Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

sábado, outubro 24, 2009

Seleção brasileira: a evolução do modelo de jogo
Com menos de um ano para a Copa do Mundo, alguns detalhes ainda podem (e devem) ser acertados. Independentemente disso, Dunga merece a credibilidade de todos
Leandro Calixto Zago

São incontestáveis os resultados obtidos pela seleção brasileira no ano de 2009, principalmente nas competições oficiais em que conquistou o título da Copa das Confederações e a classificação antecipada para a Copa do Mundo de 2010 na África do Sul, com uma vitória em Rosário sobre a Argentina.

Após um ano de 2008 em que o Brasil não marcou um gol sequer jogando em casa pelas Eliminatórias Sul-Americanas, a equipe vem apresentando uma evolução considerável e desde a goleada por 6 a 2 contra Portugal (jogo amistoso ainda em 2008) tem ganhado partidas de adversários tradicionais por placares destacados como por exemplo a vitória contra o Uruguai em Montevidéu por 4 a 0 e o 3 a 0 diante da Itália, pela Copa das Confederações.

Do ponto de vista da dominante tática, pode-se perceber que Dunga abriu mão da rigidez de realizar a recuperação da bola através de uma única plataforma tática e prepara a equipe para organizar-se espacialmente de acordo com a linha da bola, aumentando a flexibilidade posicional e a capacidade de adequação às situações-problema do jogo. Com essas alterações, em muitas ocasiões do duelo, um problema do Brasil (recuperar a bola) tem se tornado um problema para o adversário (não perder a bola), o que muda essencialmente o jogo e a tomada de decisão do mesmo (o adversário).


Figura 1 – As variantes da Plataforma Tática Matriz

Em um momento inicial e pelas características dos jogadores, a plataforma tática que se configura é a 1-4-3-1-2 (figura 1 – A), que funciona como uma matriz para o aparecimento de novas configurações para as situações do jogo que vão se delineando. E como a partir das situações do jogo novas plataformas vão se apresentando com regularidade, constata-se que realmente vão além de adequações posicionais da matriz para emergirem como alternativas a fim de resolver as necessidades da equipe, principalmente quando se está sem a bola.

No momento em que o adversário inicia a circulação da bola no campo defensivo, o Brasil adianta a primeira linha de marcação até a intermediária ofensiva (figura 1 – B). Robinho e Elano adiantam-se nas faixas laterais e Luís Fabiano na faixa central, com Kaká também centralizado, porém um pouco mais atrás, formando um grande losango.

Duas tarefas parecem balizar esse quarteto: manter a bola em circulação pela linha defensiva pelo maior tempo possível (aumentando as chances de um erro ser cometido pelos rivais e fazendo com que os mesmos tomem decisões precipitadas) e, se o adversário quiser aprofundar o jogo, direcioná-lo para o centro do losango, onde sofrerá pressão imediata.

Caso a bola entre nesse espaço e não seja imediatamente recuperada, Elano e Robinho recuam até a linha de Kaká, dando origem à plataforma 1-4-2-3-1 (figura 1 – C). Com essa formação, a referência é direcionar o adversário para as laterais, onde ele será pressionado.


Figura 2 – O Brasil no campo de defesa e o Balanço Defensivo

Mesmo quando o adversário progride rapidamente, o Brasil consegue defender-se com pelo menos oito jogadores (goleiro + sete) atrás da linha da bola. Caso o ataque rápido ou contra-ataque do adversário seja desacelerado e ele comece a circular a bola na busca de espaços para finalizar (ataque posicional), Robinho recua um pouco mais e mantém o equilíbrio horizontal da equipe assegurado (figura 2 – A), apontando para uma outra plataforma, o 1-4-4-1-1, com nove (goleiro + oito) jogadores atrás da linha da bola.

A organização defensiva brasileira enfrenta os seus maiores problemas quando tem que se defender muito próximo a seu gol. E isso não acontece simplesmente pela proximidade que o adversário está da sua meta, mas também porque nessa zona do campo a equipe nacional ainda demonstra uma considerável confusão em relação às referências para a marcação.

Alguns jogadores mantêm as estruturas com referências no espaço, outros acompanham o adversário direto, com pouca coordenação entre esses movimentos. Esse fato leva o Brasil a desorganizar-se e a recuperar a bola (com certa dificuldade e em zonas que não favorecem a manutenção ou a progressão) muito próximo do gol que defende, tendo interferência direta na transição ofensiva que fica prejudicada. Nesses momentos do jogo, a seleção fica em sua maioria na intermediária defensiva, sofrendo alguns ataques consecutivos (figura 2 – E).

O Brasil tem obtido muito êxito em ataques rápidos e contra-ataques, porém quando o adversário consegue construir situações que o induzem a circular com uma certa frequência (ataque posicional), alguns problemas são apresentados. O principal deles é no balanço defensivo, que pode ser observado quando a seleção enfrenta equipes que têm como princípio recuperar a bola e sair rápido para o campo de ataque.

Os locais onde o risco é mais evidente nas últimas partidas são as faixas laterais (figura 2 – F), porque jogando contra equipes compactas, o Brasil busca penetrações por essa região na tentativa de dar melhor amplitude ao ataque.

Com três anos de trabalho sob o comando do técnico Dunga, fica evidente a evolução que a seleção brasileira teve desde que ele assumiu. Com menos de um ano para a Copa do Mundo, alguns detalhes ainda podem (e devem) ser acertados. Independentemente disso, o treinador chegará ao Mundial da África merecendo a credibilidade (que ele conquistou com bons resultados) de todos.

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Benê Lima