Rodrigo Azevedo Leitão
Hoje, vou me intrometer onde não fui chamado. Dia desses, estava vendo TV, ou melhor, zapeando canais, quando uma fervorosa discussão em um programa esportivo me chamou a atenção.
Dois especialistas da mesma área – preparação física – divergiam sobre benefícios, malefícios e a necessidade real de treinos em “caixa de areia” para jogadores de futebol.
Um deles dizia ser o treino em “caixa de areia” essencial para melhorar a velocidade de deslocamento dos jogadores em campo e que, portanto, esse meio de treinamento deveria ser usado em qualquer etapa da preparação. O outro concordava que o trabalho em “caixa de areia” era benéfico para a melhora da velocidade de deslocamento, mas que esse tipo de trabalho só deveria ser empregado em determinadas etapas do processo de treinamento.
Oh não senhores!
Primeiro, pelos motivos que já tantas vezes apresentei, proponho que pensemos em treinos para jogadores de futebol numa outra perspectiva – integrada, complexa, imprevisível, etc, etc, etc. Mas tudo bem; se preferem não mudar, paciência – a verdade, na verdade, não é uma verdadeira verdade.
O caso é que o problema na discussão que assisti é muito anterior a questões que envolvem modelos ou construtos inovadores nas tendências do treino desportivo do futebolista.
A velocidade de deslocamento do jogador de futebol, a constante mudança de direção e as alternâncias permanentes de ritmo de corrida estão, entre outras coisas, associadas também ao tempo de aplicação e manifestação da força muscular por parte desses jogadores. Esse tempo, para favorecer contrações bastante rápidas, precisa ser mínimo.
Para se deslocar em alta velocidade, um jogador necessita que o tempo de aplicação de força no solo (no gramado onde joga) seja muito pequeno, mas que promova movimentos muito rápidos, de maneira que a aplicação da força pelo pé do atleta no campo e a reação do campo sobre o pé se expressem de maneira extremamente reativa e explosiva.
O tempo de contato a cada movimento entre pé (chuteira) e solo (gramado) deve ser mínimo, e nele (no tempo mínimo) a expressão da força (que garanta a ação rápida) deve ser relativamente máxima e suficiente para a necessidade da própria ação.
E isso, é justamente o contrário do que a “caixa de areia” propicia.
Quando um atleta tenta fazer corridas rápidas na areia tem dificuldades, pois o tempo de contato entre o seu pé e o solo, a cada movimento, é maior do que quando realizado na grama, ou outra superfície mais dura. Isso quer dizer, que a frequência de movimentos que acaba sendo capaz de fazer na areia é menor do que no gramado e que, portanto, a exigência neuromuscular para a ação não se configura como sobrecarga que estimule respostas adaptativas no sentido do aumento da velocidade.
Trabalhos científicos têm, faz muito tempo (muito mesmo!), mostrado que os efeitos de curto e médio prazo de treinos na caixa de areia não contribuem para o aumento da velocidade de deslocamento ou da força explosiva; pelo contrário, muitos relatos apontam perda de desempenho nesses índices com treinos que a utilizam como meio.
Então, diria aos nossos especialistas (os que assisti discutindo) que, sob o ponto de vista da complexidade, essa discussão nem faria sentido. Mas que ainda assim, mesmo não me pautando nela (na complexidade), o treino na “caixa de areia” para melhora do desempenho na velocidade de deslocamento dos jogadores de futebol ou da sua força explosiva não faria sentido algum em etapa alguma da preparação atlética do futebolista.
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Benê Lima