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"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

quinta-feira, janeiro 24, 2013

Maratona de três jogos semanais no Cearense tem irregularidade, revolta e racha entre clubes

Patrick Mesquita 
Do UOL, em São PauloFCF - Bolão - Cearense Chevrolet

O Campeonato Cearense 2013 ainda está nas primeiras rodadas, mas a tabela de jogos já causa grande polêmica. Por conta da fórmula de disputa, algumas equipes como Icasa, Tiradentes e São Benedito possuem três jogos marcados apenas nesta semana. A situação inusitada gerou revolta e divergências entre os times participantes e a federação local.

De acordo com o calendário da competição, as agremiações citadas devem entrar no gramado três vezes entre os dias 22 e 27 deste mês. A maratona pode ser explicada pelo regulamento do torneio. Ao todo, nove equipes jogam a primeira fase de classificação, que consiste em pontos corridos no sistema ida e volta. Em seguida, seis times avançam para a fase seguinte e se juntam para um octogonal com Ceará e Fortaleza, que atualmente disputam a Copa do Nordeste e só entram na segunda parte do Estadual. Os quatro melhores seguem para a semifinal.

O número de rodadas semanais tem irritado os clubes envolvidos. Um dos mais revoltados é o Ferroviário. Mesmo com um jogo, que ocorreria nesta quinta-feira contra o Maracanã, adiado para o próximo dia 31, a agremiação se diz ignorada pela Federação Cearense de Futebol (FCF).

“Foi uma tabela mal feita pela federação. O Ferroviário já protocolou vários ofícios, mas eles não mudaram. Já se esgotaram os prazos para alteração. Não adianta ficarmos reclamando agora”, diz Emanuel Garcia, diretor e representante do Ferroviário junto a FCF, em entrevista ao UOL Esporte.

Segundo Emanuel, o time tricolor só teve a data da partida alterada porque o estádio onde o Maracanã manda os jogos, o Moraisão, em Maranguape, não possui o laudo de autorização dos bombeiros e não por uma escolha da federação.

Na contramão do Ferroviário, que culpa a federação pelo problema, o Icasa até critica a tabela, mas afirma que os clubes são os verdadeiros culpados pelo número de partidas semanais. Diretor executivo da equipe alviverde, Fred Gomes acusa os adversários de irresponsáveis por escolherem uma fórmula de disputa maior.

Esse calendário maluco está sendo realizado em virtude da aceitação dos clubes

Fred Gomes, diretor do Icasa, sobre a polêmica

“Há quatro meses, quando reuniu os participantes, apresentou uma forma de disputa sem semifinal e com apenas quatro se classificando na primeira fase. Mas as equipes acharam melhor mudar. Esse calendário maluco está sendo realizado em virtude da aceitação dos clubes. A federação apresentou uma fórmula, e os clubes acharam melhor fazer outra. O Icasa não votou nessa forma e nem votaria agora. Temos um calendário maior no ano, junto com Ceará e Fortaleza”, analisa o diretor.

Além de apontar uma conivência dos rivais com a situação, Fred Gomes acredita que o Icasa é o mais prejudicado com a situação. “O Ferroviário, a meu ver, fala isso, mas aceitou. Temos que começar a assumir a responsabilidade. Seria fácil largar a “chibata” na federação. Não podemos ser irresponsáveis. Somos um clube que se apresentou dia 15 de dezembro e já fizemos várias partidas. Somos os mais prejudicados, pois fomos a última equipe a se apresentar, já que chegamos até a final da Série C. Mas infelizmente temos que fazer isso”.

Federação se defende e diz que não há irregularidades

Procurada pela reportagem do UOL Esporte, a Federação Cearense de Futebol rebate as acusações do Ferroviário e afirma que alterou a data do jogo desta quinta por uma solicitação do clube. Além disso, a instituição afirma que atende aos pedidos desde que haja data disponível para mudanças.

“O jogo do Ferroviário foi mudado. Algum pedido dos clubes dá para atender. Não temos muita data disponível e por isso temos que fazer a competição mais enxuta. O campeonato tem que terminar antes do Brasileiro. Por nós a tabela continua. Se tiver uma brecha, podemos alterar. Caso contrário, não”, analisa o gerente operacional da FCF, Paulo César Lima.

A federação ainda diz que respeita o descanso mínimo dos atletas e cita o regulamento da competição para apoiar a maratona de jogos.

“Não tem como reclamar, eles aceitaram. Deve haver 40 horas de intervalo entre um jogo e outro. Isso nós seguimos”, completa Paulo César.

No entanto, o regulamento geral de competições da federação não vai de acordo com a declaração do dirigente. No artigo 18 do capítulo 2, a norma, que pode ser encontrada no site oficial da FCF, aponta que nenhum atleta profissional deve disputar partidas sem o intervalo mínimo de 60 horas. O espaço de 40 horas só pode ser adotado caso a distância entre as equipes de uma determinada partida seja de no máximo 150 km. Um espaçamento menor só deve acontecer em casos excepcionais.

Para ter uma ideia da contradição entre federação e regulamento, o Icasa atuou na última terça-feira em Iguatu, onde foi derrotado pelo Crato por 3 a 0.  Nesta quinta-feira, o time alviverde visita o Tiradentes no Alcides Santos, em Fortaleza. A distância entre as cidades é de aproximadamente 382 km, o que caracteriza uma infração nas regras pré-estabelecidas e força os clubes a encontrar algumas soluções para evitar o cansaço dos jogadores.

Reprodução do regulamento geral de competições do Ceará

  • Reprodução

    Regulamento geral aponta que nenhum jogador pode atuar antes de um intervalo de 60 horas

“Nós do Icasa vamos para Fortaleza de avião para minimizar o desgaste físico dos atletas”, diz Fred Gomes.

Sindicato dos atletas se revolta e afirma que maratona pode causar mortes

Além das discussões entre clubes e federação, quem entrou na briga pela mudança da tabela foi o Sindicato dos Atletas de Futebol do Ceará (SAFECE). Indignada com a fórmula de disputa, a instituição promete tomar todas as medidas cabíveis para evitar a maratona de jogos e alerta para o risco que os jogadores correm com o grande número de partidas.

“O campeonato possui apenas nove clubes na primeira fase e eles conseguiram fazer essa lambança. Peguei um laudo de um fisiologista e protocolei junto com um oficio. Passei para o jurídico para que faça de tudo para evitar isso. De acordo com o laudo, existe possibilidade de morte. Deixei claro que se acontecer uma tragédia, vou entrar com um processo criminal contra o presidente da federação e o presidente do clube que aceitou”, dispara o presidente do SAFECE, Marcos Gaúcho, ao UOL Esporte.

Deixei claro que se acontecer uma tragédia, vou entrar com um processo criminal contra o presidente da federação

Marcos Gaucho, presidente do SAFECE

O dirigente, que até o fechamento desta matéria ainda tentava cancelar a rodada desta quinta-feira, também questiona a falta de envolvimento dos jogadores com a situação. “Eu lamento que os atletas de futebol não sejam unidos e não se unam em uma hora dessas. Eles não sabem a força que tem. Eles não possuem consciência profissional para defender a classe nem a saúde.”

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