Hoje, ambos os times não existem e seguem apenas guardados nos escritos da história da modalidade esportiva mais popular do mundo. Mas há exatos 115 anos, São Paulo Railway e Companhia do Gás davam o pontapé inicial a um evento marcante: a primeira partida oficial do futebol brasileiro.
No dia 14 de abril de 1895, a equipe que dava nome à primeira estrada de ferro paulista, comandada pelo inglês Charles Miller, derrotou o time da Companhia de Gás, em um campo próximo à região do Brás, na Várzea do Carmo. O confronto terminou com a vitória dos ferroviários por 4 a 2.
As agremiações eram formadas basicamente por britânicos radicados na capital do Estado. À época, o futebol era estritamente elitista e praticado apenas por brancos, motivo pelo qual grande parte dos primeiros clubes nacionais foi fundada por estrangeiros.
Os negros só começaram a ser aceitos em times brasileiros em meio à década de 1920, com o carioca Vasco da Gama sendo um dos pioneiros nesse processo de popularização.
Consolidado como esporte número 1 do país, a seleção brasileira talvez seja a maior referência do futebol. Presente em sete das 18 finais de Copa do Mundo, conquistando cinco delas (1958, 1962, 1970, 1994, 1998 e 2002), é a única que participou de todas as edições da competição disputadas até hoje.
Nos anos que antecederam o retorno de Charles Miller ao Brasil, em 1894, o futebol já era praticado, mas sem a devida obediência às regras ou com equipes constituídas formalmente para a disputa de competições regulares.
Tudo começou com uma solicitação direta de D. Pedro II, que julgava necessário realizar mudanças no ensino público. Rui Barbosa, então deputado pelo Partido Liberal, elaborou e apresentou um parecer nesse sentido na Câmara do Império. Naquele parecer havia um capítulo que tratava de educação física, onde o deputado defendia a introdução de exercícios ao ar livre.
"Em busca de modalidades que se enquadrassem no perfil recomendado pelo ilustre deputado, as melhores instituições de ensino do país decidiram enviar ´embaixadores´ a vários colégios europeus. Lá, pela primeira vez, o futebol virou uma opção para o Brasil", relata José Moraes dos Santos Neto em seu livro Visão deJogo - primórdios no futebol no Brasil (Ed. Cosac & Naify, 2002).
Esse fato fez com que o Colégio São Luís de Itu (SP), mantido por jesuítas, escolhesse o futebol, entre outros esportes, para ser praticado por seus alunos. Na verdade, essa instituição de ensino antecipou-se à determinação legal e entre 1879 e 1881 os jesuítas visitaram vários colégios na Europa e conheceram de perto o futebol praticado na Harrow School, na Inglaterra.
O responsável pelas adaptações curriculares no Colégio São Luís foi o jesuíta europeu que havia participado da excursão: José Mantero. Ainda de acordo com Santos Neto, "futuro reitor do colégio, Mantero estabeleceu, entre os anos de 1880 e 1899, o conjunto de práticas esportivas a que os meninos e rapazes seriam submetidos, entre as quais estava o futebol (...)".
O jesuíta, antes mesmo de Charles Miller, havia trazido da Europa duas bolas, chamadas pelos padres de bola inglesa, ou ballon anglais, feitas de câmaras de ar, que depois foram substituídas por bexigas de boi.
Porém, até 1887, padres e alunos jogavam juntos, mas sem a formação de duas equipes, com regras etc. Era um bate bola na parede, que ficou conhecido como "bate bolão".
Foi somente em 1894 que o novo reitor, Luís Yabar, um admirador do futebol praticado na Europa, uniformizou os times e organizou o jogo dentro das regras oficiais do futebol. A partir daí, alguns alunos do colégio contribuíram significativamente para a propagação do futebol no estado e no país.
Mas naquela altura Charles Miller já havia oficializado a "entrada" do futebol no Brasil, ao organizar no dia 14 de abril de 1894 o primeiro jogo em território brasileiro entre a equipe do São Paulo Railway Team e o Gas Works Team.
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Benê Lima