Esta relação começou há muitos anos. Desde o início percebi que alguns me tratavam carinhosamente bem; outros não! Rodei o mundo para constatar esse fato. Aqui no Brasil, tive meus melhores amantes e grandes paixões. Ora no chão, cercada por pés tão maravilhosos, ou no ar, viajando na liberdade, os brasileiros acabaram me conquistando pela delicadeza e requinte dos seus toques, pela maneira perfeita de me apresentar todos os seus companheiros de festa durante os bailes que aconteciam nos domingos à tarde.
Sentia-me tão importante, tão majestosa, deslizando suavemente pelos corpos suados daqueles bailarinos malabaristas. Faziam de mim o que queriam, com tanta segurança e habilidade, que jamais temi sair dos pés de um deles, naquelas longas viagens aéreas que me proporcionavam. Apesar de extasiada por aqueles intermináveis segundos, meu destino era tão certo quanto seguro. Acabava sempre docemente acolhida. Em troca, procurava corresponder, entregando-me com paixão, procurando desfrutar aquele sentimento mágico de respeito e paixão que nos envolvia em cada viagem. Fosse curta ou longa.
Lembro-me de voar sessenta, setenta metros, até ser acariciada por um peito másculo, mas revestido de pétalas de rosas, e que, acreditem, abrigava um coração batendo aceleradamente por mim, e que mesmo ofegante, ainda murmurava palavras de amor ao me receber. Aí então eu procurava escorregar lentamente por todo seu corpo até pousar docemente nos seus pés. Éramos como se fôssemos um corpo só. Uma intensa sintonia. Era exatamente assim que eu era tratada. Raramente cometiam grosserias comigo.
O prazer desta união era tanto que acabei me tornando incansável. Jamais me senti esgotada, mesmo correndo tanto, de um lado para o outro. Afinal, a leveza e o carinho daqueles toques preliminares incendiavam meus hormônios para o clímax que se apregoava. E isso me tornava cada vez mais apaixonada por aqueles pés, coxas, peitos e cabeças que me assediavam intensamente durante as tardes de domingos.
Pude sentir lá bem dentro de mim a paixão e o prazer de me conduzirem. De me tratarem com tanto carinho. E para felicidade geral terminava arremessada a uma rede, sentindo um orgasmo sublime partilhado por mais de 120 mil de pessoas. Eu era uma estrela explícita de primeira grandeza.
Andando por aí, outro dia, encontrei uma companheira novinha em folha, e que após esse meu testemunho, disse:
“Amiga, comigo tem sido tão diferente. Acho mesmo que eles não gostam de mim, embora alguns poucos, ainda tentem ser um pouco mais educados comigo.Nas viagens curtíssimas que faço durante os eventos – desculpe, mas hoje já não se chamam mais bailes –, as recepções quase sempre são traumáticas. Não há encanto no encontro e os destinos mais incertos do que nunca. Das pétalas de rosas dos peitos dos seus bailarinos, me deparo com a dureza de um peito sem ternura, que acaba me atirando longe... E aí, acaba tendo que brigar por mim. É tudo tão rude! Ficam brigando entre eles e eu sofrendo na pele. Acabo extenuada. Eles não me querem para desfrutar, mas sim para brigar. Muitas vezes sou atingida virilmente na minha dignidade quando tentam se justificar: seu juiz fui na bola! Como se me odiassem. Tenho tanta inveja do seu tempo, minha amiga!”.
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Benê Lima