Construindo um calendário racional para o futebol brasileiro
Três premissas, atuando em sinergia, podem conferir à temporada brasileira bons frutos à competição e à saúde dos clubes
Luis Filipe Chateaubriand
Não chega a ser novidade que o calendário do futebol brasileiro é dotado de imperfeições diversas, sendo um inibidor das possibilidades que os clubes de futebol possam ter para maximizar a satisfação de seus clientes, os torcedores, e obter resultados financeiros em decorrência disso.
É, portanto, imperativo que sejam feitas mudanças estruturais no calendário de nosso futebol. Este documento visa propor algo nesse sentido.
Para que o calendário do futebol brasileiro possa ser mais eficaz do que acontece atualmente, há que se ir além de apenas adotar a fórmula de turno e returno e pontos corridos para o Campeonato Brasileiro – medida acertada, porém insuficiente, para se ter um bom calendário.
Com efeito, três premissas são importantes para que se tenha um bom calendário no futebol brasileiro, a saber:
• Adaptação temporal ao calendário do futebol europeu;
• Definição de uma competição central a ser jogada aos fins de semanas, intercalada com as outras competições, realizadas aos meios de semanas, durante toda a temporada regular;
• Adoção de um modelo que permita que as seleções nacionais, e a seleção brasileira em particular, só atuem quando os clubes não estiverem em ação.
A primeira premissa importante, portanto, é a adequação do calendário do futebol brasileiro ao calendário europeu. A sincronia de datas entre os dois centros faz-se absolutamente necessária, pois, assim, os períodos de transferências entre jogadores ficam harmonizados e, com isso, evita-se a migração em massa dos principais jogadores do futebol brasileiro para a Europa em meio ao Nacional.
É sabido que, no modelo atual, a existência de uma “janela” de transferências entre junho e agosto de cada ano faz com que os principais jogadores em atividade no futebol brasileiro sejam transferidos para o mercado europeu, fazendo com que os clubes percam seu time base em meio à principal competição do calendário.
Isso deve ser evitado, o que pode ser conseguido se a temporada de competições seguir o modelo de pré-temporada em julho, período de competições oficiais entre agosto e maio, e férias dos jogadores de futebol em junho.
A segunda premissa importante diz-nos que há de existir uma competição principal que seja jogada ao longo de toda a temporada anual, mantendo os clubes em atividade durante esse período – os envolvidos poderão garantir, assim, jogos oficiais desde o início até o término.
Pelo caráter de competição primordial que o Campeonato Brasileiro assume em nosso futebol, este deve ser o certame jogado aos fins de semanas ao longo de toda a temporada. Destarte, primeira, segunda, terceira e o equivalente à quarta divisões devem ser realizados somente aos sábados e domingos, entre agosto de um ano e maio do ano seguinte.
As outras competições podem ser distribuídas ao longo desse mesmo período, só que jogadas no meio das semanas.
Um corolário da adoção dessa premissa é que fazer com que a competição principal do futebol brasileiro, o Campeonato Brasileiro, seja jogada só aos fins de semanas significa um tratamento especial para esta, o que propicia melhor satisfação dos torcedores e consequente aumento de receitas na competição que ocupa todos os clubes principais ao longo da temporada.
A terceira premissa é que as seleções só devem atuar quando os clubes não estiverem em ação. Com isso, evita-se que, havendo a indesejável coincidência, ou os clubes joguem desfalcados de seus jogadores cedidos às seleções, ou as seleções joguem sem alguns jogadores que poderiam ser convocados, mas permanecem nos clubes – ambas as situações são nocivas, tanto aos clubes, como às seleções.
Parece ser sinal de respeito ao torcedor, ainda, a não coincidência de jogos de seleções com jogos de clubes, pois, quando a dita coincidência acontece, o torcedor precisa se dividir entre a atenção que dá a seu clube de coração e à seleção de seu país, o que não é ideal.
É óbvio que o período adequado para as seleções fazerem treinos e jogarem competições oficiais é quando os clubes não estão em ação. Ou seja, e tomando o calendário europeu como referência, os meses de junho e julho. Portanto, todo o trabalho de seleções deve ser realizado nos meses citados, com o período entre agosto e maio sendo de exclusividade dos clubes, que são as instituições que fazem o negócio acontecer.
Cabe ressaltar que a adoção de uma das premissas, de forma isolada, sem a adoção das outras duas, pouco contribui para se ter um calendário racional. Não adianta adequar o calendário brasileiro ao europeu se continuar havendo jogos de seleções no período que deveria ser dedicado aos clubes. Não adianta as seleções só jogarem quando os clubes não estiverem em atividade, se não houver uma competição central que ocupe os clubes principais ao longo de toda a temporada. Não adianta termos o calendário nacional coincidindo com os dos grandes centros se continuarmos a distribuir mal as competições ao longo da temporada, sem a adoção de uma especial que vá preencher a maior parte da temporada oficial.
Adotar as três premissas em conjunto gera uma sinergia que pode produzir bons resultados.
Cabe lembrar que, para que essas premissas possam resultar em um calendário racional e bem planejado, outra variável é importante: o número de jogos por agremiação. Não se deve existir o clube que joga muitas vezes ao longo da temporada, nem o clube que quase não está em ação. Há que se buscar um patamar de equilíbrio. Mas tal assunto merece ser abordado com maior profundidade, em outro artigo.
*Luis Filipe Chateaubriand é autor do livro 'Futebol brasileiro: um projeto de calendário'
*Luis Filipe Chateaubriand é autor do livro 'Futebol brasileiro: um projeto de calendário'
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Benê Lima