Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

segunda-feira, novembro 07, 2011

Personalidades brasileiras são mais valorizadas fora do país

O Lula na Luz
É sempre a partir do indivíduo e do núcleo personalizado das instituições que irrompe essa força demiúrgica que constrói mundo e dá novos mundos ao mundo
José Antunes de Souza*

Não há nada como ser ex-presidente. E se for do Brasil, melhor: tem as honras e cortesias como se o fosse ainda, mas sem a responsabilidade que resulta de o não ser já. Ora, no caso do Lula, isto é muito mais refinado: ele não o é já, mas é realmente como se o fosse ainda – tal a sua aura, tal o seu carisma!

E a verdade é que o estádio do Sport Lisboa e Benfica, um dos mais bonitos e modernos do mundo, Estádio da Luz, de seu nome, ficou muito mais iluminado e luminoso ainda com a visita refulgente do Presidente Lula, significativamente no dia 7 de setembro, o dia invocativo da Independência do Brasil.

Constituiu esta presença, radiosa de charme e de afecto, uma impressiva e auspiciosa janela que assim se abriu ao crucial e almejado desígnio da mundialização do Benfica, clube com uma riquíssima história no contexto nacional e até europeu, mas que tropeça no enredo da exiguidade contextual de um país, também ele rico em história, mas aprisionado a uma espécie de sina geográfica que parece condená-lo a uma dolorosa marginalidade. Este, de resto, o equívoco trágico da humanidade: julgamo-nos reféns das circunstâncias, quando, na realidade, nós somos os donos dessas circunstâncias.

E também aqui a lição de Lula que assumiu a Presidência de um país que parecia, então, como que resignado à fatalidade de desequilíbrios fatais (que se mantêm ainda, mas com grandes progressos) e que, hoje, irrompe como um dos países com mais ridente futuro no concerto das chamadas potências emergentes.

Não, não há determinismo que, de fora, nos condicione e molde – somos nós, cada um de nós, que determinamos, através do respectivo grau de consciência, a nossa própria realidade.

E, neste sentido, nem o Benfica está refém da geografia que o condene a um estatuto de subalterna irrelevância, nem, por seu lado, o Brasil está condenado a viver-se na experiência epidérmica e fútil de apenas futebol e samba – isso, claro que sim, mas muito mais.

E se o futebol brasileiro reproduz ainda, quer no plano atlético-táctico, quer no plano estético, uma certa leveza temperamental, uma certa tendência para a dança, mais do que para a peleja, a verdade é que cada vez se nota mais a tendência para um certo enrijecimento dos gestos e dos modelos tácticos do jogo – cada vez Apolo se equilibra mais com Dioniso. E é desta mistura, na dose certa, entre a racionalidade geométrica, do rigor e da força, com a emoção fruitiva do jogo, vivido como bailado de vontades em agonística busca d’0 paroxismo do golo, que resultará, creio, um novo fôlego do futebol brasileiro.

Vejo nesta “europeização” parcial (sim, só se for parcial é que resulta) do futebol brasileiro não uma claudicação cultural, mas um instrumento útil para a valorização mundial dos próprios clubes brasileiros – que não apenas da sua selecção.

Como vejo, nesta abertura do Benfica ao mundo com mediador tão telegénico e acarinhado como é Lula, um auspicioso movimento de sintonia afectiva com populações distantes, mas unidas pelo sonho – porque um só elemento há a uni-las: os ícones da felicidade rápida que as actuais vedetas do futebol moderno personificam.

É sempre a partir do indivíduo e do núcleo personalizado das instituições que irrompe essa força demiúrgica que constrói mundo e dá novos mundos ao mundo – como foi o mundo, chamado Brasil, que Portugal, orgulhoso, deu ao mundo.

E não deixa de ser deveras sintomático que, no dia 7 de Setembro, dia desse novo mundo, tenha sido um dos seus mais ilustres filhos a dar a conhecer ao mundo este mundo glorioso que é o Benfica.

Ao mesmo tempo que colhia em tão belo anfiteatro ideias novas para surpreender o mundo através da beleza e funcionalidade dos novos estádios que vão ser palco da Copa 2014 nesse país maravilhoso que é o Brasil, esse mundo de floresta, sol e praia, ao longo do qual se recreia, sonhador, o imaginário de qualquer português.

E foi também esta partilha afectiva e afectuosa que inundou de esperança o Estádio da Luz no passado dia 7 de setembro.


*José Antunes de Souza é professor universitário e autor do livro "Desporto em flagrante".

Esse texto foi mantido em seu formato original, escrito na língua portuguesa, de Portugal.

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