A razão de existir de um clube são os dirigentes não-remunerados. Esse é o aspecto fulcral que o sustenta
Conforme abordado na semana passada, a profissionalização deve começar por entender fundamentalmente a cultura dos clubes. É muito bonito falarmos que nossos dirigentes são amadores e virmos com um caminhão de estratégias como se ela fosse solucionar todos os problemas da instituição.
É preciso, em um processo de transição para um modelo de gestão profissional, entender e respeitar questões básicas sobre a cultura e a história que determinou a constituição daquela entidade e compreender como aqueles dirigentes lá chegaram – e porque se dedicam tanto ao clube, mesmo não sendo remunerados para isso. Alguma coisa os move a estar lá, a responder e a brigar por tudo que diz respeito à organização.
Neste campo, me baseio pelo pensamento do Prof. Luís Miguel Cunha, da Faculdade de Motricidade Humana de Lisboa-Portugal que, em uma de nossas conversas, abordou o aspecto cultural que possui as entidades de prática do desporto em terras lusas e, por tabela, se reproduz perfeitamente para o território tupiniquim.
A razão de existir de um clube são justamente os dirigentes não-remunerados, ou seja, amadores. Este é o aspecto fulcral que sustenta essas entidades. É pela crença no manto e na história clubística que se baseia todo o enredo de adoração pela marca, cores, mascote, costumes e por aí vai. Os torcedores-consumidores alimentam seu fascínio e fidelidade por tudo isso que norteia a entidade, por todo esse imaginário.
Assim, a profissionalização deve surgir no meio de uma escala hierárquica, partindo do interesse dos dirigentes (amadores), que hão de contratar executivos para o campo estratégico e operacional. Esses profissionais devem, sobretudo, respeitar seus limites de atuação, especialmente naquilo que está ligado à “paixão” de algumas pessoas pelo clube.
As tomadas de decisão passam a ser um conjunto de pensamentos, em que o respeito aos costumes daquele ambiente deve, em certos momentos, prevalecer em detrimento daquilo que parece ser a forma mais correta a fazer pelas teorias da administração – e é isso que acaba, em muitos casos, determinando o sucesso ou o fracasso da organização.
É preciso profissionalizar? Sim, é fundamental para a sobrevivência destas entidades hoje, uma vez que elas passaram a lidar com outras que até então eram alheias às questões econômicas que estão ligadas ao mundo do esporte. A televisão e os patrocinadores são um exemplo de organismos que antes até participavam, mas ficavam à margem de qualquer interesse comercial mais robusto, atuando ora como parceiro, ora como filantropo – atualmente está clara a intenção de se apropriar do esporte e aferir resultados econômicos para si, vendo o negócio efetivamente como negócio.
É possível mudar uma cultura? Sim, é possível, mas leva tempo. A grande pergunta passa por saber se é interessante mudar determinadas culturas de clubes e se essa mudança seria positiva para a estrutura econômica e esportiva da instituição. A inteligência de um trabalho de profissionalização é saber perceber essas nuanças e utilizá-las a seu favor.
O sucesso de um processo de profissionalização passa, portanto, pelo tripé da honestidade, confiança e consciência. Honestidade dos dirigentes em não utilizar o clube para serviço próprio; confiança sobre os executivos, que hão de tomar decisões em nome do clube; consciência para contratar profissionais competentes, além de respeitar e entender o espaço de cada pessoa inserida no clube de futebol.
Autor: Geraldo Campestrini
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Sinopse
"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."
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quarta-feira, abril 13, 2011
Gestão de Futebol] O dilema da profissionalização – parte II
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Benê Lima