Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

domingo, junho 19, 2011

Arenas] Incompatibilidade entre o que se pensa e o que se tem no futebol

Elitização dos estádios

 
Postado  por Junior Lourenço

 


Reforma do Maracanã pode custar até R$ 1 bilhão

 

O torcedor só é lembrado como contribuidor

Novas arenas, estádios multi-uso, complexo de eventos, espaço empresarial. Termos em voga nesse período Copa-2014. Entre os projetos megalomaníacos que deixariam vaidosos imperadores do passado com inveja, muitos mostram maquetes, obras, reformas de aeroportos, mas poucos mencionam um elemento no mundo do futebol: o torcedor. É, o torcedor, lembra?

Antes de mais nada, vale frisar que conforto não faz mal a ninguém. As propostas das arenas apresentam espaços melhores para o torcedor acompanhar as partidas, com conforto, qualidade e segurança – que deveriam ser obrigação, diga-se. Mas a que custo? Atualmente, o preço das entradas não é compatível com a realidade do torcedor. O absurdo é maior em jogos decisivos. Aproveitando-se da paixão incondicional somado à euforia de chegar perto de um título, as diretorias ouriçadas aumentam astronomicamente o valor dos bilhetes.

Também, alguns dos problemas mais corriqueiros enfrentados pelos torcedores não estão no estádio, mas ao seu redor. Filas e cambistas, por exemplo. Para corrigir esses problemas, é necessário mais do que levantar um imponente complexo. Exige preocupação com o público, e isso parece longe da prioridade dos dirigentes.

Não precisa ser um gênio para identificar que esses novos palcos do esporte terão que ser pagos – e mantidos – de alguma forma. Além da isenção fiscal (assunto controverso, para uma próxima coluna) dos investimentos públicos e privados, e da venda de camarotes à patrocinadores, os clubes vão precisar expandir suas receitas para a manutenção de suas casas. E é aí que o torcedor será afetado.

A média de público no Brasil está bem abaixo da de muitos países

Arriscado. Nossas médias de público estão longe das principais do mundo. Com ingressos caros , é difícil acreditar que essa média irá elevar-se em um curto espaço de tempo. Até mesmo a Copa do Mundo pode ser afetada, como vimos na África do Sul. Ingressos salgados para uma população de baixo poder aquisitivo(na média) resultaram em partidas com baixo público. Certa vez em uma palestra, perguntei ao diretor de Marketing do São Paulo Futebol Clube, Orandi “Nino” Moura, se não era perigoso cobrar alto pelos ingressos na Copa de 2014. A resposta: “é um risco que temos que correr”.

Exemplo de arena multiuso em maquetes

Clubes abandonam torcedor com perfil tradicional e buscam novo perfil

O problema é tão complexo que até a solução é controversa. Dispostos a elevar o “padrão” dos estádios, os clubes caminham em busca de um novo público, com poder aquisitivo elevado. Esse público "diferenciado", assim em aspas mesmo, até consegue pagar por esses ingressos, mas em troca não oferece ao clube o mesmo apoio do torcedor convencional. Sim, lembre-se, ainda estamos falando de um jogo de futebol. Em troca do dinheiro arrecadado, algumas consequências são inevitáveis. Como exemplos, temos a nova torcida do Chelsea pós-Abramovich, acusada de 'modismo' pelos torcedores mais tradicionais, que acompanham o clube londrino desde sua época de coadjuvante. Ou então, o público da despedida de Ronaldo, classificado pelo comentarista Mauro Cezar, da ESPN, como 'torcida de vôlei', com todo respeito ao esporte de Giba e Bernardinho.

Há espaço mas não há dedicação para todos. Com raras exceções, as estratégias de marketing são voltadas para o tal público diferenciado. À longo prazo, talvez isso resulte em uma falta de identificação com o clube e sua história.

Clubes não sabem lidar com seu público

Seria bom ver as diretorias pensando primeiro nos torcedores. Cuidar do seu público também é marketing. Facilidade pra compra de ingressos, atrativos para o jogo e principalmente, manter o relacionamento com o mesmo. Seja fisicamente, seja nas redes socias ou em ações espontâneas, as equipes deveriam estar presentes no cotidiano dos torcedores, antes mesmo de pensar em vender produto A ou B.

É claro, não são ONGs. O clube precisa de receitas e lucros para se manter saudável e competitivo. Se a partir desse relacionamento você conseguir torcedores-clientes, ótimo, melhor ainda. Mas medir a paixão de alguém pelo clube não pode ser através do 'quem gasta mais'.

Se não frearmos isso já, poderemos ver a elitização dos estádios e confundir a torcida arquibancada com uma plateia de teatro.

Quando isso acontecer, não me convide.

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Benê Lima