Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

quarta-feira, setembro 16, 2009

Fair play financeiro,

seja bem-vindo

por Emerson Gonçalves

Demorou, mas Platini conseguiu, finalmente, emplacar uma velha ideia que o acompanha há tempo: o controle de gastos dos clubes europeus. Sem a menor dúvida, Florentino Peres, bilionários do leste europeu e os xeiques árabes contribuíram para a aprovação dessa medida, ao lado da crise financeira que ontem completou um ano de vida. Os efeitos da crise foram sentidos fortemente pela quase totalidade dos clubes europeus, de todos os tamanhos e países. Nesse cenário, a enxurrada de gastos promovida por Florentino chega a ser obscena e, estou certo disso, foi o grande fator motivador do voto Sim ao controle financeiro ou, mais elegante e menos ameaçador, fair play financeiro.

Basicamente, os grandes objetivos são melhorar a justiça financeira nas competições europeias e promover a sustentabilidade dos próprios clubes e do futebol. Um olhar ligeiramente mais aprofundado sobre as finanças dos clubes europeus, em especial ingleses e espanhois, revela uma situação muito preocupante.

A recém-fechada janela de verão mostrou um volume de negócios alucinante e paradoxal, uma vez que existe, ou supostamente existe uma grave crise econômica. Todavia, a crise de fato existe - e nada comprova isso melhor que os índices europeus de desemprego - e o que vimos foi a movimentação de montanhas de dinheiro de meia dúzia para meia dúzia. O grande mercado como um todo permaneceu parado ou fazendo negócios de baixo valor. Toda a agitação esteve a cargo de dois agentes: o maior foi o Real Madrid e seu novo velho presidente, buscando repetir a fórmula que consagrou sua gestão no início do - século - grandes nomes + muito marketing = grandes receitas. Receitas que, pelos números merengues, não foram suficientes para deixar o clube em boa situação financeira, uma vez que suas dívidas deixaram longe a marca do meio bilhão de euros. O outro foi o Abu Dhabi United Group (vamos usar o nome oficial e corporativo, ao invés do nome do xeique que é dono do grupo), que gastou acima de uma centena de milhões de euros para reforçar o Manchester City, mais um clube pequeno com vocação e pretensão a ser o novo Chelsea, de Roman Abramovich, meio na muda por conta de perdas pesadas e penalização pela FIFA por aliciamento de jogador.

Como dizia, longe de contradizer a crise, esses dois clubes apenas colaboraram para torná-la ainda mais evidente e realçar a necessidade de algum controle.

Para esse fim, foi criado o Painel de Controle Financeiro dos Clubes, sob a direção de Jean-Luc Dehaene (guardem esse nome), que foi primeiro-ministro da Bélgica entre 1992 e 1999 e comandará um grupo de especialistas em leis e finanças, ao qual caberá auditar os clubes europeus. Dehaene é considerado um expert em finanças e é, naturalmente, apaixonado por futebol.











“A ideia não é prejudicar os clubes, é ajudá-los. A premissa de base é que os clubes não devem gastar mais do que ganham. Os proprietários dos clubes pediram a introdução de regras e isto será uma aventura para o futebol europeu e para a UEFA” - disse Michel Platini, que também afirmou em seu discurso que essa medida é fundamental para assegurar a saúde financeira do futebol europeu a longo prazo.

A tarefa delegada ao ex-mandatário belga não será das mais fáceis, como se pode perceber pelos objetivos propostos: os clubes não poderão gastar repetidamente mais do que as receitas geradas; existirão normas sobre os gastos em salários e transferências, bem como indicadores da sustentabilidade dos níveis de dívida e os clubes serão obrigados a honrarem sempre os seus compromissos.

Essas medidas irão além do atual sistema de licenciamento de clubes da UEFA e deverão ser implementadas no decorrer dos próximos três anos. Platini e Jean-Luc pretendem estimular os investimentos de longo prazo, como a formação de atletas e a melhoria na estrutura dos clubes, em contraposição aos gastos especulativos de curto prazo. E, sobretudo, não gastar mais do que ganham. O que toda dona-de-casa sensata sabe e pratica.

Vivemos um momento de reordenamento do futebol mundial - quando digo mundial ainda significa europeu, mas o que é europeu hoje é mundial amanhã; não por colonialismo, mas por força das condições de mercado. Blatter está emplacando sua proposta do 6+5 (exigência de seis atletas “nacionais” em cada time). A Premier League e a Football Association deverão implementar proposta estipula um mínimo de oito jogadores formados na base, dentro de um elenco de 25 atletas. Na prática, essa medida limitará a dezessete o número de estrangeiros nos times. Parece muito, mas hoje, por exemplo, o Arsenal tem mais de vinte atletas de outros países em seu elenco. Simultaneamente com a UEFA, a Premier League também será mais rígida com o controle financeiro de seus clubes. Também aqui, a grande meta é a sustentabilidade financeira dos clubes.

A bola está em jogo. Resta aguardar pelo placar e, no que nos diz respeito, principalmente sobre a expansão para outros campos ou não.

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Benê Lima