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"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

quinta-feira, novembro 10, 2011

Reclamar do árbitro: aspectos emocionais e físicos fazem jogador levar muitos cartões neste Brasileirão

Fatores contribuem de forma fundamental para a irritabilidade dentro de campo, o que faz aumentar a impaciência e a agressividade nas partidas
Guilherme Yoshida

Ver o árbitro ser cercado por jogadores após a marcação de um pênalti ou por ter anulado um gol já é cena comum dentro dos campos de futebol.

Neste Campeonato Brasileiro, porém, a indignação com a arbitragem tem causado grande volume de cartões aos atletas. Segundo pesquisa baseada nas justificativas dos árbitros nas súmulas de cada partida, cerca de 12% dos cartões mostrados até a 32ª rodada do Nacional foram por reclamação.

A revolta com o apito, que inclui atitudes como protestos com gestos, aplausos irônicos e xingamentos, se deve basicamente aos aspectos emocionais de cada jogador e ao desgaste físico gerado durante os 90 minutos. O levantamento foi publicado originalmente no jornal Folha de S. Paulo.

Estes fatores contribuem de forma fundamental para a irritabilidade dentro de campo, o que faz aumentar a impaciência e a agressividade dos atletas nas partidas.

“O cansaço físico também gera desgaste emocional. E é na pressão que você avalia como os jogadores lidam com as questões da vida”, explica Katia Rubio, professora da USP e autora de diversos livros sobre psicologia esportiva.

Em números absolutos, os cartões (somados os amarelos e vermelhos) por reclamação chegaram a 217 de um total de 1.769 cartões mostrados até agora na competição.

Para a psicóloga Katia, a falta de educação também está inserida neste contexto das advertências por indisciplina.

“Os jogadores atuais fazem parte de uma geração que se vê no direito de contestar tudo, mesmo quando não tem razão. Isso passa pela forma dos pais de educar os filhos e resvala na falta de educação”, declarou.

Um outro componente emocional apontado como um fator que pode
comprometer o equilíbrio dos jogadores em campo é a ansiedade caracterizada pelo "medo de errar". Segundo pesquisas, 67% dos atletas têm esse receio e a ansiedade à flor da pele compromete o humor.

“Não se pode ver estes resultados apenas pelo lado cultural pois depende também das características de personalidade. Existem jogadores com componentes narcísicos em suas personalidades, que não toleram interceptações e nem críticas. Não aceitam retroalimentação, sentem-se merecedores de ganhos especiais e se tornam agressivos com atitudes que firam sua grandiosidade. Como também existem juízes narcísicos, o confronto acaba ficando quente”, analisa Sonia Román, psicóloga que trabalhou no Santos por dez anos.

A figura do árbitro nesta pesquisa também é parte fundamental para se chegar aos principais motivos dos cartões mostrados na principal competição de futebol do país.

Para se ter uma ideia do perfil do jogador que atua no Brasil, o levantamento feito precisou tornar como “verdade absoluta” o que os juízes escreveram nas súmulas como justificativa para cada cartão mostrado.

“Tudo aquilo que envolve julgamento passa por valores de quem julga. Apesar de todo o conhecimento técnico adquirido durante a sua formação, o árbitro terá uma leitura da jogada reforçada pelos seus princípios éticos e morais”, aponta Katia Rubio.


 

Os Reclamões

Os cartões por reclamação estão mais relacionados aos times que figuram na parte de cima da tabela.

Um dos candidatos ao título brasileiro, o Vasco, que conta com jogadores experientes como Juninho Pernambucano, Diego Souza e Felipe, lidera a lista dos reclamões: foram 19 cartões amarelos e uma expulsão.

Internacional e Flamengo, que estão na disputa por uma vaga na Libertadores do ano que vem, ficaram atrás dos vascaínos, com 18 e 15 advertências, respectivamente.

“Estamos atentos a isso e tentamos orientar bastante os atletas a não reclamarem. No Inter, temos este problema com o D'Alessandro, que gesticula muito com os braços e faz o árbitro se sentir pressionado. Mas, no geral, o jogador tem de ter a consciência de quem manda no jogo", declarou Cuca Lima, diretor de futebol do clube gaúcho.

Contestar a arbitragem, no entanto, é o segundo motivo pelo qual os atletas foram mais advertidos com cartões amarelos e vermelhos neste Nacional.

As faltas (derrubar, calçar, segurar, dar tranco no adversário e até mão na bola) foram as infrações que mais fizeram os árbitros pôr a mão no bolso: 1.294 vezes, ou 73,14% dos cartões.

Com 71 amarelos e sete vermelhos, o Atlético-MG foi a equipe mais penalizada.

“A falta não determina o caráter do atleta. O estudo e pesquisa da agressividade é complexo e sendo assim não há uma resposta definida ou única. A agressividade no futebol é mais vista porque é o esporte das massas”, diz Sonia Román.

“Mas pode-se fazer uma consideração em relação à posição que o jogador atua em campo. Os zagueiros são sempre mais agressivos e têm uma crença disfuncional que aprendem desde meninos: 'Você é o último homem, não pode errar'. Esta crença pode conduzir a um comportamento mais agressivo ditado pela ansiedade do medo para não sofrer repreensões. Tem técnico que diz: 'Pode errar em treinos, mas não em jogo oficial'. Então você imagina o alto nível de estresse que é passado a este atleta”, finaliza.

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Benê Lima