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"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

segunda-feira, junho 06, 2011

Brasil ainda não alcançou o padrão Fifa na organização de eventos

Em primeiro teste para 2014, Brasil repete em Goiânia falhas da África do Sul

por Thiago Arantes, de Goiânia (GO), para o ESPN.com.br

Goiânia não está entre as sedes da Copa do Mundo de 2014, mas o clima na cidade durante o sábado fazia lembrar o de uma cidade da África do Sul na época do Mundial de 2010. A comparação se justifica: o amistoso entre Brasil e Holanda foi o primeiro evento teste para a Copa, sobretudo em aspectos como segurança, estrutura de imprensa, acessibilidade e trânsito.

O resultado do jogo decepcionou a torcida, mas os organizadores ficaram satisfeitos com o desenrolar do evento. Não houve grande falhas estruturais. Mas erros menores, vários, aconteceram. Em seu primeiro teste, o Brasil repetiu falhas que foram vistas no Mundial da África.

O grande desafio, e também a principal preocupação, era a segurança. O esquema montado no Serra Dourada foi o mesmo que deve ser usado nos jogos do Mundial de 2014, com números semelhantes ao dos estádios sul-africanos no ano passado. Foram 650 seguranças particulares, 290 agentes da Polícia Militar (70 dentro do estádio), 22 homens do Batalhão de Choque e 24 integrantes da polícia cavalariana. 

Nesse aspecto, o Brasil foi aprovado no teste. Não houve grande problemas de segurança, embora a partida ajudasse: era jogo de uma torcida só. O uso de camisas e bandeiras de clubes brasileiros e estrangeiros foi liberado, o que poderia causar momentos de tensão - mas corintianos e palmeirenses, robro-negros e vascaínos, esmeraldinos, vila-novenses e atleticanos se uniram para torcer pela apoiar a seleção. Pelo menos no início da partida. Depois, houve quem vaiasse e chamasse a seleção de timinho.

Os torcedores pagaram entre R$ 150 e R$ 800 pelos ingressos, mas teve quem precisou assistir ao jogo em pé. Vários acessos às arquibancadas estavam lotados de torcedores que, sem acharem seu lugar, acomodaram-se nas escadas ou nem se sentaram durante os 90 minutos de partida.

Ordem e progresso da bandeira brasileira estão longe do necessário para a Copa de 2014

Ordem e progresso da bandeira brasileira estão longe do necessário para a Copa de 2014
Crédito da imagem: Agência Estado

Torcida também falha ao jogar lixo no chão, mas cestos de coleta também eram poucos

Mas os torcedores também falharam. Após o duelo, o técnico Mano Menezes disse que a torcida brasileira tem que ser 'educada' para não vaiar na Copa do Mundo. O técnico poderia estender seu pedido de educação para que não jogassem lixo no chão. Após o jogo, o interior o do estádio virou uma lixeira gigante. O fato pode ser explicado - mas jamais justificado - devido ao baixo número de cestos de lixo nas aquibancadas e acessos ao estádio. O acúmulo de lixo nos estádios é algo que também aconteceu na África do Sul. Um erro a ser corrigido nos próximos três anos.

Para os jornalistas e fotógrafos, a estrutura montada no Serra Dourada foi um avanço com relação ao que o estádio normalmente oferece. Antes, não havia nem sequer uma sala de imprensa, e a conexão de internet não atendia às demandas. Para o amistoso, foi criada uma instalação provisória para os profissionais, com acesso wireless. Durante o jogo, contudo, os quatro televisores da sala não tinham sinal da transmissão. Assim, a organização teve de liberar a entrada de todos os jornalistas para as tribunas, mesmo os que não tinham ingressos.

Os acessos ao estádio também melhoraram. As mudanças no trânsito nas imediações do Serra Dourada, além da duplicação de vias ao lado do estádio especialmente para o jogo, facilitaram a vida dos torcedores que foram apoiar a seleção. Os estacionamentos oficiais do estádio custavam R$ 10, valor considerado baixo se comparado aos praticados em outros estádios brasileiros. O caso do Serra Dourada, contudo, é excepcional: o estádio fica ao lado da BR-153, uma das principais rodovias que cruzam Goiania, o que facilita o acesso. Além disso, a área de estacionamentos nos arredores é uma das maiores do país. 

As maiores preocupações no primeiro evento teste para o Mundial de 2014 ficaram fora do estádio. No entorno do Serra Dourada, camelôs vendiam camisas de Brasil, Holanda e de clubes nacionais e internacionais. Todas falsas, por até R$ 10. A versão 'genérica' da Jabulani, a bola da Copa do Mundo e 2014, era vendida por R$ 25. 

Vendedores de churrasquinho e sanduíches também tiveram passe livre no Serra Dourada 

Além disso, os tradicionais vendedores de churrasquinho e sanduíches - os mesmos que costumam dar as caras no estádio - estavam nos arredores do Serra Dourada. Em eventos da Fifa, a entidade coíbe fortemente os falsificadores, o que não aconteceu ontem em Goiânia. Comida e bebida só podem ser vendidas por comerciantes credenciados, em locais designados pela própria Fifa. Em regra, são vendidos apenas produtos patrocinadores do evento. 

A maior semelhança entre o primeiro teste do Brasil e a última Copa do Mundo, contudo, foi no que diz respeito aos ingressos. Na África, as entradas eram mais baratas para moradores locais, o que permitiria aos sul-africanos irem aos estádios. Só que vários deles vendiam seus ingressos a estrangeiros pelo preço comum, ou às vezes até mais caro, agindo como cambistas.

No sábado, em Goiânia, a cena se repetia. O governo do estado comprou 18 mil entradas, que poderiam ser trocadas por R$ 200 em notas fiscais, mais 5kg de alimento. E os cambistas comercializavam esses ingressos "do governo" nas cercanias do estádio, em pontos tradicionais de venda em Goiânia e até no hotel da seleção brasileira.

O primeiro evento teste para a Copa do Mundo de 2014 mostrou ao Brasil muito das falhas que a África do Sul já havia mostrado. Organizar um Mundial vai muito além de construir estádios: envolve treinamento de pessoas, cuidado com detalhes e até educação dos torcedores.
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Benê Lima