Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

domingo, junho 10, 2012

O conceito de bolsas de estudos para futebol nos Estados Unidos

As universidades norte-americanas não são gratuitas. O que há são diferentes tipos de descontos. Entenda as diferenças

Nesta época do ano, quase que diariamente recebo e-mails de jovens interessados em estudar e jogar nos Estados Unidos. Muitas vezes as perguntas e dúvidas são as mesmas. Portanto, decidi escrever sobre o “mito” das bolsas de estudos.

Talvez pelo fato de várias universidades brasileiras serem gratuitas, a verdade é que o brasileiro é um pouco mal acostumado. Sempre acha que o estudo universitário é um direito, quando na verdade é um privilegio. Digo isso, pois lembro que quando cursava a Unicamp, em Campinas, sempre ouvia reclamações dos alunos da falta de certa estrutura, mas quando a reitoria mencionava qualquer pagamento ou taxas, daí vinham as menções a greves. Ao fim do dia, sempre achei errada essa postura de que ensino deve ser gratuito.

 


Mais ou menos a mesma linha de pensamento se aplica quando jovens brasileiros pensam em jogar o futebol universitário. Todos acham que o conceito "bolsa de estudo" significa "tudo de graça". A verdade é bem diferente. Em primeiro lugar, independentemente de uma universidade americana ser privada, estadual, ou federal, todas custam. Não há nenhuma grátis. O que há é um preço diferente para os que residem dentro do estado, e/ou que possuem notas boas, e/ou que se qualifiquem para diferentes bolsas (sim, há mais de um tipo de bolsa, o que já da uma dica que a palavra integral não é anexada automaticamente...).

Deixe-me ser mais específico quanto à palavra “bolsa”. Há dois sentidos para ela: em primeiro lugar, qualquer “desconto” dado por qualquer motivo é chamado de bolsa. Exemplos de desconto (ou bolsas): desconto acadêmico (prêmio para quem tem notas boas), desconto para alunos internacionais (algumas escolas dão isso para ajudar na diversidade da população de alunos), desconto federal (para americanos com problemas financeiros), desconto estadual (para americanos que moram no estado em que estudam), desconto atlético (para atletas que participam em algum esporte), etc.

O segundo sentido da palavra bolsa é para a definição do “orçamento” (budget) dos técnicos de futebol ou qualquer outro esporte. A verdade é que nos EUA há limites de quantas “bolsas” podem ser dadas para times de futebol (a palavra bolsa, aqui, significa o custo de estadia, alimentação e o custo da escola). Há ligas que permitem 11 bolsas, nove bolsas, etc. Ou seja, o técnico tem esse orçamento (por exemplo, 11 vezes o custo total) para ser dividido entre os jogadores do plantel. Portanto, não é todo mundo que vem de graça...

Já que citei os diferentes “orçamentos” das diferentes ligas, me deixe ser mais específico. A liga NCAA divisão 1 permite até 9,9 bolsas atléticas para o futebol masculino e 14 para o feminino. A liga NCAA divisão 2 permite até 9 bolsas atléticas para o futebol masculino e 9,9 para o feminino. A liga NCAA divisão 3 não permite bolsas atléticas. Mais um aspecto: as três divisões da NCAA permitem bolsas acadêmicas sem limite (em geral, a liga de divisão 1 oferece poucas bolsas acadêmicas, a divisão 2 um pouco mais, e a divisão 3 mais ainda...).

Por último, a liga NAIA permite até 11 bolsas somando atlética e acadêmica. Para exemplificar, minha universidade, que é de divisão 2 (Lincoln Memorial University), possui as nove bolsas atléticas e em média mais umas cinco acadêmicas (um cálculo que flutua, pois depende das notas dos jogadores).

Ah, sim, mais uma pequena observação: as universidades aqui são caríssimas!

Independentemente de serem públicas ou privadas, elas custam em média algo em torno de 30 mil dólares por ano (curso mais estadia e alimentação). Portanto, alguém com uma bolsa total de, por exemplo, 90%, ainda tem um custo médio de 3 mil dólares.

Com as informções acima, o leitor pode projetar matematicamente que a maioria dos técnicos de futebol nos EUA tem um orçamento que cobre em média de 50% a 70% do custo total da universidade. Obviamente, a distribuição das bolsas não é igual a todos, sendo comum que os principais jogadores recebam de 90% a 100% e os jogadores de nível um pouco inferior recebam menos...

Por último, gostaria de lembrar a quem tem interesse em jogar futebol aqui recebendo “bolsa” (desconto de qualquer tipo). Quantas vezes eu escuto reclamações de jovens aos quais são oferecidas uma bolsa que cobre “apenas” o custo da escola e não a estadia e alimentação.

Será, então, que esses alunos agora querem que, por exemplo, a Unicamp custe zero e permita que eles comam de graça e morem de graça em apartamentos? 

Tags: estados unidos, Universidade, intercâmbio, escolas de futebol, educação, Jovens,investimento

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Benê Lima