Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

sábado, outubro 24, 2009


O ocaso do treinador mandachuva
Sócrates


Crédito: Olga Vlahou
Os conflitos entre técnicos e dirigentes de clubes, como temos visto nos últimos tempos, tendem a se tornar cada vez mais frequentes. Recentemente, o “deus” Maradona, treinador da seleção de seu país, ameaçou deixar o cargo, aparentemente por culpa de divergências com os cartolas argentinos. Mas nem sempre as causas têm a ver com mudanças políticas ou incompatibilidade de gênios. O que está em curso, na verdade, é uma nova visão das funções desse profissional.


A centralização de poder oferecida a ele, e só a ele, e a possibilidade de determinar toda a política em relação aos jogadores definitivamente têm seus dias contados. Até por não ser razoável que funções tão importantes sejam exercidas exclusivamente por um profissional.


É o que chamamos de excesso de poder. A partir da mudança de mentalidade, o treinador deve ocupar (ou dividir com outros) a função específica referente às partes tática e técnica de uma equipe. E com direito a ser questionado por um superior com atribuição de coordenar. Esse diretor técnico deverá possuir capacitação abrangente e contemplar as diversas áreas da comissão técnica com conhecimentos em nutrição, preparação física, fisiologia, psicologia, ortopedia e fisioterapia, além das áreas citadas acima.


Teríamos assim o esqueleto de um verdadeiro organograma, coisa rara no meio futebolístico. Além disso, será flagrante a diminuição do valor que se dará ao profissional de campo. Lentamente ele será levado ao real patamar de sua importância dentro da estrutura. Com isso, também os salários terão de se adaptar à nova ordem.


Está no fim o tempo em que ele fazia a programação física, decidia a dieta, dava palpites na recuperação dos atletas, indicava jogadores sem uma avaliação formal por parte de quem o contratava e, além disso, definia todo o planejamento. Na nova ordem, só os definitivamente competentes é que terão lugar no comando.


E como exemplo da, digamos, falta de sensibilidade dos treinadores de futebol, lembremo-nos da decisão por pênaltis no Mundial Sub-20. Demonstrou o que tem sido uma constante em torneios curtos como aquele e, por isso, cabe um olhar mais detido nesse ponto. Em geral, há certa dose de incompreensão acerca dos fenômenos que envolvem ocasiões como essas. E quase todos eles têm relação estreita com o que aconteceu na partida até ali e suas sequelas sobre o equilíbrio emocional das equipes e de cada jogador em particular. De resto, só a questão física pode influir caso tenham jogado uma prorrogação.


Percebe-se, então, que normalmente as condições físicas e psicológicas dos atletas encontram-se prejudicadas. Notamos, contudo, muito mais do que isso. Há um nervosismo latente a extrapolar a intensidade do estímulo. Ou seja: estão mais estressados do que seria razoável supor. Essa situação provavelmente se deve à insegurança provocada pela falta de autoconfiança nesse fundamento.


Qualificação que competiria ao técnico oferecer aos seus jogadores, mas que não o fazem por absoluta ignorância no assunto. Isso sem falar de como se comportam em público. Muitos são arrogantes mesmo que pouco tenham para se arrogar. Nunca deveríamos esquecer de quão pequenos somos nós, porém muita gente quando se encontra em situação superior faz questão de menosprezar, intimidar e minimizar o resto da humanidade como se donos da verdade fossem. Felizmente, o passo a passo da vida invariavelmente nos derruba dos tamancos. Por nos tirar do limbo em que nos colocamos, expor nossa mediocridade e desnudar a nossa insensatez.


Mas, voltemos a Maradona, que sempre fez absoluta questão de se intitular o maior de todos os tempos. E não só ele, o próprio Pelé e outros mais se digladiam cotidianamente por esse título de nobreza, como se dele extraíssem o néctar que os mantém vivos.


Ainda assim, acho que todos aplaudiram a coragem de “dom” Diego ao aceitar ser o treinador da seleção argentina e desse modo descer do céu onde os seus patrícios o colocaram. Não dá, porém, para engolir (usufruindo de um verbo bastante conhecido dos brasileiros e muito usado no futebol pelo mesmo motivo) a sua reação após a vitória contra os uruguaios que acabou por classificar a Argentina para a Copa da África do Sul. Ainda que possamos assimilá-la, levando em conta o seu estado de espírito, os termos utilizados são de extremo mau gosto e agressivos para grande parte do público. E demonstram imensa incapacidade de conviver com opiniões críticas. 

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Benê Lima