Deve-se haver um envolvimento da CBF, federações de futebol, CONFEF/CREF e instituições de ensino em busca da regulamentação de um curso único que contemple e atenda as necessidades da profissão
José Luiz Correa**
*Este é parte de um texto enviado ao CREF-SP em 2004, objetivando pontuar sobre a estrutura do futebol brasileiro, procurando auxiliar na regulamentação da profissão de treinador de futebol. Passados quase sete anos, pouca coisa mudou, ou seja o texto continua atual...
Sabemos que o futebol é um desporto com que o país tem uma identidade muito forte, que é considerado um produto nacional, onde há grandes investimentos por parte de TV’s e patrocinadores, envolvimento de muitos profissionais e é um considerável gerador de empregos diretos e indiretos. Até os dias de hoje não atingimos o nível ideal de profissionalismo em planejamento, administração de clubes, atuação de procuradores e empresários entre outras áreas, inclusive critérios para admissão e seleção de treinadores e uma melhor conduta de ética na relação trabalhistas destes com os clubes.
Com um lento desenvolvimento deste esporte, atualmente ainda vemos o futebol brasileiro com sérios problemas estruturais, desde a formação de um atleta até a organização coerente de uma competição, comprometendo o processo evolutivo do nosso futebol. Os profissionais que atuam neste universo devem ter uma reflexão sobre estes processos. Podemos, sim, melhorar o trabalho de diversos profissionais como dirigentes, atletas, empresários, imprensa, treinadores, preparadores físicos e outros.
Falemos sobre treinadores: é importante um treinador ter conhecimento específico acadêmico se possível prático e ter uma visão multidisciplinar. Na Europa, Itália, Espanha, França, Holanda e Inglaterra existem várias escolas/universidades que ministram cursos para treinadores, sendo que em seus respectivos países o treinador deve passar por elas para poder atuar.
Aqui no Brasil existem alguns cursos e palestras geralmente organizadas por sindicatos que duram em média cinco dias, além de outros cursos segmentados. Longe de termos uma formação de treinadores estruturada, organizada e chancelada pelas instituições de ensino, CBF e Federações.
Em países como a Holanda através do site (www.knvb.nl), uma das exigências é dominar o inglês e ter formação acadêmica. Na Itália, no Centro Técnico Coverciano, mantido pela Federação Italiana de Futebol, há três níveis de curso (licença) e só fazendo o curso máster é possível dirigir uma das equipes da Série A.
No Brasil um atleta por ter sido jogador profissional de futebol é denominado instrutor de futebol através da lei 6.354/76 em seu art. 27 que regula a profissão do atleta profissional de futebol; por outro lado o CONFEF (Conselho Federal de Educação Física) através da lei 9696/98 que regulamenta o profissional de Educação Física, e a lei 8650/93 que regula o Treinador de Futebol em seu parágrafo 3º travam uma conquista judicial pela prerrogativa do exercício da profissão de treinador.
Após reivindicações e conquistas por parte dos atletas profissionais através de seu sindicato, O CONFEF criou o sistema de registro provisionado, onde através de comprovação de experiências como atleta e participação em módulos de estudo (ver no site www.crefsp.org.br como funciona este sistema) tem credenciado o atleta mediante um registro junto ao CREF a atuar de forma legal como treinador de futebol.
Atualmente existe uma Ação Civil Pública 2004.61.00.023290-2 movida pelos sindicatos de atletas e treinadores que dá o direito aos treinadores pertencentes a este sindicato de não serem regidos pelo CONFEF/CREF. Ainda cabe recurso para o CONFEF/CREF. Porém este assunto poderá ser discorrido em outro momento com maior profundidade, pois demanda mais linhas, e percebe-se que não terminará brevemente pela falta de entendimento comum entre as partes.
Deve-se haver um envolvimento da CBF, federações de futebol, CONFEF/CREF e instituições de ensino em busca da regulamentação de um curso único que contemple e atenda as necessidades que requer a profissão de um treinador para não baixar a qualidade da metodologia de ensino. Curioso que não se exige formação acadêmica a um treinador, porém para um preparador físico é imprescindível.
Geralmente supervalorizam o treinador (vários com grandes responsabilidades e altos salários, que até fazem jus a tal) e não é dado o valor merecido ao preparador físico, sendo que em alguns casos o mesmo tem mais participação no desempenho da equipe do que o próprio treinador que apenas escala.
Com a globalização de informações através de vários veículos de comunicação, como internet, TV paga, etc., ainda existem treinadores que encontram dificuldades em realizar um trabalho com planejamento, periodização, dosagem de cargas (intensidade e volume), trabalhos técnicos e táticos, mesmo tendo a seu favor assessoria de diversos profissionais como fisiologistas, psicólogos e outros. Entende-se que o treinador deva ser especialista com uma visão multidisciplinar, com noções de treinamento físico, avaliação em futebol, psicologia, enfim, em todas as áreas que dão suporte à equipe.
Somos pentacampeões, mas segundo a CBF em 2009 havia 783 clubes profissionais; se estes clubes trabalharem suas categorias de base, infantil, juvenil e juniores, teremos um grande números de atletas, e se o trabalho de base nos clubes fosse mais bem estruturado, poderíamos ter muito mais revelações e jogadores mais bem preparados - mas este também é um tema para uma outra oportunidade.
Com essa quantidade de clubes teremos aproximadamente 3.132 treinadores atuando, somados aos de escolinhas particulares, núcleos esportivos do governo em periferia e grandes centros.
Reflexões
Por que apenas se falam em no máximo 10 treinadores de destaque? Por que os nossos treinadores não são convidados para dirigirem os grandes clubes da Europa? Porque temos muito pouco material didático, como livros, DVD´s, etc. Diferentemente do que se encontra nos países da Europa e EUA.
Quem deveria fazê-los quem atua no futebol na prática, na teoria ou na inter-relação destes conhecimentos? Podemos evoluir melhor também na realização de eventos, congressos, palestras e debates sobre futebol.
A estruturação e o profissionalismo do nosso futebol devem acontecer nos dias de hoje, deve ser parte das obrigações de um país que sediará uma Copa do Mundo, e não aguardar em berço esplêndido, acreditando que tudo vai se ajustar durante e após a Copa. Não queremos isto como um legado!
**Graduado em Educação Física pela Universidade de Mogi das Cruzes, Pós Graduado como Treinador Profissional de Futebol pela USP, Gestor Esportivo e ex- atleta de futebol.Contato: joseluiz.correa@hotmail.com
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Sinopse
"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."
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sábado, junho 04, 2011
Reflexões sobre a formação e atuação dos treinadores de futebol*
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Benê Lima