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"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

sexta-feira, agosto 14, 2009

Adaptando o calendário do futebol brasileiro ao calendário mundial
Proceder à adaptação mitigaria o problema; clubes poderiam planejar uso de atletas na temporada
Luis Filipe Chateaubriand
A ideia de se adaptar o calendário do futebol brasileiro ao calendário europeu – que, pouco a pouco, vai-se tornando mundial – suscita polêmicas as mais diversas. Há os defensores e os detratores dessa possibilidade.

O presente documento visa mostrar por que adaptar nosso calendário ao que acontece na maioria dos países é algo vantajoso para os clubes do futebol brasileiro.

É comum que os defensores da adequação do calendário daqui ao da Europa sejam chamados de “colonizados”. A dita adaptação seria uma imitação do que acontece em outro continente e, se a procedêssemos, estaríamos agindo como meros agentes reprodutores do que se faz lá fora.

Contudo, existem três argumentos a se opor a essa crítica. O primeiro é que, sem a dita adaptação, os clubes se veem desfalcados de seus principais jogadores, transferidos à Europa, em meio à “janela” que vai de junho a agosto. Assim, os clubes perdem o time base montado em meio à temporada e, o que é pior, em meio ao Campeonato Brasileiro, principal competição de futebol do país.

Portanto, proceder à adaptação mitigaria o problema, pois a temporada começaria com os clubes podendo planejar os jogadores que utilizarão ao longo de toda a temporada, com a redução da saída de jogadores ao longo desta.

É claro que os críticos da adaptação podem argumentar que há uma “janela” para a saída de jogadores em janeiro e, assim, o problema só mudaria de época. Mas uma análise mais atenciosa demonstra que:

· A “janela” de janeiro é muito mais curta que a janela de meio de ano. Consequentemente, há menos tempo para viabilizar transferências de jogadores.

· A “janela” de janeiro é voltada para que os clubes europeus façam ajustes em seus elencos, e não para montá-los.

Em outros termos: a quantidade de jogadores que se transfere na “janela” de janeiro é muitíssimo menor que a quantidade de jogadores que se transfere na “janela” de meio de ano.

Nesse sentido, portanto, a adaptação faz com que muito menos jogadores se transfiram na “janela” alternativa, a de janeiro, do que se transferem na “janela” atual, a de meio de ano.

E, consequência imediata: se a “investida” dos clubes europeus só for sentida em janeiro, pela demanda ser menor, fica mais fácil resistir a fazer a transferência, que pode ser postergada para o final da temporada, em maio.

O segundo argumento a favor da adaptação é que, do ponto de vista de um calendário racional e bem montado, é ideal que, quando há competições de seleções, não haja competições de clubes. E a grande maioria das competições de seleções é em junho e em julho, com a adaptação já feita ao calendário europeu e, cada vez mais, mundial.

Portanto, haver jogos oficiais de clubes em junho e julho é um contra senso, que se pratica no Brasil.

Destarte, o que acontece? O Campeonato Brasileiro em andamento e, ao mesmo tempo, ou Copa do Mundo, ou Copa das Confederações, ou Copa América. O torcedor é obrigado a decidir se dá mais atenção ao clube de coração ou à seleção de seu país. Não é por nada, não, mas passa uma ideia de desorganização e falta de profissionalismo. Não deve acontecer – o que se evita procedendo a dita adaptação.

O terceiro argumento em prol da adaptação é que, com ela, a pré temporada dos clubes europeus coincide com a pré temporada dos clubes brasileiros. E essa coincidência é benéfica, pois permite que os clubes brasileiros possam fazer jogos amistosos com clubes de outros países, obtendo boas quotas financeiras para isso.

É o que acontece, por exemplo, com os grandes clubes argentinos. Já os clubes brasileiros, estes, não podem aproveitar a oportunidade, devido à falta da adaptação.

O principal argumento das vozes contrárias à adaptação é que isso viola as férias dos profissionais, que tradicionalmente acontecem em dezembro e janeiro. Argumentam que, se houver jogos nesse período, serão disputados no excessivo calor do verão brasileiro.

Em primeiro lugar, jogar no excessivo calor do verão brasileiro não é problema se os jogos de fins de semanas forem, por exemplo, às 18 horas, quando o sol já está se pondo. Obviamente que os jogos de meios de semana, por serem noturnos, não acarretam nenhum problema.

Em segundo lugar, já se joga, sem a adaptação, no verão escaldante, pois é sabido que, na segunda metade de janeiro, já há jogos pelos Campeonatos Estaduais, no anacrônico calendário atual.

Em terceiro lugar, o verão é a época em que as pessoas estão mais dispostas a se divertirem, e o futebol é uma opção alternativa para tal. Isso faz com que haver futebol no verão seja desejável.

Fica, portanto, demonstrado que quem deseja a adaptação do calendário do futebol brasileiro ao calendário não só europeu, mas sim mundial, não se move pela atitude de “colonizado”, mas sim pela ideia de propiciar aos clubes de futebol nacionais a oportunidade de gerarem mais riquezas e prosperidade.


*Luis Filipe Chateaubriand é autor do livro 'Futebol brasileiro: um projeto de calendário', pela editora Publit (
www.publit.com.br).

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