O fator Luiz Felipe Scolari e o desempenho da seleção de Portugal sob o comando de Carlos Queirós
A equipe lusa na 'Era Scolari' fazia mais gols e os sofria menos
Naquele tempo, eu já me dedicava a estudar o jogo de futebol, suas dinâmicas, estruturas, etc. Tinha muito ainda por saber (como agora!), mas me chamava bastante a atenção o trabalho do treinador brasileiro, especialmente pela forma diferente de tratar algumas situações dentro do campo e fora dele. Na época recebi muitas críticas pelo meu texto, de leitores descontentes com a atuação de Scolari na seleção brasileira de futebol.
Pois bem, o resto da história (ao menos de 2002 para frente), todos conhecem.
Recentemente, algumas coisas voltaram a me chamar a atenção, indiretamente, sobre a sua atuação como treinador.
Fazendo uma rápida pesquisa na internet, encontrei mais de 30 menções ao seu trabalho, ou melhor, à comparação do seu trabalho na seleção de Portugal com o de seu sucessor, Carlos Queirós.
O mais incrível é que, tomando como referência os textos publicados em Portugal (em blogs, jornais, etc.), existe maior satisfação com o trabalho do atual treinador, do que com o de Scolari (!?).
Como assim???
O atual treinador da seleção portuguesa tem tido enormes dificuldades para conseguir bons resultados, correndo risco inclusive de não classificar Portugal para a Copa do Mundo Fifa de 2010. Seu aproveitamento até o oitavo jogo das Eliminatórias para a Copa da África do Sul (até o presente momento) é de 54,2% do total de pontos disputados.
Luiz Felipe Scolari teve em toda sua participação pela seleção portuguesa 63,4% de aproveitamento, o que já é melhor do que Carlos Queirós. Porém, se considerarmos apenas o desempenho nas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2006, o valor se distancia ainda mais; foi de 83,3% (muito superior ao do atual treinador de Portugal).
O principal argumento para defender que o trabalho do atual treinador de Portugal vem sendo melhor do que o de Scolari é de que agora pode ser observado na equipe portuguesa um “Modelo de Jogo” evidente, com princípios e subprincípios bem definidos, com jogadores bem distribuídos em campo, etc., etc., etc.
E fazer gols, e vencer os jogos, não vale como critério?
No jogo de futebol, especialmente no alto nível competitivo, vencer é a necessidade básica de sobrevivência. Será melhor a equipe que vencer! Será melhor o treinador que vencer!
Quando era treinada por Scolari, a seleção de Portugal, em 12 jogos pelas Eliminatórias da Copa do Mundo 2006, marcou 35 gols (média de 2,9 por partida) e sofreu apenas cinco (média de 0,4 por partida), conquistando 30 pontos. Atualmente, nas Eliminatórias da Copa de 2010, em oito jogos, a seleção portuguesa tem 10 gols marcados (média de 1,2 por partida), cinco sofridos (média de 0,6 por partida) e apenas 13 pontos conquistados.
Isso quer dizer que, como se não bastasse vencer mais e marcar mais pontos, a seleção portuguesa na “Era Scolari” também fazia mais gols e os sofria menos.
Tenho sempre acompanhado os jogos da seleção de Portugal e torço muito para que ela conquiste uma vaga para a próxima Copa. Mas realmente nas próprias estatísticas dos jogos e nos “scouts” que realizo fica difícil de entender como o trabalho atual pode ser melhor do que o do treinador anterior (que eu também analisava profundamente).
Minha impressão, interpretando o que vejo, é que com Scolari a equipe portuguesa buscava mais intensamente o cumprimento da “Lógica do Jogo”, e que hoje com Queirós, o que parece buscar, e acaba por apresentar nos seus jogos, é tornar mais sólido um “Modelo de Jogo” (consistente, bem estruturado, etc.).
Um “Modelo de Jogo” só faz sentido se for construído para cumprir a “Lógica do Jogo”!
Alguém mais insatisfeito com as minhas colocações pode até dizer: “é, mas no Chelsea ele não foi bem”. Realmente, mas mesmo assim o seu aproveitamento na equipe inglesa também foi melhor do que vem tendo a seleção portuguesa no momento atual (Scolari, no Chelsea, teve 68,3% de aproveitamento).
Por fim, Portugal, com Luiz Felipe Scolari, não só foi melhor nesse sentido (o que se reflete em seu aproveitamento em pontos e gols feitos), como também, “de lambuja”, ainda venceu duas vezes a seleção brasileira de futebol (o atual treinador jogou uma vez, e sua equipe perdeu por 6 a 2).
Precisa de mais algum argumento?!
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Benê Lima