dia desses estava conversando com amigos, que são torcedores, e quando comecei a falar sobre fisiologia, retrucaram: "não é melhor gastar com a contratação de um jogador?".

Acredito que essa mentalidade está mudando aos poucos, e o público está começando a ver que é importante também isso [investimento em tecnologia e estrutura]. Até há como espelho o Grêmio Barueri, que tem uma das melhores estruturas do Brasil, e está firme na primeira divisão nacional.

Para que o atleta chegue ao máximo, certamente ele precisa do envolvimento de todos os profissionais médicos e técnicos.

Universidade do Futebol - O que de diferencial tem o elenco atual do Ceará?

Paulo Vasconcelos - Na hora de contratar, o departamento de futebol não olhou apenas para o perfil "boleiro". Fizemos toda uma análise, um diagnóstico de como cada um dos atletas estava, como se apresentou nos últimos anos. O Ceará hoje está montando um grupo de profissionais de futebol, e não apenas de jogadores.

Com bom desempenho na Série B, Ceará vê benefícios em 'grupo religioso'

Esse não é um trabalho individual. Vai desde o diretor de marketing, passando pelas finanças, e chegando à figura do presidente Evandro Leitão, que vem conseguindo administrar as vaidades; e, em campo, o PC Gusmão, que muito rapidamente catalisou todos esses pensamentos.

Universidade do Futebol - Em relação às categorias de base, já há um departamento amador atuante, ou o caminho ainda é longo?

Paulo Vasconcelos - Está bem melhor do que antes. Temos uma equipe que só trabalha para isso. Há um diretor do departamento, um coordenador técnico e uma espécie de “presidente” do amador, todos atuando especificamente com a área.

É praticamente outro clube dentro do Ceará. E os principais valores são levados para efetuar alguns trabalhos junto à equipe principal.

A parte médica atua como um todo. Não há um setor específico para os menores. Todos os jogadores do Ceará, sejam da base ou do profissional, possuem um prontuário, em papel e no computador, baseado na ficha da Sociedade Americana de Medicina do Esporte. E a partir daí conduzimos o nosso trabalho.

Universidade do Futebol - Como foi tocado anteriormente no tema "2014", teremos a edição referente da Copa do Mundo no Brasil e algumas cidades das regiões Norte e Nordeste aparecem como sede - inclusive Fortaleza. Como profissional que atua no futebol, quais as perspectivas para o evento e o cenário que você vislumbra para o desenvolvimento da estrutura do clube, da modalidade e da cidade, em todos os aspectos, antes e depois desse acontecimento?

Paulo Vasconcelos - Na verdade esse é um grande presente que o Estado do Ceará recebeu. Sabemos da responsabilidade que é se organizar uma Copa do Mundo. É necessário todo um aparato coletivo, já que vêm pessoas de todo o mundo. Na cidade, governador e prefeita estão atuando juntos. Teremos novas vias, com a inauguração do Metrofor, o metrô de Fortaleza, que integrará o [estádio] Castelão, palco da sede, assim como uma melhora da estrutura hoteleira cearense.

Para o meu lado específico, há o projeto de melhorias dos hospitais, mas estamos criando junto àSociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBME) um núcleo específico na região.

O Marcos Girão, um dos integrantes do nosso departamento médico, é presidente da SBME no Estado e conta com nosso apoio para essas ações.

Com ou sem a chancela do Ceará, ainda não há um pronunciamento oficial do clube em relação à sua participação, pretendemos fazer fóruns até 2014 ligados à área da medicina do esporte, e nossa expectativa é a melhor possível.

A cidade de Fortaleza tem uma característica de recepcionar turistas e está viabilizando novos meios para abrir as portas a mais pessoas, com um avanço na área de saúde local também.

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Benê Lima