Alcides Scaglia
Em crônica pedagógica anterior apresentei os princípios pedagógicos gerais da YMCA (Associação Cristã de Moços – ACM) dos Estados Unidos para o ensino do futebol e também a sistematização dos conteúdos e de todo o processo de aprendizagem do futebol para a liga menor dos Kickers (alunos com idade equivalente ao 4º e 5º ano da nossa educação escolar básica).
Neste texto quero apresentar o manual da Liga Jugglers (os controladores), destinado a alunos em níveis de 6º e 7º ano, começando por seus objetivos gerais que são os norteadores da prática pedagógica dos professores/treinadores: como fazer amigos, divertir-se, aprender e jogar futebol,
Alguns outros princípios são acrescentados ao já citado na liga Kickers (ver crônica anterior).
São eles:
- aprender que ganhar e perder são consequências do jogo;
- aos alunos devem ser dadas as condições para sempre jogarem com outros do mesmo tamanho e da mesma idade;
- sempre respeitar os colegas, pois todas as pessoas são importantes;
- todos irrevogavelmente devem jogar;
- os campos e as traves continuam menores, porém maiores que os da liga anterior;
- bola mais leve, todavia mais pesada que da liga Kickers;
Nesta liga os técnicos têm como objetivos específicos principais fazer com que os alunos aprendam e aperfeiçoem as habilidades básicas (passe, chute, drible, domínio, controle, cabeceio), bem como contextualizar todos os fundamentos junto às particularidades do jogo defensivo e ofensivo.
Já para a última liga dos Strikers, para os alunos de níveis próximos ao oitavo e nono anos. Para os manuais da YMCA, esse é considerado o grupo mais avançado e que já passou pelas outras ligas menores, onde aprenderam e desenvolveram as habilidades básicas do jogo, através de jogos. Neste manual encontramos mais alguns jogos, os quais procuram exigir mais habilidades dos praticantes, em níveis mais elevados e exigentes.
Na liga Strikers já jogam 11 jogadores e se respeitam todas as 17 regras oficiais do futebol, sem nenhuma adaptação, ou seja, o campo é de tamanho oficial, regra de impedimento, bem como as traves e a bola e demais leis que caracterizam um jogo oficial de futebol, segundo a Fifa.
Para finalizar, este último manual procura falar mais detalhadamente das plataformas táticas e suas diferentes estratégias de posicionamento e dá pistas para a elaboração de esquemas táticos a serem construídos a partir do posicionamento tático do time adversário.
Como suporte para o desenvolvimento desta prática, difundida em algumas escolas dos Estados Unidos, encontramos a contribuição de outros autores americanos como Luxbacher, em seu livro “Fun games for soccer training”, Reeves e Simon, com a obra “Soccer drills: the coaches collection of soccer drills”, os quais, em seus respectivos livros, apontam uma infinidade de brincadeiras para aprendizagem do futebol.
Por exemplo, Luxbacher coloca a necessidade e importância do uso de jogos lúdicos para o ensino do futebol: “Nada de exercícios repetitivos chatos e desmotivantes. Os alunos devem se envolver com as atividades propostas e, para isso, nada melhor que jogos divertidos e envolventes. Assim, o aprendizado fica mais fácil e prazeroso”. Luxbacher ainda ressalta: “O importante está na qualidade e não na quantidade de exercícios executados nas sessões.”
Por meio de jogos lúdicos o autor procura desenvolver as aptidões físicas, as habilidades do jogo e a tática, sendo de escolha do professor qual destes três aspectos ele quer dar ênfase quando propõe os jogos. Portanto, não fragmenta o conhecimento e, dentro de uma visão globalizante, procura ensinar o futebol através das situações desencadeadas nos jogos, que são mais prováveis de acontecer durante uma partida formal.
O jogo de futebol é muito variável, ou seja, são raras ou talvez inexistentes as situações que se repetem de um lance para outro. Por exemplo, um passe sempre ocorrerá de maneira diferente, devido a inúmeras variáveis: situação do campo, posição do jogador, movimento da bola, equilíbrio, deslocamento do vento, posicionamento do adversário...
Já Reeves e Simon apresentam um livro com mais de 100 atividades para o desenvolvimento das habilidades básicas para o jogo de futebol. Segundo os autores, os alunos devem construir uma base sólida de habilidades gerais, para depois aperfeiçoar e automatizar estes gestos técnicos. As atividades são divididas em duas fases, a primária e a secundária, sendo enfatizadas as seguintes habilidades: controle de bola, técnicas ofensivas e defensivas, domínio, drible, cabeceio, marcação, movimentação com e sem bola, passe e habilidades exclusivas para os goleiros.
Portanto, estes dois livros complementam os manuais da YMCA americana e nos ajudam com exemplos para consolidar propostas organizadas e dirigidas por teorias e princípios explícitos, de modo a valorizar e mostrar que o ensino do futebol não é mais para leigos em pedagogia do esporte e muito menos deve ser desenvolvido por uma metodologia tecnicista e ou por práticas espontâneas.
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Benê Lima