Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

segunda-feira, outubro 05, 2009

COM PÉ E CABEÇA – ANO IV – Nº160


Opinião - I
Ô FUTEBOLZINHO COMPLICADO

Dirigentes que se comportam como torcedores; torcedores que querem exercer influência como se fossem dirigentes


Nosso futebol se move a rogo – arrasta-se é melhor – pelo caminho arejado da dita e tão decantada modernidade. De moderno, muito pouco, e desse pouco que se vê só alguns segmentos da operacionalização das tarefas é contemplado. A mente do dirigente continua insípida e a natureza da externalidade do caráter temerária.

Nenhum dirigente tem coragem de enfrentar o maior dos desafios, que é o de se portar como condutor modelar de uma massa. Ao contrário, preferem fazer o “fácil”, escolhendo o investimento descriterioso num populismo vexatório, algumas vezes – e não poucas – cedendo ao anseio de um esboço de projeto político-partidário.

E por mais que os ditos dirigentes disfarcem suas verdadeiras caras, a ocasião de um clássico-rei os desmascara. E sabem por quê? Porque eles não seguram suas vaidades e findam por se revelarem.

Os dias da semana do maior clássico do estado do Ceará deram lugar a um besteirol indigesto, com o cheiro ardoroso do xixi de criança. Corda de um lado corda de outro lado, mas Evandro Leitão parece ter, neste episódio, superado o “antagonista” Lúcio Bomfim. Fez Lúcio escalar o “organograma morubixaba de anti-gerenciamento”, condição “armada” para o cacique tricolor bater e voltar. Tudo por conta da distribuição dos ingressos.

Neste brasileiro, os dois maiores clubes cearenses demonstraram que são incompetentes para evitarem o conflito quando a eles se dá certa autonomia. Tanto falam eles da FCF, e, no entanto, mostram que a presença dela é necessária, porque mediadora e pacificadora dos conflitos gerados entre eles.

(Clarimundo D’Oitiva)


Opinião – II
COMENTÁRIO E BATE-PAPO SÃO COISAS DIFERENTES

Cada vez mais escuto treinadores queixarem-se (em off), com razão, da falta de conhecimento dos nossos comentaristas


No auditório da Folha de São e em um dos salões do Hilton Hotel (SP) tive oportunidade de ouvir palestras, entre outros, de Wanderley Luxemburgo e do mestre Telê Santana. Wanderley, à época, grafava seu nome com a inicial “V” e com a final “i”, como era pra ser. Em minha biblioteca virtual já cheguei a ter ao redor de 1.200 textos de uma lauda em média, sobre muito que respeita ao futebol. Pesquisei e pesquiso a história da evolução técnica e, sobretudo tática do futebol. Recentemente enveredei pela literatura do mestre italiano Giovanni Trapattoni, valendo mencionar aqui que sou ‘iniciado’ nas idéias do filósofo português e humanista Manuel Sérgio, em quem Mourinho muito se inspira. Tudo isso para obter um mínimo de cultura sobre o aspecto tático do futebol.

Ademais, não basta ter um pouco de informação. É preciso transformar essa informação em conhecimento, e isso só se consegue pela reflexão, especialmente pela reflexão crítica. Pois, a mera repetição das idéias de outrem não significa que tenhamos utilizado o cadinho que possibilita a alquimia transformadora de metais inferiores em superiores (ou das idéias alheias em idéias renascidas em nós).

Na realidade, a capacidade de produzir intertextos supera em muito a de absorção de textos. Aquela (criar intertextos) pressupõe uma atitude mental predominantemente ativa, enquanto esta (leitura de textos) se caracteriza pela contemplação e passividade.

É preciso que esclareçamos que, os comentaristas que adotam a atitude sistemática de ridicularizar o conteúdo tático, o fazem por desconhecimento da matéria. Outros há que, além do desconhecimento, valem-se de uma dialética maquiavelista de perseguição a quem se dedica ao estudo da disciplina.

Apenas uma assertiva para ilustrar as ‘parcerias’ do futebol como disciplina. Neste sentido, a maior expressão do futebol foi, é e será ‘ad infinitum’ a geometria. O futebol se expressa e se conduz, inexoravelmente, pela geometria. Toda a metodologia tática se serve de figuras geométricas, das mais simples como pontos e linhas, a outras mais elaboradas, como círculos, triângulos, quadrados, losangos, trapézios, etc.

Os maiores méritos de um planejamento tático são: a amplitude das jogadas; os atletas saberem quando e principalmente como correr ( o caminho a ser percorrido); a eficácia das formações geométricas, e as movimentações dessas formações sem a posse de bola.

Fica a pergunta: Quantos já observaram isso no atual time do Ceará?

Aliás, alguém duvida da presença da geometria a serviço da equipe alvinegra, pelos teoremas de Gusmão?

(...)

(Benê Lima)


EFEMÉRIDES

O equilíbrio no desequilíbrio


Se não é para fazer média, garanto que não vi um jogo equilibrado entre Ceará e Fortaleza como querem alguns comentaristas. Posso até concordar que o Fortaleza se esfalfou para manter uma sensação de equilíbrio, enquanto o Ceará com muito menor esforço, mercê de uma arrumação tática, técnica, física e mental flagrantemente melhor, fazia com naturalidade o jogo fluir, enquanto neutralizava as pálidas tentativas ofensivas de um time ainda sem identidade, como tem sido o Tricolor do Pici.

O Ceará deste Brasileirão tem um dos melhores padrões táticos, expresso por uma figura que em muito me lembra a de uma colméia. Claro que as figuras geométricas utilizadas não possuem a estabilidade da figura aludida, mas sim a dinâmica e instabilidade característica das constantes mudanças na geometria dos sistemas de uma partida de futebol.

Enquanto o Fortaleza se valia da individualidade para tentar romper o padrão do Ceará, este se apropriava da força do coletivo para impedir a evolução tricolor. E, com supremacia inconteste, mantinha as rédeas da partida, sem sofrer nenhuma severa ameaça. (Benê Lima)


Os detratores de técnicos

Os ‘cientistas da bola’ já começaram a fritar o técnico Roberto ‘corajoso’ Fernandes. Se o moço entra com três volantes e perde não passava de retranqueiro. Como teve a coragem de montar sua equipe com dois volantes, dois meias e dois atacantes, tem sobre si a acusativa de ter sido demasiado ousado.

Ainda há os que vêem o que bem querem. Para estes, Everaldo não foi o lateral esquerdo porque ele não é lateral-esquerdo, como se fosse o mais relevante a nomenclatura e a posição que a função. A estes, afirmo: Everaldo cumpriu sim a função típica de todo lateral. E a intenção do treinador tricolor era ter um setor esquerdo forte, com os canhotos Everaldo, Rogerinho e Élton, com os dois últimos encarregados da transição ofensiva do referido setor.

Falou-se também em nó tático. Quanta bobagem! Nó tático se dá em oponentes com força equivalente ou próximo disto. O nó do Fortaleza é górdio, e é auto-nó. Se expressa pelo mau desempenho de seu departamento de futebol, no que pese as tentativas pontuais de demonstrar eficiência, pois eficácia ainda nem pensar. (Benê Lima)



BREVES E SEMIBREVES ®

Grave 1

A FCF precisa assumir uma posição franca e segura contra o que está ocorrendo em Crateús. Apagão nos refletores daquele estádio sem que nenhuma providência seja tomada, acaba estimulando a manipulação do resultado das partidas.

Grave 2
O pior de tudo é ouvir de representante daquele município que “pra certo tipo de gente a gente desliga mesmo”. Se a moda pega, daqui por diante todos os jogos em que o time local estiver à frente no placar não mais teremos os minutos finais de jogo nem acréscimos. E aí?

Tempos bicudos
A Folha de São Paulo, em seu caderno de esportes da semana passada, faz um alerta para a crise que se abate em muitos clubes do futebol nordestino. O texto termina com a seguinte citação: “Uma exceção local interessante parece ser o Vitória, que mudou sua diretoria em 2006, quando estava na Série C, e hoje, com executivos remunerados, está bem posicionado na Série A. O time pode servir de exemplo para que os rivais da região se modernizem. E que a mudança seja rápida, caso contrário, o destino dos nordestinos será sombrio”, finaliza.

Incoerência 1
O mesmo comentarista de final de semana que afirmou que o elenco do Fortaleza era muito bom acaba de alardear que a superioridade do time do Ceará sobre o do Fortaleza é i-n-f-i-n-i-t-a. É o mesmo que tudo pra ele é um a-b-s-u-r-d-o. Dominaram?

Incoerência 2
O Fortaleza teve pelo menos cinco meses para reforçar um elenco sofrível até mesmo para a Série B, e assim os enganadores poderiam sofismar sobre uma realidade evidente. Porém, nem mesmo se levarmos em conta os pretensos reforços, ainda não podemos afirmar que o time não cai. E eles (os enganadores) ainda querem ter razão.

Exagero? Será?
Na Série B, do ano passado até aqui, só me recordo de uma equipe com uma transição defensiva no mesmo nível da do Ceará: o Corinthians do ano passado. Na teoria, há um antídoto para tentar burlar a vigilância e o automatismo da contenção alvinegra. Mas prefiro deixar os adversários quebrarem um pouco suas cabeças.



Benê Lima
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