Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

quarta-feira, junho 08, 2011

Romário e a guerra perdida

Atacante disse adeus em 2005, e com ele se foi uma época. Apenas seis anos se passaram, e os ingressos sofreram um reajuste indecente, obsceno, absurdo
Rodrigo Barneschi*

Já fui 707 vezes a estádios. Fui só uma vez a um jogo da seleção brasileira. E fui não pela seleção, mas pelo jogador que teve aquele duelo em sua homenagem. Fui ao Pacaembu na noite de 27 de abril de 2005 porque aquela foi a última atuação de Romário com a camisa amarela. Não que a seleção faça algum sentido para mim nos dias atuais, mas os tempos de Romário foram outros.

Se Ronaldo é fenômeno, Romário é deus. Romário é tão maior que Ronaldo que nem dá para estabelecer um parâmetro de comparação entre os dois. Romário foi maior em campo e fora dele. Romário foi o símbolo de uma época perdida. Romário venceu uma Copa sozinho. Romário foi monstruoso. Romário foi o representante máximo de uma geração. Romário foi autêntico.

Pacaembu, 27 de abril de 2005. Não faz tanto tempo assim. Mas foi antes de o futebol brasileiro ter sua morte decretada com a confirmação da Copa 2014. Foi antes de assassinarem o Maracanã, foi antes de o "Padrão Fifa" nos tomar de assalto, foi antes de os velhos malditos tomarem conta de tudo.

Romário disse adeus em 2005, e com ele se foi uma época.

A arquibancada naquela noite custou R$ 10. Repetindo: 10 reais. Eu, então estudante, paguei míseros R$ 5 por um ingresso de arquibancada. Foram à cancha municipal 36.235 pagantes, proporcionando uma renda de R$ 375.897.



 

Apenas seis anos se passaram, e os ingressos sofreram um reajuste indecente, obsceno, absurdo. Passaram de R$ 10 para R$ 150.

A arquibancada foi estuprada. Não existe mais público, mas plateia. Não há mais geral, o que existe é setor VIP. Nada de bandeiras ou faixas, mas uma balada foi montada onde antes era arquibancada. 

Cantos escolares surgem aqui e ali, uma música de vôlei é só o que sai das gargantas de nego que deixou R$ 150 na bilheteria. Não é mais esporte; é entretenimento para boçais. O marketing tomou conta de tudo. Roubaram o futebol do povo.

Perdemos a guerra.


*Rodrigo Barneschi, jornalista com pós-graduação em Comunicação Corporativa, já foi a 707 jogos de futebol em 49 estádios diferentes. 

Mantém desde 2006 o blog 
Forza Palestra – Futebol com alma, um espaço de resistência ao futebol moderno.

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Benê Lima