Em 2010, o Corinthians celebrará seu centenário. Em matéria do jornalista Marcelo Damato, do portalLancenet.com.br, apresenta-se a previsão de que, no próximo ano, o clube do Parque São Jorge conseguirá arrecadar R$ 200 milhões, sem contar o valor em publicidade que cabe a Ronaldo, os descontos das rendas das partidas e possíveis vendas de jogadores (um recorde para os padrões brasileiros).
“Embora o mercado esteja trabalhando em um nível bastante inferior ao que almeja o Corinthians, a proposta do clube me parece viável por conta daquilo que ele já conseguiu em 2009. Considerando-se também que, em 2010, é o centenário da agremiação e que ela será, ao que parece, a que melhor vai explorar essa data, não vejo os R$ 200 milhões como algo absurdo”, afirmou Amir Somoggi, consultor e professor de gestão de entidades esportivas e estratégias de marketing esportivo. “Em 2008, o Corinthians faturou R$ 90,7 milhões, desconsiderando a venda de jogadores. Em 2007, ele havia faturado R$ 63 milhões. A expectativa para 2009, é que o clube chegue aos R$ 130 milhões. Então, não seria de se espantar se ele chegasse aos R$ 200 milhões, em 2010”, completou.
No entanto, diante das dificuldades enfrentadas pelos clubes brasileiros para aumentarem a quantidade e o montante das suas receitas, alguns analistas do mercado acreditam que a meta corintiana extrapola a realidade.
“Acho muito difícil chegar-se a esse valor, pois apenas dois fatores diferenciam o Corinthians em 2010 daquilo que existe neste ano: o centenário e a Libertadores. Ambos estão atrelados à performance dentro de campo. Portanto, não há como garantir que se terá uma receita de R$ 200 milhões, sem que se jogue bem”, opinou Oliver Seitz, pesquisador do Grupo de Indústria do Futebol da Universidade de Liverpool, na Inglaterra, e colaborador da Universidade do Futebol. “Os possíveis aumentos de faturamento que o Corinthians terá em 2010 são em cima de contratos de patrocínio, receitas de licenciamento e estádio. Porém, levando-se em conta que o clube só ganha parte do valor do licenciamento, acredito que seja muito complicado se chegar aos R$ 200 milhões”.
Para iniciar a trajetória rumo a essa meta financeira, na última terça-feira, quando o Corinthians comemorou o seu 99º aniversário e começou a contagem regressiva para o centenário, foram lançados alguns produtos, que prometem aumentar a arrecadação da agremiação, contando, é claro, com a paixão e a empolgação da torcida corintiana com os 100 anos do clube.
Entre os produtos que o clube irá disponibilizar para os torcedores estão: o livro “Todo-Poderoso Timão” (ilustrado pelo cartunista Ziraldo, e que traz histórias em quadrinhos do Mosqueteiro, mascote do clube, voltado para as crianças), a nova camisa preta e roxa (lançada na última semana, na partida contra o Barueri), o cruzeiro do centenário (uma viagem de navio que percorrerá as praias de Santos, Ilhabela e Búzios, de 25 a 28 de fevereiro de 2010), e o livro “Corinthians – 100 anos de paixão” (que contará detalhes do clube por meio de fotografias, entrevistas e crônicas).
Além disso, houve o lançamento do minicraque de Ronaldo (uma réplica do jogador com 15 cm e que custa R$79,90) e do “Poderoso Timão on the road” (um caminhão com produtos do Corinthians que percorrerá as principais cidades por onde o time passará durante o Campeonato Brasileiro).
Apesar do cenário ser favorável para o sucesso das jogadas de marketing corintianas, principalmente, devido ao trabalho que a diretoria do clube vem desenvolvendo há bastante tempo em relação ao centenário do clube, e à torcida sabidamente apaixonada, a maneira como a população brasileira encara o futebol é um dos aspectos com os quais deve-se ter cuidado para que essa série de produtos decorrentes da comemoração dos 100 anos do clube não representem prejuízos.
“Lançar produtos novos não adianta, o que vende mesmo é camisa. Outras mercadorias atingirão pessoas que já são consumidoras de camisas. No entanto, em certo momento, essas pessoas saturam-se. O Atlético-MG e o Coritiba tiveram péssimos resultados com a criação de novos produtos em comemoração aos seus 100 anos. Historicamente, o futebol brasileiro não tem esse perfil”, contou Seitz.
Contudo, outros especialistas no mercado do futebol, preferem analisar a questão por outra ótica. “Creio que a questão da saturação está bem distante. Seria mais interessante analisarmos pelos aspectos da gestão e da competência dos projetos, o que, a meu ver, interferem muito mais no resultado”, afirmou Rafael Plastina, gerente de marketing, comercial e desenvolvimento da Informídia Pesquisas Esportivas. “Tudo o que se fizer com competência, continuidade e carinho (os três C) para o torcedor de futebol, dá certo no Brasil. Além disso, o apelo do centenário, a identidade do torcedor do Corinthians com o clube, a paixão, a presença, a participação da torcida, e a Libertadores podem constituir uma química explosiva do ponto vista positivo para a agremiação”, completou.
Conforme a matéria do Lancenet.com.br, para chegar aos R$ 200 milhões de arrecadação, além de produtos, aproximadamente, R$ 39 milhões virão da parceria do Corinthians com um grande banco nacional. Em breve, deverá ser feito o lançamento de um pacote de seguros e títulos de capitalização com a marca do clube. Para receitas tradicionais, como TV, bilheteria e patrocínios, também é previsto crescimento, parte dele impulsionado pela presença do time na Libertadores de 2010.
Contudo, Luís Paulo Rosenberg, diretor de marketing do Corinthians, alertou que esse valor é cabível tendo-se em conta uma visão otimista sobre o que acontecerá no próximo ano. “A receita do Corinthians chegará aos R$ 200 milhões, se considerarmos um cenário favorável, ou será de cerca de R$ 160 milhões, a partir de uma visão pessimista. Eu aposto que esse valor ficará entre esses dois números”, disse o dirigente, em contato com a Universidade do Futebol.
O responsável pelo marketing corintiano também deixou claro que é preciso fazer uma ponderação no que se refere às lojas Poderoso Timão. “Cada loja, em média, deve faturar R$ 500 mil. Se teremos cerca de 60 unidades, isso resulta em R$ 30 milhões de faturamento. Mas a loja não é do Corinthians. Desse total de receita, o clube ganhará algo em torno de R$ 3 milhões”, explicou.
Em relação ao valor dos ingressos citado na matéria do Lancenet.com.br, que afirma que custará R$ 100,00 uma entrada de arquibancada nos jogos do clube na Libertadores de 2010, de acordo com Andrés Sanchez, presidente da agremiação, Rosenberg disse que ainda é muito cedo para estipular esse preço.
Um aspecto que o diretor de marketing do Corinthians apontou como essencial para as expectativas otimistas em relação a 2010 é a forte ligação que a torcida corintiana possui com a equipe, mesmo que o time não tenha um bom desempenho durante o ano.
“Quaisquer que sejam os resultados, a exposição de TV do Corinthians é brutal. Além disso, nas lojas, quando perdemos cinco jogos seguidos em 2009, manteve-se o bom faturamento. O corintiano não é assim. Ele não muda o seu comportamento de acordo com o desempenho do time”, comentou Rosenberg.
Por conta de existir a possibilidade do clube do Parque São Jorge não garantir uma boa atuação 2010, mesmo porque outras equipes do país também estão reforçando os seus elencos, é interessante que o Corinthians possua um projeto bem arquitetado para que uma eliminação precoce da Libertadores, o carro-chefe de 2010, não faça com que o trabalho de anos tenha sido em vão.
“A expectativa do torcedor é que o time conquiste a Libertadores no ano do centenário. Por conta disso, o clube está investindo tão pesado na compra de jogadores de alto nível. Porém, a possibilidade do Corinthians ser eliminado dessa competição existe e, por isso, a agremiação tem que preparar uma série de iniciativas que superem as quatro linhas, que sejam maiores do que a vontade do clube de ganhar títulos”, disse Somoggi. “O futebol é trágico. O risco é inerente à atividade esportiva. Pode-se montar um projeto gigantesco, focado em um determinado título, e ele não vem, porque o futebol é imponderável. Por isso, é preciso que se esteja preparado para o fracasso, para que todo o planejamento não seja interrompido no meio do caminho”, completou.
“Uma eliminação precoce faz parte do jogo. A derrota tem que ser calculada nos projetos. Os patrocinadores e investidores devem saber que o clube pode perder. Isso tem que ser encarado naturalmente”, opinou Plastina.
Uma das apostas do Corinthians para o sucesso dentro e fora de campo, em 2010, é a presença do atacante Ronaldo na equipe. Em 2009, além de ter sido peça fundamental para a conquista do Campeonato Paulista e da Copa do Brasil, o jogador utilizou-se da sua influência no meio do marketing para agregar diversos patrocinadores ao clube.
“Com Ronaldo, o Corinthians foi o primeiro time brasileiro que quebrou um paradigma do nosso futebol, pois ele conseguiu ganhar dinheiro trazendo jogador, e não vendendo atletas. Infelizmente, é o único caso bem sucedido dentro do Brasil, mas prova que o mercado nacional está preparado para iniciativas dessa natureza. Em seis meses, de janeiro a junho deste ano, Ronaldo agregou R$ 25 milhões novos para o Corinthians. E o clube gasta bem menos do que isso para tê-lo jogando”, afirmou Somoggi, autor do artigo “Impacto comercial de Ronaldo Fenômeno no Corinthians”, publicado no portal América Economia.
Abordando a questão da vinda de jogadores consagrados como Ronaldo para o Corinthians, Adriano para o Flamengo, Fred para o Fluminense, e Vagner Love para o Palmeiras, os quais representam investimentos de altas quantias, também há divergências de opiniões entre os especialistas em mercado.
“O futebol brasileiro não está consolidado para não depender da venda de jogadores. Trazer atletas caros é muito arriscado e pode gerar sérios problemas no futuro. Está criando-se uma bolha que, quando estourar, terá consequências graves. O futebol italiano tentou a mesma coisa para se aproximar do futebol inglês e, quando a bolha estourou, vários clubes quebraram em 2001, 2002 e 2003”, alertou Seitz.
“O jogador já consagrado é uma solução mais imediata, já que ele vem minado de interesses. Ao passo que, para fazer com que surja um craque, o clube leva, em média, de cinco a seis anos. É mais seguro e barato apostar-se nas categorias de base. Porém, esses atletas podem não emplacar”, finalizou Plastina.
Portanto, ainda que o Corinthians pareça estar caminhando corretamente para alcançar os seus objetivos em 2010, tanto as condições macro do mercado quanto questões internas relativas a políticas do clube, contusão de jogadores importantes, entre outras, são riscos que o time do Parque São Jorge pode correr durante o ano do seu centenário.
Sinopse
"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."
CALOUROS DO AR FC
domingo, setembro 06, 2009
Corinthians planeja arrecadar R$ 200 milhões no ano do centenário. Será?
Especialistas em mercado analisam a possibilidade do clube paulista atingir o valor por meio de jogadas de marketing, produtos e contratos com patrocinadores
Marcelo Iglesias
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