Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

sábado, março 12, 2011

Augusto Moura de Oliveira, treinador da seleção feminina do Haiti

Pós-graduado pela UFV fala sobre experiência naquele país e da sua atuação em escolinhas de futebol
Bruno Camarão

O passado recente explica a desestruturação geral do Haiti, que conviveu durante anos em um cenário político atribulado. Em 2010, o país foi devastado por um terremoto de sete graus na escala Richter, que matou mais de 200 mil pessoas. E somente na força divina e no amparo proveniente da família e dos amigos restantes que muitas pessoas conseguiram se reerguer.

Vinte e três mulheres, representantes da seleção feminina de futebol haitiana, entretanto, viram o Brasil também como um porto seguro. E o esporte passou a integrar a remontagem sentimental da mais pobre das nações americanas.

Por intermédio de uma parceria entre a federação de futebol daquele país, o Ministério da Defesa, a Marinha do Brasil, a ONG Viva Rio e a Universidade Federal de Viçosa, viabilizou-se a preparação da equipe para a Copa Ouro, torneio eliminatório para a Copa Mundo que acontece este ano, na Alemanha.

“Foram três meses de um aprendizado fantástico, nutrido por inúmeras situações dentro e fora de campo, em que eu e toda comissão técnica nos tornávamos seres humanos melhores a cada momento”, definiu Augusto Moura de Oliveira, escolhido como treinador daquele time.

Ele conviveu com atletas como Betty Sanoun, que aos 25 anos quase perdeu a vida por causa do forte tremor – a meio-campista permaneceu soterrada por um dia inteiro após o desabamento de sua residência, na capital Porto Príncipe. Foram mais de dois meses de preparação envolvendo todas as avaliações físicas, laboratoriais, jogos amistosos e escolha das vinte mulheres que viajariam ao México para representar o Haiti na competição internacional.

“Muitos foram os aprendizados, pois pretendíamos respeitar as características do futebol haitiano; porém, implantarmos um estilo brasileiro de atuar dentro de campo, com qualidade na posse de bola, variações táticas e mais liberdade nas ações técnico-táticas individuais e coletivas”, revelou Augusto, que encontrou um pouco de resistência e dificuldade para implementar suas ideias.

Em termos práticos, o coordenador técnico da escola de futebol Fogo Maringá enalteceu a importância de aplicar o treinamento de forma globalizada, com o intuito de otimizar a questão técnica dos gestos motores das atletas. Princípios de ataque e defesa, em jogos reduzidos, foram delineados por Augusto e sua comissão, formada por: Alexandre Lemos (assistente técnico), Jorge Augusto (preparador físico), Luiz Carlos (preparador de goleiros) e Paulinho (Massagista).

Êxitos em termos de resultado à parte – o Haiti acabou não se classificando para o Mundial feminino –, a experiência de Augusto diante de um cenário histórico suplantou qualquer outro fator. Nesta entrevista concedida à Universidade do Futebol, ele fala mais sobre sua atuação com as haitianas e aborda ainda de maneira profunda o processo de formação do jogador brasileiro, a partir das ideias do livro Escola de Futebol: dicas administrativas e pedagógicas para alcançar o sucesso, de sua autoria.



 
Seleção feminina de futebol do Haiti: considerações acerca dos treinamentos técnico e tático 
 

 

Universidade do Futebol – Qual a sua trajetória acadêmica e como ocorreu o ingresso no ambiente do futebol?

Augusto Moura de Oliveira –
 Eu me formei em Educação Física pelo Centro Universitário de Maringá, em 2005. Após isso, concluí o curso de pós- graduação em Futebol na Universidade Federal de Viçosa, em 2007. No primeiro ano de faculdade tive a oportunidade de ingressar como estagiário no Projeto Revelação de uma entidade filantrópica chamada Lar Escola de Criança de Maringá. Tal projeto objetivava suprir o tempo ocioso dos jovens com um programa de iniciação esportiva ao futebol de campo.

De lá para cá foram inúmeras participações em congressos, passagem por diversos clubes de formação, criação de um simpósio de futebol e recentemente o trabalho como treinador da seleção feminina de futebol do Haiti.

Universidade do Futebol – 
Fale um pouco sobre os obstáculos estruturais e sociais que o Haiti enfrenta, bem como os motivos da cultura motora não ter sido desenvolvida a contento com os atletas.

Augusto Moura de Oliveira – O passado recente nos explica a desestruturação do país de maneira geral, porém, há muitos anos, o Haiti enfrenta problemas políticos que afetam as demais esferas da nação. No âmbito esportivo não seria diferente, embora o futebol seja um dos esportes favoritos lá. As condições das estruturas físicas estão bem longe de serem apropriadas para desenvolver projetos esportivos e sociais com intuito de preencher o contra-turno dos jovens.

A nação encontra-se com escassez de infraestrutura básicas, como saneamento, educação, energia elétrica, asfalto, dentre outros que acabam por dificultar o avanço no que diz respeito a prática desportiva.




Haiti pós-terremoto: falta de estrutura, campos de futebol usados como abrigo e abalo emocional das atletas 

 

Universidade do Futebol – Como foi a experiência de comandar a seleção feminina do Haiti na preparação para a Copa Ouro? Detectou muitas especificidades em relação aos projetos desenvolvidos no Brasil?

Augusto Moura de Oliveira – É impar o momento de estar à frente de uma seleção nacional. Foram três meses de um aprendizado fantástico, nutrido por inúmeras situações dentro e fora de campo, em que eu e toda comissão técnica nos tornávamos seres humanos melhores a cada momento.

Através de uma parceria entre Ministério da Defesa, Marinha do Brasil, ONG Viva Rio e Universidade Federal de Viçosa, viabilizou-se a vinda da seleção haitiana de futebol feminino ao Brasil objetivando a preparação para a Copa Ouro, eliminatórias da Copa Mundo que acontece este ano na Alemanha.

Diante disso, recebi uma ligação do coordenador do curso de pós- graduação em Futebol da Universidade Federal de Viçosa, João Bouzas Marins. Durante o contato, ele resumiu o projeto e foi direto ao assunto ao me questionar se eu aceitaria ser o treinador dessa seleção feminina.

De fato, fiquei surpreso com o convite, mas ao mesmo tempo muito motivado pelo pouco tempo de trabalho e pela grandeza da missão.

Desde então, passaram-se duas semanas e eu já estava em Viçosa reunido com os professores doutores João Bouzas, Próspero Paoli e José Muanis para discutir o desenvolvimento do projeto e suas etapas de acontecimento.

Foram 70 dias de preparação envolvendo todas as avaliações físicas, laboratoriais, jogos amistosos e seleção final das vinte atletas que viajariam ao México para representar o Haiti numa competição internacional.

Muitos foram os aprendizados, pois pretendíamos respeitar as características do futebol haitiano; porém, implantarmos um estilo brasileiro de atuar dentro de campo, com qualidade na posse de bola, variações táticas e mais liberdade nas ações técnico-táticas individuais e coletivas.

Para implantarmos esse conteúdo encontramos um pouco de resistência e dificuldade, todavia fomos nos utilizando de jogos em espaço reduzido, pequenos e médios jogos com regras adaptadas a fim de inserir os conteúdos planejados e atingirmos nossos objetivos.

 

Entrevista com João Carlos Bouzas, professor da UFV 




Da surpresa do convite à motivação por causa da grandeza da missão: Augusto assumiu a seleção feminina do Haiti e participou de importante processo histórico 

 

Universidade do Futebol – Como é estruturado o futebol – de maneira geral – naquele país? As mulheres possuem suporte, ou é uma realidade ainda bem precária? E a metodologia de trabalho definida para o treinamento da equipe?

Augusto Moura de Oliveira – No Brasil, já estamos numa escala maior graças ao trabalho de profissionais dedicados ao futebol feminino, contudo vale destacar que o patamar que atingimos é graças a pessoas como Renê Simões, Jorge Barcelos e Kleiton Lima. 

Este último merece destaque especial pela contribuição à modalidade em nosso país estando à frente do Santos por 13 anos e por comandar os triunfos recentes da seleção principal de futebol feminino no Brasil.

Resolvi citá-lo pelo carinho com que nos recebeu para uma partida amistosa na Granja Comary e, principalmente, pelo respeito e atenção de toda sua comissão técnica e atletas. Após esse jogo, conversamos por longos minutos sobre o panorama geral do futebol feminino no Brasil e no Haiti.

É sabido dos obstáculos que se enfrentam por aqui para fazer da modalidade cada dia mais profissional. Diante disso, guardada as devidas proporções da comparação.

No Haiti, as condições são inferiores, já que os campos de futebol foram transformados em abrigos e alojamentos para centenas de famílias após o terremoto.

Existe uma liga feminina de futebol, porém um pouco longe de ser profissional e tampouco estruturada de forma que garanta às mulheres exercer apenas a profissão de atletas de futebol no país. 

Mas vale lembrar que o Haiti passa por um forte processo de reconstrução, no qual a ONG Viva Rio e a Universidade Federal de Viçosa estão somando forças com intuito de fornecer investimento e material humano para estabelecer e estruturar a prática esportiva desde a mais tenra idade, objetivando criar uma cultura esportiva e fornecer estímulos necessários para que os jovens desenvolvam suas potencialidades.

Sobre a metodologia de trabalho, foi de suma importância nossa decisão quanto à aplicação do treinamento de forma globalizada, a fim de otimizar a questão técnica dos gestos motores e deixar claro que um repertório motor desenvolvido de forma adequada facilita a transferência para o elemento tático do jogo, visto que o maior repertório técnico influencia diretamente na tomada de decisão.

Diante dessa perspectiva, utilizamos exercícios mirando não apenas a correção do movimento e refinamento do gesto, mas também com a intenção de desenvolver os princípios de ataque e defesa durante as sessões de treino. 

Para tanto, criamos jogos para execução das ações táticas específicas e situacionais com a intenção de fornecer e nutrir o repertório motor e cognitivo das atletas a fim de equilibrar o desenvolvimento ofensivo e defensivo da equipe.

Universidade do Futebol – Em seu livro “Escolas de Futebol: dicas administrativas e pedagógicas para alcançar o sucesso, você elenca características específicas para a montagem de um projeto desse tipo. Poderia explicar um pouco sobre o processo de confecção da obra e quais são os principais temas abordados?

Augusto Moura de Oliveira – Foi resultado de ampla pesquisa e alguns anos de trabalho como gestor e consultor de escolas de futebol.

A obra apresenta dicas e modelos de intervenção resumidos de forma sucinta, rápida e criativa. O conteúdo busca orientar professores e gestores de escolas desportivas para que as ações alcancem sucesso e minimizem erros durante a temporada.

Sendo assim, podemos elencar diversas dicas e sugestões de atividades práticas para otimizar o processo de intervenção dos profissionais que atuam nas escolas de futebol

 




Confira mais informações sobre a obra

 

Universidade do Futebol – De que forma são reconhecidos os líderes individuais entre as crianças e de que forma deve ser trabalhada a liderança construtiva pelos professores, coordenadores e técnicos?

Augusto Moura de Oliveira – Ouso afirmar que professores de futebol atentos ao processo de ensino-aprendizagem tornam-se capazes de identificar com certa facilidade as características individuais dos alunos que compõem as mais diversas turmas de uma entidade desportiva.

Para tanto, detectar vontades, desejos, vaidades, carências e necessidades faz parte de uma gama de habilidades que os professores desenvolvem ao trabalhar diariamente com jovens futebolistas. 

A liderança é uma das habilidades percebidas através desse contato. No entanto, o aluno apresenta características operacionais, criatividade, facilidade de assimilação do conteúdo ministrado, motivação, capacidade de incentivar os demais integrantes e externar sua opiniões com naturalidade.

Diante disso, cabe ao professor desenvolver atividades que potencializem esses adjetivos, bem como dinâmicas que requerem expressão individual dentro do grupo.

Universidade do Futebol – Walter Benjamin diz que o grande equívoco em relação aos brinquedos fabricados é o fato de que estes são sempre pensados como produções para as crianças e não como criações das crianças. Os brinquedos, atualmente industrializados e produzidos em séries, limitam a criatividade das crianças, mesmo quando estas não são totalmente servis a eles?

Augusto Moura de Oliveira – Os brinquedos infantis evoluíram muito nos últimos anos, pois existem preocupações no tocante ao tipo de inteligência que o mesmo desenvolverá e também sobre as mais variadas faixas etárias a que se destinam tais objetos.

Para tanto, é função dos professores e instrutores utilizarem-se da criação e recriação de formas e meios de se desenvolver habilidades e inteligências que servirão de premissas para aprendizagens futuras.

Diante dessa perspectiva, a criança deverá sempre dominar e manipular o brinquedo, e não o contrário.

Universidade do Futebol – O jogo de futebol não é feito apenas de fundamentos, movimentos técnicos, sendo a relação com a bola apenas uma das competências essências dessa prática. Como desenvolver esses mesmos jogos facilitando a aprendizagem da estruturação do espaço e da comunicação na ação?

Augusto Moura de Oliveira – Não podemos pensar no processo de ensino- aprendizagem do futebol de campo se fragmentarmos as ações técnico- táticas. O todo deve prevalecer também no processo de ensino.

No entanto, a redução dos espaços, a adaptação das regras e a criação de jogos pré-desportivos são de suma importância para que se desenvolva um ambiente de aprendizagem satisfatório.

Os professores devem planejar vossas aulas com o devido cuidado, respeitando os aspectos biológicos, fisiológicos e motores dos aprendizes.

Hoje em dia a literatura se encontra vasta no sentido de ofertar conhecimento aos estudantes e profissionais de educação física que atuam nas escolas de futebol.
 


A criança e a iniciação esportiva

 

Universidade do Futebol – O fato de as crianças não brincarem mais tanto de futebol, desenvolvendo essa atividade majoritariamente em escolinhas ao comando de um professor muitas vezes tecnicista, pode acarretar em uma perda da identidade brasileira ao longo do tempo?

Augusto Moura de Oliveira – A pergunta é pertinente ao extremo, haja vista o número de intervenções práticas ministradas por instrutores de futebol que apenas reproduzem o que lhes foi ensinado num passado não tão distante.

Sabe-se no mundo inteiro que o futebol brasileiro é conhecido e reconhecido pelo talento individual, pela ousadia com a posse da bola, pelos dribles e tabelas que tanto encantam e premiam nossos craques pelo mundo afora.

De fato, o cenário atual preocupa, mas cabe, sim, aos profissionais de educação física fazer do ambiente responsável pelo ensino do futebol uma ferramenta capaz de suprir a necessidade de movimento das crianças e, principalmente, ofertar estímulos motores e cognitivos satisfatórios.

Uma abordagem prática deve ser baseada no conhecimento afetivo, cognitvo e motor que o jovem já possui. Entretanto, o lúdico deve prevalecer sempre no planejamento das sessões de treino. O jovem futebolista deve ser incentivado a brincar de jogar futebol dentro do ambiente formal.

Logo, tomar nota dos tipos de brincadeiras que as crianças mais gostam e participam em ambientes fora da escola de futebol se faz necessário para que os treinos de futebol atinjam seus objetivos e mantenham os praticantes envolvidos por inteiro nas atividades.

É igualmente importante sublinhar que o futebol brasileiro estará sujeito à perda da identidade apenas se os profissionais não qualificados forem maioria no nosso país. Porém, isso não me preocupa, pois existem diversas instituições de ensino formando e capacitando profissionais competentes para trabalharem com futebol – e o mais importante é que clubes de formação e escolas de futebol oportunizem a aplicação desse conhecimento.

Universidade do Futebol – Quais as semelhanças e diferenças você consegue identificar entre uma pelada e um jogo oficial? O bom peladeiro será necessariamente um bom jogador do “esporte futebol”?

Augusto Moura de Oliveira – Uma pelada de futebol apresenta vertentes que merecem atenção quando pensamos em liberdade, movimentos espontâneos, improvisação, interação e disseminação da cultura esportiva. 

Numa pelada, os participantes possuem as mais diversas idades, capacidades motoras bem ou mal desenvolvidas, biótipos propícios ou não, intenções particulares com aquela prática e, principalmente, aquela sensação que se pode realizar jogadas geniais como os grandes jogadores.

Já uma partida oficial se encaixa nas mais diversas formas que o futebol se apresenta, seja como espetáculo, negócio ou rendimento esportivo. 

Podemos detectar as regras sendo aplicadas, a mídia cobrindo o espetáculo e transmitindo para milhões de pessoas em todo o mundo e todos os demais detalhes percebidos somente por quem já viu alguma vez na vida uma partida oficial dentro de um estádio de futebol.

Seria rigidez exacerbada afirmar que um bom peladeiro não pode se tornar um ótimo jogador de futebol, logo, um bom peladeiro que apresente pré-requisitos interessantes poderá, sim, ser um jogador de futebol que atenda às necessidades físicas, técnicas e táticas de determinados clubes e treinadores.



 

Universidade do Futebol – Como você vê, dentro do âmbito escolar e das próprias escolinhas de futebol, a possibilidade de instrumentalizar o futebol para integrar novos conhecimentos?

Augusto Moura de Oliveira – Muitas são as opções de agregar valor ao processo de ensino- aprendizagem do futebol dentro e fora das escolas de futebol. Ações inovadoras servem de ferramenta aos professores das escolas de iniciação e especialização esportiva para que atinjam níveis maiores de desenvolvimento global.

Mais uma vez volto a frisar a importância de se possuir professores motivados e interessados em fazer dessa prática esportiva uma excelente oportunidade de transmissão de conhecimento, onde a geração de discussões sobre os mais variados temas, ou seja, uma simples palestra com profissionais da área da saúde, políticos, empresários, policiais, dentre outros, pode fornecer estímulos a fim de contribuir com a formação de indivíduos mais críticos e possuidores de conhecimento horizontal.

Universidade do Futebol – Para formar um jogador de futebol, não basta apenas oferecer a estrutura física adequada, mas é preciso investir em preparação motora e psicológica, além de promover uma prática orientada e planejada do esporte desde a infância. No Brasil, você consegue detectar projetos integrais consolidados de escolas de futebol?

Augusto Moura de Oliveira – Um pouco longe do ideal, mas no Brasil já se pode detectar instituições completamente preocupadas com a execução completa do processo de preparação de jovens futebolistas.

De fato, uma estrutura física adequada, profissionais capacitados, equipe multidisciplinar, saúde financeira, planejamento estratégico e plano de cargo e salário devem reger a interação desse organograma com intuito de qualificar ainda mais o mecanismo de formação de jogadores no Brasil.

Sabemos que a partir do momento que um garoto ou uma garota sai de casa e passa a morar em alojamentos dos clubes de formação, a responsabilidade pelo processo de educação desses indivíduos será função do clube, pois este terá contato diário com os atletas durante anos.

Posso citar o Clube Atlético Paranaense, o Cruzeiro, o Atlético Mineiro e o Coritiba como instituições que ofertam suporte total aos garotos de suas categorias de base. Ouso elencar esses clubes simplesmente por conhecer tanto a estrutura física quanto os profissionais que lá trabalham.

Contudo, é louvável mencionar que os citados acima também possuem planejamento para carreiras de profissionais de educação física, haja vista o número de anos que os mesmos atuam dentro dos clubes e também aevolução gradativa dentro do organograma.




Alguns clubes realizam um trabalho de base estruturado e pautado na contratação de profissionais qualificados: é o caso do Atlético-PR, com suas Escolas Furacão

 

Universidade do Futebol – Como você avalia o processo de detecção e desenvolvimento de talento do jogador de futebol no Brasil? Os grandes clubes formadores sabem exatamente que jogador estão procurando para fazer parte desse contexto?

Augusto Moura de Oliveira – O processo de diagnóstico, seleção e promoção dos jovens talentosos no Brasil acontece diariamente nos mais diversos locais onde se pratica futebol. Entretanto, muitos clubes já desenvolveram métodos eficazes de avaliar e minimizar erros durante a seleção e detecção desses talentos.

Embora exista essa preocupação, muitos talentos não conseguem êxito na carreira de jogador de futebol. Isso se deve às inúmeras variáveis que permeiam o fenômeno social no qual se encaixa a modalidade futebol.

Os valores que se pode atingir com compra e venda de jogadores de futebol no Brasil e no mundo faz com que clubes formadores, empresários, dirigentes e pais queimem etapas, alterem comportamento e se esqueçam do processo educacional.

Evidente que clubes formadores sabem o que procuram, entretanto, os meios que usam para alcançar objetivos finais é o que torna o processo preocupante. Estamos cansados de ver em programas de televisão, jornais e internet o número de empresários e agentes que atuam no Brasil e todos se mostram sabedores de qual é o melhor caminho para os jovens.

Os agentes e empresários são parte do futebol, sim. Na grande maioria das vezes são os maiores parceiros dos clubes na captação e indicação de jogadores. Esse fato explica a importância desses profissionais.

Logo, em nosso país, a oferta é, sim, muito maior que a procura. Tal panorama nos faz refletir sobre como devemos lidar com as perspectivas daqueles que não farão parte desse seleto grupo, ou seja, atletas de futebol profissional e que tenham na profissão um retorno e satisfação pessoal e profissional.




Para Augusto, clubes formadores sabem o que procuram, mas alguns meios usados para alcançar seus objetivos tornam o processo preocupante 

 

Universidade do Futebol – Além disso, será que os processos de formação estão bem organizados e estruturados, com conteúdos bem definidos para serem desenvolvidos, com as equipes tendo claros os objetivos finais do processo de formação?

Augusto Moura de Oliveira – É nítida a presença de mais cursos que debatem e abordam temas relacionados ao processo de formação de jovens jogadores no Brasil. Esses eventos ganharam força nos últimos anos.

O meio acadêmico tem alcançado cada vez mais destaque no âmbito da formação de jogadores, ao passo que instituições de ensino estão formatando parcerias com clubes formadores objetivando solidificar o processo.

Para tanto, percebe-se que os profissionais que trabalham nesses clubes formadores e que participam de congressos e simpósios tornam público os meios e métodos que se aplicam no cotidiano do clube.

Diante disso, fica mais acessível para os demais profissionais tomar conhecimento da estruturação e organização dos conteúdos multidisciplinares implantados nos clubes formadores.

Universidade do Futebol – Se tratada de forma correta, a especialização esportiva ajuda no desenvolvimento das crianças nos aspectos social (relações com outras pessoas e com o mundo), filosófico (compreensão e questionamento), biológico (conhecimento e utilização do corpo), e intelectual (desenvolvimento cognitivo)? O que pensa sobre esse tema, especificamente?

Augusto Moura de Oliveira – Esse período do treinamento desportivo deve estar pautado cientificamente para que não se queime etapas; logo, o domínio das técnicas e o conhecimento das fases sensíveis dos jovens facilitarão o alcance de metas.

É igualmente importante dizer que o processo de iniciação esportiva deve estar muito bem desenvolvido para que a especialização faça parte do macrociclo de treinamento.

A literatura nos mostra o quanto um desenvolvimento do processo de iniciação esportiva se apresenta como necessário para que se submeta os jovens à especialização esportiva.

Mais especificamente, as esferas biológicas, cognitivas, sociais e filosóficas são desenvolvidas a contento quando se aplicam de maneira correta os conteúdos, nas mais diversas faixas etárias.

Como dito anteriormente e defendido por muitos autores nacionais, os jovens que estão inseridos no processo de iniciação e especialização esportiva possuem altas chances de se tornarem adultos saudáveis com hábitos e estilo de vida ativo. Entretanto, apenas praticar esportes, ou seja, a prática pela prática, pode não ser tão eficaz quanto entender e saber o porquê se pratica determinada modalidade e quais suas nuances.

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Benê Lima