O brasileiro é conhecido pela sua paixão pelo futebol. O Ciência & Saúde dessa semana analisa até que ponto essa paixão pelo futebol pode ser saudável
O radinho de pilha não desgruda da orelha em dia de jogo. Os olhos ficam vidrados em cada lance do jogador. A camisa do time não sai do corpo, seja dia de jogo ou não. No país do futebol cenas como essas são fáceis de ver. Nem precisa ser época de Copa do Mundo, Campeonato Brasileiro ou Estadual, basta ter um simples amistoso do time do coração para o “fanatismo” entrar em campo.
O historiador e autor do livro O Clube Como Vontade e Representação, Bernardo Borges Buarque de Hollanda, aponta que, diferente de qualquer outro espetáculo, na partida de futebol, o espectador é ativo. “É natural que o torcedor expresse essa dimensão corporal do jogo”, diz. Porém, é importante estar atento aos possíveis exageros que essa paixão pelo futebol pode provocar.
Para o psicólogo e mestre em análise do comportamento, Dumas Pereira Ferreira Gomes, é preciso buscar qual a relação entre o individuo e o objeto alvo do fanatismo. “A questão é que cada indivíduo tido como fanático pode ter um padrão de comportamento que, ainda que parecidos com o de outros indivíduos “fanáticos”, tenham uma função completamente diferente para cada um desses indivíduos”.
Dessa forma, para atestar o torcedor de fanático como um aspecto preocupante, é preciso responder a duas perguntas básicas: Qual o grau de sofrimento gerado àquela pessoa específica? E qual o grau de prejuízo a sua vida ou a terceiros? “Por exemplo, se a situação de ‘fanático por futebol’ não o incomoda, não prejudica às outras pessoas relacionadas à ela e nem está prejudicando nenhum outro aspecto da sua vida, como trabalho, vida familiar e vida social, não é necessário um tratamento ou algo do tipo”, diferencia o psicólogo.
Entretanto, se uma pessoa considerada “fanática”, está tendo problemas com a esposa, os filhos ou os pais, chega atrasado e de mau-humor no trabalho todo dia depois dos jogos, lida de forma inadequada e/ou agressiva com outras pessoas quando o assunto é futebol, então essa pessoa pode vir a se beneficiar com um tratamento psicológico.
Objeto fixo
No fanatismo, o sujeito parece só encontrar sentido na sua vida naquele objeto eleito ao qual devota seu amor, sua atenção, sua energia e seu tempo. Segundo a mestre em psicologia, Márcia Batista dos Santos, o fanatismo seria um aprisionamento do sujeito a uma ideia fixa ou a um objeto único capaz de realizar o sujeito.
“Há de certa forma uma aposta de que somente aquele objeto adorado pode trazer um sentimento de quem ele realmente é, ou seja, sua identidade está incorporada neste objeto de desejo”. Essa idealização acaba provocando um excesso de valoração neste objeto em que o sujeito só se reconhece nele e vive para ele.
O Ciência & Saúde dessa semana mergulha no mundo dos fanáticos por futebol e analisa até que ponto essa paixão pode ser saudável.
O quê
ENTENDA A NOTÍCIA
O fanatismo vem da expressão francesa “fanatisme” e significa um estado psicológico de fervor excessivo, irracional e persistente por qualquer objeto ou tema. Historicamente, o termo é associado a motivações religiosas ou políticas. No esporte, o termo pode ser usado para caracterizar o torcedor apaixonado. Porém, o fanático por futebol pode ganhar um tom violento e mais exagerado que o comum.
Viviane Gonçalves
vivi@opovo.com.br.
Sinopse
"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."
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segunda-feira, março 28, 2011
Jornal O Povo] O que passa na cabeça de um torcedor
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Benê Lima