Eduardo Barros
Graduado em Educação Física pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), em 2008; especialista em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas, em 2009.
Ex-atleta profissional de futebol no Brasil (AAPP e União Barbarense) e na Argentina (Huracán- TA) decidiu abandonar a carreira de atleta precocemente por insatisfação quanto a seu desempenho e consciência de suas diversas deficiências oriundas da formação.
Atualmente é Treinador Adjunto da Categoria sub-17 do Paulínia FC, em que trabalha desde 2007. No Paulínia, já atuou como professor do Projeto de Iniciação ao Futebol (PIF), como auxiliar técnico das Categorias Sub 12 e 15, além de Treinador das Categorias sub-12 e 13. É membro do Departamento de Pedagogia, sendo um dos responsáveis pela elaboração do Currículo de Formação do Atleta, material interno desenvolvido para todas as Categorias do Clube, do sub-11 ao sub-20.
Nos anos de 2009 e 2010 foi palestrante da disciplina Futebol nas Categorias de Base do curso de pós-graduação da Universidade Gama Filho (UGF), intitulado Futebol e Futsal: As Ciências do Esporte e a Metodologia de Treinamento.
Atualiza-se constantemente em cursos direta ou indiretamente relacionados à profissão, como os cursos Futebol Moderno: da magia do futebol romântico ao dinamismo do futebol contemporâneo (AFA 2008); Practitioner em Programação neurolinguística, excelência em comunicação (ACTIUS 2009); além da capacitação em Team e Leader Coaching (professores da SBC 2010).
Acredita que o futebol brasileiro ainda tem muito potencial a ser desenvolvido, principalmente no que tange a formação de atletas e que a capacitação de todos os profissionais envolvidos nesse mercado é fundamental para tal desenvolvimento.
Leitores,
este é meu texto de abertura como colunista da Universidade do Futebol. Antes de iniciar as questões táticas referentes ao tema desta semana, gostaria de agradecer a indicação do treinador Rodrigo Leitão, a quem substituo, parabenizá-lo pelas mais de quinhentas páginas (muito bem escritas) sobre assuntos direta ou indiretamente relacionados ao futebol e, também, agradecer ao convite feito pela Universidade do Futebol, que foi orgulhosamente aceito por mim.
Estou ciente da responsabilidade e, desde a primeira coluna, comprometo-me a manter a qualidade dos temas discutidos, obviamente com a minha identidade, além de proporcionar ambientes de discussão a partir de conteúdos teórico-práticos da modalidade.
A organização ofensiva de uma equipe pode ser construída de diferentes maneiras. Com estruturas fixas, móveis, com jogo apoiado, vertical, com predomínio de finalizações a curta ou média distância, com cruzamentos, maior ou menor amplitude, penetrações frequentes, dribles, além de quaisquer outras ações que privilegiem a aproximação à zona de risco do adversário. Com a posse, é certo também que, quanto maior a quantidade de jogadores à frente da linha da bola, maiores são as possibilidades de criar linhas de passe verticais, vantagem numérica e obter êxito nas movimentações ofensivas para se aproximar do alvo adversário. No entanto, é importante lembrar que quanto mais jogadores participarem à frente da linha da bola, menos jogadores ficarão responsáveis pelo balanço defensivo da equipe.
Em cada um dos seus três últimos jogos na Champions League, a Inter de Milão, do técnico brasileiro Leonardo, apresentou comportamentos ofensivos distintos, influenciados por mudanças de plataforma, características e regras de ação dos jogadores, e que serão explicitadas a seguir.
No primeiro confronto da 8ª de final, contra o Bayern de Munique, a Inter foi a campo em um 1-4-3-2-1 como pode ser observado na imagem abaixo:
Durante todo o jogo a Inter defendeu com pelo menos oito jogadores atrás da linha da bola e, ao roubá-la, a passagem por Sneijder (que busca constantes desmarcações) era a melhor opção nas transições ofensivas. As que foram realizadas com passes longos beneficiaram a equipe alemã.
Na fase ofensiva, com a bola em seus pés, Sneijder tinha quase sempre somente duas opções: Stankovic, pela direita, tentando criar linhas de passe com menor agilidade que o holandês, e Samuel Eto’o, que incomodava ao menos três defensores alemães e recuava entre linhas defensivas do adversário para a função de pivô.
Veja, no pequeno trecho a seguir, duas ações ofensivas com a participação dos meias e do atacante da equipe italiana:
Num jogo em que a equipe de Milão não se expôs ofensivamente, atacando com poucos jogadores, criou três chances de gol a partir de bola parada, outros três em transições ofensivas, sendo duas com Cambiasso e uma com Maicon, além de uma finalização de Kharja após mais uma bem sucedida função de pivô, seguida de assistência, feita pelo Eto’o.
O placar do jogo, como todos sabem, foi 1 a 0 para os alemães com uma falha (que nem todos sabem) que não foi exclusiva de Júlio César.
No confronto seguinte, em Munique, mudanças na equipe nerazurra: 1-4-2-3-1, entrou Pandev, saiu Zanetti e a necessidade da vitória para permanência na competição. Ao longo do jogo, ao invés de dois jogadores à frente da linha da bola, o meia criativo Sneijder tinha três (Pandev, Stankovic e Eto’o). Mais ofensivos, apoiavam ao ataque em amplitude Maicon e Chivu, dando espaços para Ribery e Robben nas transições.
Como foi escrito anteriormente, com mais jogadores à frente da linha da bola, “maiores são as possibilidades de criar linhas de passe verticais, vantagem numérica e obter êxito nas movimentações ofensivas”. Logo no início da partida, 1 a 0 Inter.
Ainda no primeiro tempo, o Bayern empatou em um rebote que Gomez aproveitou depois de jogada individual e finalização de Robben e virou após um passe que foi mal interceptado e sobrou para Müller deslocar o goleiro. Mais duas chances claras de gol foram criadas em transições ofensivas, com Gomez e Ribery, porém, o primeiro tempo terminou 2 a 1 para a equipe local.
No segundo tempo, a entrada de Philipe Coutinho e a maior mobilidade com a equipe em posse aumentaram o desempenho ofensivo dos italianos que, numa jogada com três jogadores à frente da linha da bola e a função de pivô de Eto’o, terminou em finalização de Sneijder e empate no placar:
O poder ofensivo dos alemães não foi o mesmo da etapa inicial. Robben foi substituído, a mobilidade ofensiva da Inter não resultava em finalizações, com exceção de um chute de Pandev e, aos 42 minutos, Eto’o (aquele que incomodava ao menos três defensores) recebe um chutão de Sneijder e novamente na função de pivô serve Pandev, que finaliza sem chances para Kraft: 3 a 2 Inter e vaga nas quartas de final.
O adversário, Schalke 04, “modesto” 10º colocado do Campeonato Alemão. A mídia e alguns dos jogadores imaginavam um duelo relativamente fácil, creditando vantagem à equipe italiana, que jogaria no San Siro. Lúcio, suspenso, deu entrevista pedindo humildade, entretanto, agradecia o sorteio e o não chaveamento com Real ou Barça pós-classificação.
Com nova alteração na plataforma e jogadores, saíram Lúcio e Pandev e entraram Zanetti e Milito, com a equipe distribuída em campo no 1-4-4-2 (losango), como mostra a figura abaixo:
Assim como na vida, as explicações do futebol são complexas e, seguramente, o resultado obtido em um jogo não advém somente da quantidade de jogadores à frente da linha da bola. No duelo da última terça, em que a todo o momento as opções ofensivas de Sneijder eram pelo menos quatro (Milito, Eto’o, Stankovic/Kharja, Cambiasso, e às vezes Maicon e Thiago Motta), o excesso de exposição ofensiva e a lentidão (física, técnica, tática e emocional) nas transições defensivas facilitaram o jogo apoiado do Schalke que, nesta ordem, fez um gol de bola parada, um a partir de transição ofensiva, dois gols a partir de posse em progressão e, o último, também em transição ofensiva.
Como exemplo, veja o segundo gol dos alemães, no fim do primeiro tempo, construído em uma transição ofensiva alemã, em que o volante Thiago Motta saiu do seu setor e, após a perda da bola e fragilidade no balanço defensivo, o atacante do Schalke Edu recebeu um belo passe e empatou o jogo.
O placar final todos já sabem: 5 a 2 e uma boa vantagem (adquirida e não creditada) para o jogo de volta.
O desempenho da equipe italiana (e não somente o resultado) traz algumas reflexões:
- Eram necessários tantos jogadores à frente da linha da bola, considerando que Lúcio estava suspenso e a performance defensiva da equipe poderia ser prejudicada?
- Milito ocupou o espaço (e fez a função) que Eto’o vinha ocupando nos jogos anteriores?
- Com Eto’o predominantemente na faixa lateral esquerda do campo, a função de pivô foi eficaz?
- Com a expulsão de Chivu, Eto’o não poderia ocupar um espaço no meio-campo, como já o fez com Mourinho?
- Kharja ou Philipe Coutinho?
- Sneijder “para de pensar” quando está perdendo?
Essas reflexões (e muitas outras) Leonardo e sua comissão técnica terão que fazer para definir o comportamento da equipe no que será o jogo do ano para a Internazionale. Uma das grandes características deste time (transições ofensivas com rápida aproximação ao alvo oponente) pode não ser possível com um adversário que classifica perdendo por até três gols de diferença. Pelo que apresentou nas últimas partidas, faltam características no comportamento da equipe (e jogadores) para a construção de um jogo apoiado. O Schalke, de mero coadjuvante das quartas, passou a forte candidato das semifinais, creditado(???) por ter goleado a atual campeã do torneio.
No futebol, assim como na vida, as explicações são complexas.…
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Benê Lima