Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

segunda-feira, junho 06, 2011

Qualquer sistema é bom, desde que bem aplicado

Capacidade de mexer nas peças para alterar funções sem provocar mudanças nas estruturas do sistema é um dos diferencias dos grandes treinadores

Nivan Gomes*

O sistema utilizado em uma partida de futebol deve ser flexível para se ajustar às necessidades durante a partida. Se ao treinador é dada a oportunidade de fazer substituição, isso deverá ser utilizado para mudar sua maneira de jogar, e não tão somente para reparar uma expulsão ou algum acidente de contusão.

O treinador tem que ter consciência de que um sistema não deve ser uma coisa engessada, ou com um padrão definido de jogo retirado da prancheta, porque é na sua aplicação que são definidas as variáveis que devem ser implementadas, dependendo das circunstâncias que são apresentadas durante a partida.

O que faz a diferença entre um treinador e outro quando os dois se utilizam do mesmo sistema é justamente a capacidade de mexer nas peças para alterar funções sem provocar mudanças nas estruturas do sistema.

Existe uma máxima no futebol que se diz que: "em time que está ganhando não se mexe". Não se mexe na estrutura do time, mas as alternativas que o sistema oferece possibilitam, sim, fazer alterações mantendo ainda um time vencedor.

Vamos detalhar melhor como isto ocorre. Um sistema é mais que a distribuição de seus jogadores no gramado. Cada elemento tem sua função determinada que no conjunto irá resultar no sucesso do time, que é justamente a somatória dos sucessos individuais.

Muitos afirmam que na hora da decisão quem define ainda é o talento individual. O talento pode até definir em um lance, uma partida, mas esse talento não aparece durante os 90 minutos de jogo, quem aparece durante todo o jogo é o coletivo. Sem o coletivo o talento é inútil.

Todos ficam encantados quando assistem alguns times europeus mostrarem nos dias de hoje uma disciplina tática que estamos anos luz para atingir. Seus jogadores com dois ou três toques na bola resolvem em triangulações perfeitas, situações que para nós utilizamos o triplo em tempo e toques para o mesmo problema.

Nosso futebol ainda não saiu do individualismo. Sempre ficamos na dependência do talento de um ou dois jogadores do time para resolver o jogo. Isso porque nossa mentalidade é de valorizar o individual em detrimento ao coletivo. Não podemos depender da inspiração individual. Isso pode até analtecer determinado atleta, mas a valorização do coletivo deve ser o principal objetivo.

Dos fundamentos do futebol, reputo o passe como principal elemento. Sem um passe de qualidade com precisão em tempo e espaço, fica difícil a qualidade do coletivo aparecer. Assim como o nado sincronizado, o futebol também é um esporte de movimentos coordenados. Um atleta que se desloca no tempo e no espaço errado induz todo o coletivo para uma ação mal realizada. Todo movimento deve ser realizado para render melhor com o esforço empregado e que o resultado some para o coletivo, mesmo que esse esforço tenha sido individual.

Em disputas individuais o atleta oferece sempre uma opção ao adversário que lhe possibilite uma rápida recuperação da bola. O mesmo ocorre com o coletivo: devemos sempre oferecer ao adversário a opção que queremos que ele tome, assim passamos a ele a ilusão que ele está tomando a iniciativa, quando na verdade ele está fazendo exatamente o que queremos que ele faça.

Isso deve ocorrer em todas as oportunidades em que uma ação será reiniciada a partir de uma paralisação do jogo. Então, atraímos o adversário para chamadas zonas neutras do campo, tiramos seus defensores de suas zonas e fazemos variações de movimentos, induzindo-os a mudanças de áreas para dificultar sua recuperação de defesa.

Em um sistema, alguns jogadores devem ter uma função de liberdade de movimento, o que possibilitará que em determinada zona do campo, ter um maior número de atletas em relação ao adversário. Isso deve ser aplicado nos três setores do campo, o que exige dos atletas com essa função um desgaste físico acima da média.

Respeitando as características individuais de cada atleta, sua função deverá ser definida para somar no conjunto. O treinador deverá escolher o sistema de acordo com o elenco que tem a sua disposição. Então ele poderá ter um time com mais pegada, mais veloz, um misto dos dois e definir sua postura de ação, de que forma irá atacar, atraindo o adversário para seu campo, ou se por pressão no campo do adversário, correndo os riscos que isso resulta. Sua ação de ataque sempre terá como base uma ação de defesa; como se diz na linguagem do futebol, a melhor defesa ataque é o ataque.

Tudo isso independe do sistema adotado. No futebol, qualquer sistema é bom desde que bem aplicado.

*Nivan Gomes é treinador de futebol; CREF4/SP 53184 – São Paulo/Brasil e COFEF – Conselho Federal de Educação Física – Rio de Janeiro/Brasil

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