Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

quarta-feira, março 30, 2011

Fábio Porto, gerente de marketing da Portuguesa

Especialista aborda peculiaridade das suas ações no clube e relação institucional com base da torcida
Bruno Camarão

Junto ao seu nome, Fábio Porto já carrega uma referência ao território lusitano. De família, também há a relação com a nação mais ocidental do continente europeu. Bravio – e com uma pitada de sorte –, delineou sua trajetória profissional até desembarcar no clube da Zona Norte paulistana. Ele é o responsável pela gerência de marketing da Associação Portuguesa de Desportos, em um departamento que atua integrado à comunicação social, área na qual é formado.

O rumo, entretanto, poderia ter como destino final o setor automobilístico alemão – Fábio trabalhou no serviço financeiro da Volkswagen. Um pouco insatisfeito com sua função dentro da empresa e atento ao crescimento da área de marketing esportivo no Brasil, ele se inscreveu, em 2006, na pós-graduação das Faculdades Trevisan.

De maneira simultânea, um grande amigo dele, Alexandre Castro, que estava no marketing rubro-verde, fez um convite para Fábio ajudá-lo, sem obrigação, também sem remuneração, como um diretor.

“No dia em que cheguei ao clube, soube que foi aberta uma vaga para o marketing e decidi arriscar. A pós-graduação foi antecipada e, em uma semana, iniciei o novo trabalho e meus estudos”, revelou Fábio, nesta entrevista à Universidade do Futebol.

A estrutura era bem básica, realizada pelos diretores abnegados, que doavam seu tempo da maneira como dava. Hoje, o departamento cresceu e está com três profissionais, todos remunerados, em um lugar em que todos sabem das dificuldades financeiras e da necessidade de mostrar resultados para crescer.

Torcedor da Lusa, Fábio frequenta o charmoso Canindé. Quando não vai a trabalho, faz questão de pagar o ingresso e manter estabelecida sua relação apaixonada pela agremiação, algo que vem desde seu avô.

“Hoje, somos obrigados a trabalhar a imagem institucional: ‘a Portuguesa’. Temos um problema sério com ídolos, algo notório, e tentamos fazer campanhas com alguns jogadores, mas na semana seguinte estes saem e temos de reformular tudo”, explicou Fábio, que desenvolve com sua equipe o lançamento de um projeto de sócio-torcedor, a ser realizado em três etapas.

A primeira usou a força da Lusa na internet, efetuando o cadastro prévio de torcedores no renovadosite oficial – que se tornou um portal, em uma busca de agregar todas as frentes de informação; a segunda, ainda em segredo, passa pelo novo uniforme três, xodó dos torcedores; por fim, a ação final com os "fabulosos" fãs.

“Sócio-torcedor não é aumento de base, e sim fidelização. Vemos uma média histórica no Brasil de sócio-torcedor representando metade do público no estádio. Se não fizermos um grande planejamento, e ficarmos na média nacional, teremos pouca gente, o que não é nossa intenção”, argumentou.

Entre outros temas, Fábio falou sobre as peculiaridades das ações de marketing da Portuguesa, os parâmetros usados para mensuração de marca, o que pensa sobre licenciamento de produtos e gestão esportiva e de que forma o estádio lusitano ganha força no cenário local, beneficiando o clube.



 

Universidade do Futebol – Como se dá a integração no departamento de marketing e comunicação da Portuguesa e quais são as suas funções básicas? 

Fábio Porto – Ao contrário das empresas, nos clubes, primeiro surgiu a necessidade de uma assessoria de imprensa, para atendimento da torcida, que evoluiu em alguns lugares para os departamentos de comunicação e marketing. Aqui, atuamos na mesma sala, em um processo que é e deve ser integrado.

Hoje, o marketing e as comunicações estão em pé de igualdade no clube em termos de importância, e trabalhamos com sinergia total: todos nossos projetos são dependentes uns dos outros.

Universidade do Futebol – Quais são as peculiaridades de um trabalho desenvolvido dentro da Portuguesa, um clube que passa a impressão de ser muito querido, tanto pela comunidade associada, quanto pelos rivais, na cidade?

Fábio Porto – Creio que deve haver muitas semelhanças, a não ser o grau de profissionalização em cada local. Na Portuguesa, por ser uma estrutura enxuta, não encontramos tantas burocracias internas, o que é muito bom. Tenho autonomia e um contato direto com o vice-presidente de marketing e o presidente, o que facilita a evolução do trabalho.

Como é um mercado muito novo o do marketing esportivo, todos estamos aprendendo ainda, tanto os clubes, quanto as empresas que estão investindo. A experiência ajudará saber o que é viável e o que não é, quem tem credibilidade e quem não tem.

Eu costumo dizer que é muito mais parecido com uma empresa do que as pessoas imaginam. A diferença estratégica é o prazo de validade: em uma empresa, seu chefe pode mudar ou amanhã, ou daqui a dez anos; no clube, as pessoas que ocupam a parte política têm um prazo de validade específico, que pode se estender ou não.

A estrutura profissional é importante para conferir uma linha de trabalho ao departamento do clube e as coisas não mudarem 180 graus a cada três anos (referência ao tempo de mandato).

Universidade do Futebol – Na prospecção junto ao mercado, quais os parâmetros usados pela Portuguesa na mensuração do valor da sua marca?

Fábio Porto – Temos relatórios da Informídia que efetuam esse diagnóstico de exposição de mídia, um trabalho extremamente bem feito. Mas se trata de uma parte, valorosa, é verdade, do que representa. É uma comparação de mídia: o quanto uma empresa tem de pagar para ter a mesma exposição que o clube está dando. E há toda a outra parte intangível, que entra naquele valor subjetivo, criado na cabeça de cada um, como uma marca personalizada.

Temos de saber usar as armas que nós temos. Se não há uma possibilidade de exposição midiática como os outros, temos como nos relacionar e comercializar nosso produto de maneira diferenciada. O perfil do nosso torcedor é diferente – não é tão povo, é um público mais A, B e C, com donos de empresas.

Não adianta vender uma exposição como a do Corinthians, pois eu nunca vou conseguir entregar. O clube é um meio, e não o fim. Para o torcedor e para mim que estou aqui, é o fim; mas não para a empresa, que tem de aprender como lidar com o parceiro e desenvolver uma estratégia mais racional de negócio. Não basta colocar a marca na camisa e achar que aquilo é o suficiente.

Há empresas e empresas e cada qual tem seu planejamento estratégico. Para algumas funciona a exposição pontual; para outras, não. Todos estamos aprendendo com isso ainda e é necessário tempo. Certo é que ninguém recusa dinheiro, nem empresa, nem clube.



Quando Fábio assumiu departamento de marketing, clube tinha apenas sete contratos de licenciamento assinados; hoje, são mais de 30

 

Universidade do Futebol – A relação empresa x clube, a partir de exposições pontuais de patrocínio, possui uma estratégia por parte da primeira. Para a agremiação, no caso, qual é a representatividade em médio e longo prazo? Torcedores mais tradicionais já aceitam essa nova realidade de mercado?

Fábio Porto – Ano passado, a Portuguesa conseguiu trabalhar com todas as cotas de seu uniforme e tive uma reação surpreendente em relação à torcida, que entendeu bem o momento do clube, a necessidade de buscar parceiros – lógico que alguns foram mais resistentes.

Entendo que é importante a questão da “lealtação”, ou seja, tentamos evitar na camisa vermelha e verde da Portuguesa colocar mais cores. Por mais que esteja com marcas, não ficará tão poluído visualmente. E essa postura existe desde sempre no futebol.

Uniformes de clubes do interior parecem anúncios de jornal. No Campeonato Francês você vê a mesma coisa. Tenho uma camisa de um clube da Finlândia que é até um absurdo a quantidade de patrocinadores exposta. Mas é uma saída.

O clube sempre prefere fechar parcerias maiores, tanto pela garantia de uma verba fixa, quanto pela questão logística: até o nome e a marca daquele parceiro estar na camisa, em campo, há todo um processo de confecção (necessidade de buscar outro fornecedor, aprovação entre as partes, etc.). E muitas aberrações são visualizadas por conta disso.

Universidade do Futebol – É provável que esse cenário seja mantido pelos próximos anos?

Fábio Porto – É bem provável, eu acredito. Pelo menos por um tempo, enquanto as empresas estão sentindo esse retorno. As agências preferem planos mais longos, e também tentam dialogar, mas as verbas finais são das empresas. Para nós, é sempre melhor em longo prazo. Mas se tiver em curto, iremos fazer.

Não vejo um movimento de torcida no sentido de reprovação da marca pelo fato de ela ter ficado em um jogo só, por exemplo. Mas não fixa a ideia, isso é fato. O clube não está ligado a uma marca como estamos com o Banif.

O conhecimento de mercado que ele tem, grande parte, foi pela Portuguesa. Se não tivesse patrocinado a Portuguesa durante tanto tempo, as pessoas não saberiam que é um banco, que é português, etc. Todos precisam acreditar nesta relação lá no começo, porque é um mercado que ainda está “verde”.

Hoje temos uma agência do Banif dentro do Canindé. Além disso, eles têm camarote, oferecem cartão de crédito personalizado, um gerente que atende somente ao clube, etc. A relação se estendeu e a marca no uniforme acaba sendo apenas um detalhe. Pode chegar uma hora em que isso se estagna, é verdade.



 

Universidade do Futebol – O público em geral consegue captar toda aquela informação presente em formato de publicidade e propagada, seja nas camisas dos dois clubes em ação, seja nas demais mídias ao redor do campo?

Fábio Porto – Há uma ligação mais subjetiva do que racional. A pessoa assiste ao jogo e não fica anotando quantas e quais marcas estão presentes. É algo mais visual e de costume. O mesmo vale para as placas de publicidade colocadas nas laterais do campo.

A relação de consumo disso com o futebol é diferente do que as empresas têm em outros lugares, onde é mais racional. E a parte emocional muitas vezes não é explícita, reverberada. O vínculo emocional com a marca é que é mais importante.

Se você vai a um restaurante, é mal atendido, pega fila, come mal, etc., você nunca mais volta àquele estabelecimento. No futebol, o torcedor toma chuva, apanha da polícia, não tem transporte, banheiro decente, boa comida, um lugar determinado, mas não muda de time. Ele pode até parar de frequentar o estádio, mas não de consumir. E as empresas buscam pegar esse gancho que o esporte tem com seu fã.

Quando você lembra do gol do Ronaldo (o primeiro pelo Corinthians, no seu último retorno à atividade), por mais que ela não saiba que está o “Go Visa” na camisa, quando ela revir a imagem, ela saberá do que se trata. Aquilo ficou marcado.

E é a Visa, uma das maiores empresas do mundo, fazendo pontual. Que escolhe um jogo específico do Corinthians com o Ronaldo, do Santos com o Robinho, e do Ronaldinho com o Flamengo. O problema não é de verba, mas de estratégia. E se não tivesse dado certo para os anseios próprios, ela não teria repetido a ação.

Universidade do Futebol – A Brahma, por exemplo, não está exposta no uniforme da Portuguesa. Como se dá a relação da empresa com o clube e a ativação dessa marca?

Fábio Porto – O contrato com a Ambev não contempla isso, mas eles fazem uma ativação excelente. A Brahma tem uma relação estratégica com o futebol no Brasil, ainda mais em período prévio de Copa do Mundo. Temos “n” escolas de idioma expostas em diversos uniformes, o que não deixa de ser saudável.

Sobre a Ambev, ela desenvolveu uma carreta, personalizou 10 bares e 10 padarias, possui materiais específicos para esses estabelecimentos com a marca da Portuguesa, etc. Coisas que eu não vi sendo feitas em outros clubes. E se fosse, iria virar matéria de Jornal Nacional.

Essa capilaridade não tem tanto a ver como mídia, é mais comercial. Mas os relatórios demonstram uma boa exposição da Brahma em backdrops e outras mídias, até porque bebida e tabaco não podem estar em camisas de futebol.

Há empresas que quando aparecem não são para brincar. E a Ambev fez isso de forma espetacular com os clubes. É algo em longo prazo, desde o patrocínio pessoal com o Ronaldo, quando ele tinha seus 17 anos, que segue até hoje.

Universidade do Futebol – Por ser um mercado com perfil de exportação de atletas, as ações de marketing realizadas no Brasil têm peculiaridades em relação ao que é desenvolvido em outros países com características de importadores. Como trabalhar a questão da criação e manutenção dos ídolos, um dos pilares do marketing esportivo?

Fábio Porto – É uma questão delicada. O torcedor novo, para você conseguir aumentar sua base, é captado ou com a conquista de títulos, ou com um grande jogador para servir de espelho a ele. O outro que já optou pelo clube, tem o vínculo com a instituição.

Hoje, somos obrigados a trabalhar a imagem institucional: “a Portuguesa”. Temos um problema sério com ídolos, algo notório, e tentamos fazer campanhas com alguns jogadores, mas na semana seguinte estes saem e temos de reformular tudo.

A venda de jogadores é a maior receita de qualquer clube no mundo. Temos de desmitificar essa questão de que só aqui que é deficitário e ruim. Vejo uma bolha enorme no futebol e não sei que horas vai estourar – e porque não estourou. Na Inglaterra, todos os clubes são deficitários e o futebol não seria viável se não existissem os milionários que injetam dinheiro não se sabe de onde; o mesmo vale para Espanha. Só a Alemanha que tinha uma liga que fechava no azul por causa das arenas pós-Copa, mas encerrou a última temporada em prejuízo.

Não à toa, o Platini reafirma a preocupação do instrumento de licenciamento, pois uma hora será inviável. O mundo funciona assim: venda de jogador, direitos de transmissão, bilheteria, patrocínios, etc. No Brasil não é diferente e não tem muito o que mexer.

Outro ponto nesse sentido é o de que estamos conseguindo vender a TV por valores muito bons; mas a comparação está sendo feita errada. Na Europa, eles comercializam só os direitos de TV, com o merchandising à parte. E aqui, vendemos direitos de transmissão com as placas de publicidade para uma emissora. Nunca fiz essa comparação, mas vai dar um valor muito maior. Não podemos nos iludir.

Individualismo cego

Universidade do Futebol – O que podemos aproveitar da experiência européia no tocante às ações de marketing e que seriam passíveis de implantação no futebol brasileiro? A Portuguesa possui alguma espécie de parceria com clubes de Portugal, por exemplo?

Fábio Porto – Sobre a segunda questão, não. Já foi tentada uma aproximação, mas quando se fala em relacionamento com clube europeu, eles pensam apenas em jogador, em matéria-prima barata. Eles pagam em um zagueiro 30 milhões de euros, mas não no Neymar.

Para trazê-los para perto em uma relação de marketing e comunicação, teria de haver um vínculo prévio envolvendo negociação de atletas – sendo que eles ganhem muito mais no negócio.

Já sobre ações diversas, temos de nos espelhar lá. Acredito que nosso futebol está uns 20, 30 anos atrasados em relação à Europa. Eles evoluíram e chegaram à elitização do esporte. Ponto. E findaram a violência promovida pelo hooliganismo.

Vejo a Copa do Mundo como um momento crucial para diminuir essa diferença – quem sabe para uns cinco, 10 anos. Ainda não temos uma arena construída no Brasil, e o “conceito arena” deve ser copiado do modelo europeu, dentro da realidade nacional. Se isso vai dar certo, vamos saber somente mais tarde.

Universidade do Futebol –
Com vistas à Copa-14, e em se considerando os projetos de arena, como Alemanha e África do Sul podem servir de referencial ao Brasil?

Fábio Porto – A Alemanha conseguiu potencializar o futebol a partir de suas arenas. A Copa serviu para fazer uma reforma da estrutura dos estádios e eles pensaram isso em longo prazo desde a elaboração. Os gestores daquele país mudaram o sistema de acesso, o atendimento ao público, os fornecedores de alimentos, etc.

As receitas de arena explodiram, e os clubes, consequentemente, cresceram em decorrência disso. Já na África do Sul, foram muitas obras financiadas pelo governo em lugar que não tem futebol e que já está abandonado, e daqui a cinco, 10 anos, que teremos uma ideia mais clara do resultado.

No Brasil, alguns estádios que estão sendo projetados serão elefantes brancos, e isso não é nenhuma novidade que estou contando. E o governo vai fazer e ponto. Algo que também é uma hipocrisia, pois em todo lugar do mundo o governo ajuda a construir estádio, quando não constrói.

A Allianz Arena teve um investimento altíssimo do governo; A Amsterdam Arena também foi paga boa parte com o dinheiro público. Temos de reconstruir essa imagem. O governo não pode é rasgar dinheiro, colocar dinheiro em um estádio no meio da selva que nunca terá futebol depois de 2014. Se for algo viável, o governo não só pode, como deve auxiliar no projeto que beneficie a sociedade.

É melhor construir hospitais, escolas, claro. Mas o Brasil assumiu esse compromisso da Copa. E não foi com a Fifa, mas com o mundo. O papel do governo é importante em qualquer lugar do mundo para o desenvolvimento do futebol.

Universidade do Futebol – O estádio do Canindé não é um modelo de arena nesses moldes citados. E o clube busca ações para potencializar seu uso, como a realização de shows e eventos. Manter essa estrutura causa prejuízo?

Fábio Porto – Eu não tenho todas essas contas, mas creio que seja deficitário. A questão é que hoje o Canindé se tornou um lugar estratégico, porque nosso concorrente direto, o Parque Antarctica, está em reformas, o Morumbi é muito grande, e o Pacaembu tem um problema com a associação dos moradores.

Antes, as pessoas não queriam “tentar” o Canindé. Estamos realizando modificações estruturais e negociando com várias empresas para potencializar a sua utilização.

No começo, encontramos algumas resistências por causa do gramado, que é uma entidade que está acima de todas as outras nos clubes (risos). As pessoas têm muito receio em estragá-lo, mas hoje há tecnologias fantásticas para mantê-lo seguro.

O show do Jonas Brothers é considerado um marco zero para nós, pois conseguimos realizá-lo sem qualquer prejuízo para o gramado. A partir daí, como é um dinheiro bom para o clube e não teve consequências maiores, ganhamos uma autonomia mais ampla para negociar esses tipos de acordos comerciais.

As empresas possuem uma expertise absurda, não são aventureiras, tomam todos os cuidados e a relação é muito profissional. Sem contar o público, que consome o espetáculo de uma forma decente. Os responsáveis pela organização precisam geralmente de 10 dias, e temos pelo menos um jogo em casa neste período. Mas já há uma compreensão coletiva.



Treino no Canindé, enquanto empresa prepara estrutura para show de Jonas Brothers; marketing considera evento um "marco zero"

 

Universidade do Futebol – A questão do licenciamento é uma cultura que não é forte no Brasil, muito pela dificuldade de negociação, dos pontos de venda. Como esse produto é trabalhado pelo departamento de marketing da Lusa?

Fábio Porto – Assim como a maioria das outras coisas no clube, o licenciamento depende do outro querer. Uma empresa identifica os benefícios do mercado do futebol e procura os clubes para efetuar o negócio. É uma área em crescimento.

Quando cheguei na Portuguesa, havia sete contratos. Hoje, são mais de 30. E assim como os patrocinadores vão aprendendo com o futebol, essas empresas, também.

Não basta colocar o símbolo do clube no produto, e sim desenvolver uma estratégia de venda para produtos de futebol. O licenciado venderá para o lojista, e não para o consumidor final.

Queremos ter uma base grande de licenciados, em todas as áreas possíveis, e seguir com aqueles capacitados. Muitos estão no mercado há vários anos, como a Panini, a Mascotemania, a Torcida Baby, que conhecem bem essa esfera e sabem como lidar.

Até chegar à loja, para o torcedor, na ponta desse processo, ainda há alguns intermediários.



"Licenciamento depende da empresa querer investir no clube", explica Fábio Porto

 

Universidade do Futebol – A Portuguesa, assim como alguns outros clubes, possui uma revista oficial. Fale um pouco sobre essa produção.

Fábio Porto – Durante muito tempo, nossa revista foi feita “na raça”. Estamos buscando empresas para desenvolver parcerias na confecção. É um custo muito alto, pois demanda gráfica, diagramação, e para dar certo tem de haver periodicidade.

É pauta, patrocínio, tudo feito de maneira constante. Vendemos os patrocínios de maneira uniforme, depende de foco. A revista se paga, assim como as outras mídias. E esse é o objetivo do departamento. Temos de suprir a necessidade de notícias da torcida, que não recebe na grande imprensa. Usamos isso como meio de informação e relacionamento com nosso publico, sem mirar o lucro. Mas a revista de 90 anos, por exemplo, teve um retorno financeiro muito positivo, por se tratar de uma data específica.

Universidade do Futebol – Há algumas semanas, a Portuguesa iniciou a campanha "Eu Jogo Junto", que promete uma série de novidades aos torcedores, a partir de um cadastramento. Você poderia falar um pouco mais sobre isso e também acerca das demais ações do departamento nas mídias sociais?

Fábio Porto – Nós reformulamos o nosso site para ser um portal – cada setor tem a sua página específica. Temos que integrar as mídias, inclusive a revista está em PDF exposta lá. Em comparação com outras, a internet é uma mídia barata e de capilaridade.

Nossa torcida tem um perfil de idade mais avançada, mas estes senhores recebem as informações dos filhos, dos netos, enfim, de quem acessa.

O grande segredo é a atualização. Temos de soltar notícias todos os dias, e a rádio se tornou algo muito relevante para esse processo. O Manezinho, filho do Dr. Manuel da Lupa, em parceria com o Lucas, que era assessor daqui, junto com o André e o Guilherme, apostou na ideia da rádio web, de maneira inovadora.

O sucesso está diretamente ligado à liberdade de expressão. Eles falam o que querem, não têm vínculo político, e ela é do jeito que tem de ser, crítica, fala o que o torcedor quer ouvir, o que cria alguns problemas internos (risos). Mas é o risco do negócio para se ter a melhor rádio web de São Paulo.

A média de acesso da rádio é três vezes a média de público pagante nos jogos da Portuguesa no Canindé. Aquilo virou o amigo dos lusitanos fora do Estado, do país. Vários clubes têm rádios web hoje, mas nenhum tem uma como a nossa, fruto da qualidade dos responsáveis.



 

Sobre a campanha “Eu Jogo Junto”, trata-se de uma ação que está engavetada desde 2008 e resolvemos lançar. Às vezes esperamos o timing certo, mas o futebol é muito ingrato. O Inter, por exemplo, conseguiu fazer um sócio-torcedor comemorando o centenário e campeão do mundo. Deu tudo certo na hora certa.

Aqui na Portuguesa, tentamos fazer as coisas bem feitas, dentro do nosso alcance. Se o time ajudar, ótimo. Do contrário, fazemos para dar certo independentemente disso.

O plano se assemelha ao “Exército Gremista” do Grêmio, para lançar a campanha depois. Não se trata de nosso sócio torcedor, como muitas pessoas acham. Ele tem a ver com a camisa três, que é o que posso antecipar. Primeiro será feito o cadastramento, depois vem o projeto inédito, e por fim o sócio-torcedor.

Ser um dos últimos clubes a ter um plano de sócio-torcedor é bom, pois você consegue detectar os acertos e erros cometidos pelos rivais. E também não queríamos fazer por fazer apenas.

Sócio-torcedor não é aumento de base, e sim fidelização. Vemos uma média histórica no Brasil de sócio-torcedor representando metade do público no estádio. Se não fizermos um grande planejamento, e ficarmos na média nacional, teremos pouca gente, o que não é nossa intenção.

Universidade do Futebol – Esteticamente, o uniforme três da Portuguesa chamou muito a atenção, especialmente pela parceria com a Penalty e a Cavalera. Qual foi a aceitação desse tipo de ação dentro do clube?

Fábio Porto – O modelo de 2008 foi o mais vendido, superando as camisas 1 e 2. Geralmente, em clubes, as pessoas costumam ouvir quem fala mais alto. Mas tem uma grande base que simplesmente não fala nada, não reclama, mas deixa de vir ao jogo. Assim como têm aqueles que não protestam, não mandam e-mail, mas vão e compram. E a prova são os números: o uniforme três teve uma aceitação gigante.

Em minha coleção de camisas, tenho uma da Portuguesa de 1995, que era quadriculada, parecendo uma toalha de mesa. Não sei se outros clubes tinham um terceiro modelo também a essa época.

Na Europa, este tipo de camisa surgiu para não descaracterizar o uniforme. Com a determinação da Fifa de que tinha de ser tudo diferente entre os rivais de um jogo, inclusive calção e meião, houve a produção de vários exemplares mais loucos, vibrantes, sem relação com a história. E isso começou a vender muito, tornando-se um negócio.

No Brasil, porém, vejo um erro estratégico: é muito pouco usado. E desculpa de azar não rola, porque os times perdem com a camisa 1 e 2 (risos).

O grande diferencial da Portuguesa foi o design. Ter Cavalera, uma parceria vinda pela Penalty, justiça seja feita, colocou o clube em um patamar diferenciado. A Portuguesa serviu como teste e virou referência. Para a gente deu muito certo e vai continuar.



Terceiro uniforme apresentou design moderno e símbolo da Cavalera, uma das principais marcas de confecção; venda foi recorde
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Benê Lima