Oliver Seitz
Permita-me começar essa coluna prestando uma homenagem aos 100 anos do Coritiba Foot Ball Club, completados em 12 de outubro, clube que abriu as portas para que eu pudesse por em prática algumas das poucas coisas que eu conheço e aprender muito, mas muito mesmo, sobre como de fato funciona um clube de futebol.
E, acredite, é bem diferente daquilo que normalmente se imagina.
Os precisos e antecipadamente planejados 365 dias que eu fiquei no clube, de janeiro de 2008 a janeiro de 2009, abriram a minha cabeça sobre o funcionamento de uma associação esportiva e sobre a indústria do futebol como um todo. Fizeram com que eu entendesse pelo menos uma parte das razões que levam a indústria do futebol a assumir a forma que possui hoje.
Antes que você se questione, não. Eu não sou torcedor do Coritiba. Mas aprendi a respeitar a instituição e a sua centenária história. E talvez justamente por não ser torcedor, pude manter uma distância que me permitiu analisar as coisas de uma maneira mais fria, desprovida de emoções excessivas.
Essa distância me permitiu perceber quem são de fato os principais stakeholders de um clube, quem é que, efetivamente, pressiona e influencia o processo decisório e como o que importa, no fim das contas, é o resultado em campo, independente do meio necessário para se atingir isso. Sempre foi. Sempre será. No Brasil e em qualquer lugar do mundo que tenha futebol de primeiro nível, com raríssimas exceções.
Afinal, não se torce para um clube por outra coisa. O que se busca é a vitória. De preferência, no curtíssimo prazo. Se possível, em todos os campeonatos de que se participe.
E está aí justamente o que faz da indústria do futebol um fenômeno que não pode ser observado única e exclusivamente sob a ótica corporativa, tampouco financeira. Se um clube gera dinheiro, ele obrigatoriamente precisa gerar custo. No futebol, principalmente no modelo associativo, não existe superávit. Porque não há redistribuição de dinheiro. Porque, no fim das contas, ninguém quer ganhar dinheiro de volta. Pelo menos não aqueles de boa índole.
A peculiar verdade futebolística é que nenhum torcedor é consumidor. Porque ele não consome produtos. Ele paga para obter a glória refletida. E glória, no esporte, se alcança quase que unicamente através de vitórias. Ninguém consome banheiro limpo, arquibancada confortável, produto de boa qualidade. Não. Qualquer produto que eventualmente seja adquirido só o é por uma razão simbólica e não funcional. De que adianta uma linda camisa de um clube que nunca ganha ou ganhará nada? De fato, nada.
Essa linha de pensamento obviamente não é a ideal, muito menos a corrente entre o intelectualismo existente. Mas é a verdadeira. É a que move um clube de futebol. E não tem como fugir disso. Qualquer alteração nesse pensamento acabaria com a razão fundamental da existência de um clube de futebol. Não pensar primordialmente em obter glórias é uma desvirtuação de sentido de um clube de futebol. Porque ele existe essencialmente para isso. E muito pouco além.
Quem comanda um clube de futebol sabe muito disso. Sente na pele. Aprende. No dia a dia. Nos intermináveis elogios após uma vitória. Nas incansáveis críticas após uma derrota. Dói, mas eventualmente aprende.
Essa é a natureza de um clube de futebol. Pura e simples. Foi por isso que ele nasceu. É a sua essência.
Por isso que eu agradeço ao Coritiba por ter me aberto as portas para que eu pudesse entender esse indispensável ponto de vista. Sem a experiência que o clube me proporcionou, é possível que toda a minha pesquisa adotasse um viés completamente incompatível com a realidade dos fatos.
E sem entender a realidade, não há como sugerir melhorias factíveis.
Parabéns. E muito obrigado.
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Benê Lima