Eduardo Fantato
Na semana passada, o fenômeno Ronaldo disse que fica entediado de assistir à uma partida de futebol inteira, que prefere ver apenas os melhores momentos.
Eis um hábito comum entre alguns torcedores, não aqueles mais fanáticos que gostam de ver detalhe por detalhe do que aconteceu no jogo, mas o hábito de um torcedor que acompanha uma partida no futebol brasileiro, cada vez mais com menos craques ou apenas com aqueles em fase final de carreira (lembrando que o termo não é pejorativo, existe muito “veterano” jogando em alto nível ou “comendo a bola”, como diriam alguns).
Essa preferência pelos melhores momentos é completamente compreensível, e então o amigo poderia pensar: “Por que iniciar o texto com o discurso de Ronaldo, o que tem de mais nessa informação?”.
Para acompanhar os melhores momentos, sem dúvida, é necessária uma edição, e hoje é possível observar uma crescente disponibilização dos gols na internet. Na Europa, o jogo já pode ser acompanhado na íntegra pela internet. No Brasil, ainda estamos engatinhando (vejam a coluna do colega Eric Beting da última segunda-feira). Recordo-me apenas de uma tentativa, há cerca de um ano, da Federação Paranaense, em fazer algo similar.
Nesse contexto de melhores momentos, tanto a edição de DVD - e mais recentemente o Youtube -, tornaram-se grandes aliados dos empresários de jogadores, atuando diretamente na demonstração das capacidades de seus agenciados para o clube interessado.
Os clubes, por sua vez, sem uma "Central de Inteligência de Jogo", que poderia, dentre outros, ter uma estrutura e equipe especializada em scouting, ou seja, uma rede de olheiros em busca de jogadores, acabam achando uma alternativa barata para trazer novos jogadores; barata no sentido de não precisar investir na busca de atletas.
Mas como diz o ditado popular: “Às vezes, o barato sai caro".
Uma coisa é o torcedor observar os melhores momentos, outra é quem contrata. Afinal, nem é preciso dizer que nenhum agente de jogador vai levar um DVD de piores momentos de um jogador. No Youtube, o máximo que acharemos são gols perdidos ou jogadas engraçadas, mas que na verdade é uma compilação de vários jogadores. Não encontramos um vídeo de apenas um atleta com essas características. E, se encontrássemos, seria algo inusitado.
O treinador, ou como é comum no futebol brasileiro, o presidente do clube (que sempre olha o mercado pela chamada oportunidade de negócio mais do que pelas carências e planejamento da equipe), devem criar mecanismos que vão além dos melhores momentos para contratar um jogador, afinal, depender do DVD editado pelo agente (vendedor) ou do Youtube para fins avaliativos não é nada confiável.
A seguir, alguns tópicos que devem ser pensados na contratação de um atleta, e com certeza, o auxílio da tecnologia é grande, sobretudo no processamento e armazenagem das informações:
• Histórico de lesões
• Histórico de transferências
• Histórico técnico-tático
• Histórico de relacionamento com técnicos
• Histórico de relacionamento em grupo
• Situação contratual
Enfim, vários são os aspectos. Não se pode ficar refém dos melhores momentos, porque senão, logo, logo, goleiro, para ser contratado, deverá fazer gols. Afinal, qual o melhor momento do futebol?
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Benê Lima