Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

quinta-feira, setembro 01, 2011

Acerto impensado é erro. E erro que dá certo não é acerto; é sorte!

Eles sofrem em ser julgados por quem está em condição inferior e vê fenômeno de modo reducionista e simplista

César Cavinato

 

Comumente ouvimos na imprensa esportiva e nos bate-papos de botequim muitas reclamações sobre meio campistas “camisas 10”.

Frases como “Já não se fazem mais ‘camisas 10’ como antigamente” parecem se repetir constantemente.

Mas será que essa avaliação é correta?

Muitos atletas consagrados em nosso meio (Rivelino, Rivaldo, Alex-Fenerbaçe, Souza – Rio Branco/Corinthians/São Paulo/seleção, Valdívia, Douglas – Grêmio, Ricardinho – Bahia, Djalminha, Diego Souza, Roger – Cruzeiro, e dezenas de outros jogadores) cansaram de num dia ser considerados craques por jogadas geniais e n’outro ser chamados de sonolentos por segurarem demais a bola ou parecerem não ter efetividade nas jogadas.

Mas será que é possível haver um meio termo entre a genialidade e a sonolência?

Na história da humanidade muitos gênios foram injustiçados por enxergarem a frente de seu tempo. Alguns inclusive foram severamente punidos.

No futebol, o grande problema é que só vemos a jogada concluída. Raramente saberemos a verdadeira intenção do jogador e o que este realmente pretendia fazer. Em nossa limitação, só conseguimos julgar o que de fato ele fez, mas nunca o que queria fazer.

Lembro-me de uma interessante frase que surgiu nos tempos em que eu treinava equipes universitárias de futebol – a qual norteou o título dessa coluna – e apresenta os seguintes dizeres: “Acerto impensado é erro. E erro que dá certo não é acerto; é sorte!”.

Com essa frase entendo porque muitos torcedores pegavam – e ainda pegam – no pé de jogadores eleitos por eles mesmos como craques.

É que o jogador genial está sempre querendo fazer a melhor jogada. Ao decidir se deve chutar, passar ou driblar, o jogador genial irá verificar todas as possibilidades para depois escolher a melhor. A tragédia é que quanto mais opções ele pensa, mais tempo ele demora e é exatamente aí que ocorrem as injustiças.

Por não possuir a mesma genialidade do jogador, a maioria dos torcedores toma a decisão mais rápida, mas geralmente sem saber se ela realmente é a melhor. Cria-se, então a expectativa de o jogador reproduzir exatamente o que está no pensamento do torcedor (que geralmente é só avançar para o gol), mas quando isso não acontece já é motivo de condenação: “Sonolento!”.

Mas o que será que vale mais a pena? Demorar um pouco mais e tomar a melhor decisão possível ou decidir o mais rápido possível mesmo correndo o risco de não ser a melhor opção?

Obviamente que o ideal é decidir o certo no menor intervalo de tempo possível, e é exatamente quando isso ocorre que aquele sonolento se torna craque. Nesses casos, surge uma jogada que nos dá a impressão de que só aquele jogador viu aquela determinada jogada e por sua maestria na execução foi que ela deu certo. É aí que precisamos assistir ao lance dezenas de vezes em câmera lenta para entender como aquela jogada pôde ser realizada e como aquele atleta viu o que ninguém viu.

Mas é justamente por ser genial que ele viu – e fez – o que ninguém veria ou faria.

O gênio sofre em ser julgado por aqueles que se encontram numa condição inferior e geralmente enxergam o fenômeno de outro jeito – quase sempre reducionista e simplificado.

A resultante dessa diferença normalmente acaba num julgamento errôneo, contudo não é tão danoso quando ocorre apenas por parte da torcida. Triste mesmo é quando ocorre por treinadores ou dirigentes medianos que, ao invés de explorarem o potencial do diferente que está acima da média, tentam enquadrá-lo no esquema da maioria e transformam seus craques em sonolentos; seus sonolentos em sonâmbulos e seus sonâmbulos em zumbis. Com isso acabam com qualquer probabilidade de sucesso por falta de visão.

Quem dera fossemos todos acima da média! Mas não somos!

Sendo assim, podemos pelo menos respeitar as potencialidades individuais e explorar o que cada um tem de melhor. Com isso já saímos em vantagem.

Finalizando, seja você quem for – torcedor, jogador, treinador ou dirigente – genial ou não, esforce-se para sempre analisar todas as possibilidades antes de tomar a melhor decisão; mesmo que para isso seja necessário esperar um pouco mais de tempo.

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