Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

domingo, agosto 02, 2009

COM PÉ E CABEÇA – ANO IV – Nº155

ENTREVISTA COM BENÊ LIMA
Clarimundo D’Oitiva, o provocador, instiga o crítico Benê Lima


Clarimundo – Você integra a administração do Artilheiro?
Benê Lima – Não, não. Já tive uma atitude mais cooperativa com o Site, mas a falta de tempo e o distanciamento por razões profissionais de algumas pessoas a ele ligados me fizeram contribuir apenas com a manutenção de minha coluna. Mas o que mais me chama a atenção são a durabilidade e a consistência do projeto. Sobre isto posso falar por ser uma espécie de colunista-precursor.

Clarimundo – Como você vê a chegada dos multimeios como Artilheiro no meio esportivo cearense?
Benê Lima - Alguns acontecimentos importantes foram noticiados em primeira mão por sites na internet. Existem pesquisas que revelam que mais de 50% dos norte-americanos tem como principal fonte de informação os sites e blogs da web. É inegável a agilidade e a praticidade proporcionadas pela internet, além da busca virtual ter-se revelado mais qualificada e prazerosa. Enquanto o formato radiofônico, televisivo e do jornal impresso pouco ou nada permitem ao modelo convencional, a web, por si só, já é a renovação e a revolução, a ponto de trazer contribuição inestimável a todos os veículos de comunicação. Some-se a isso o gigantesco salto de liberdade que a web representa, através de suas ferramentas de interação.

Clarimundo – Você parece cultuar um viés neoprogressista e revolucionário. Isso é idealismo, estilo ou charme?
Benê Lima
- Nenhuma das opções anteriores sintetiza com acerto minha visão. Sou neoprogressista quanto às idéias, mas conservador quanto aos valores. A revolução que acredito e que defendo é a do conhecimento, rejeitando todas as outras derivadas da força e das armas. Se você fala de meus arremedos de projetos e idéias sobre o futebol, aí posso dizer que hoje tenho uma visão mais social e menos fragmentada do esporte. Quero contribuir mais e mais para que tenhamos uma visão transdisciplinar do futebol, criando relações sistêmicas entre suas categorias e subcategorias, entre o amador e o profissional.

Clarimundo – O que traria de proveito essas tais relações sistêmicas que você tanto fala?
Benê Lima
- O futebol amador e o profissional sobrevivem sem uma conexão mais amiúde de causa-e-efeito. Cada um por si. Essa desconexão comprime a oferta de novos talentos e de mão de obra especializada. Dentro desse contexto, nossos clubes profissionais ficam onerados pela baixa produção de ‘matéria-prima’ (jogadores) e mão-de-obra qualificada (treinadores, técnicos, preparadores, auxiliares, etc.). Assim, enxergam como única saída a construção de custosos centros de treinamentos (os cetês), cujo custo operacional e de manutenção não é levado na devida conta. Agora mesmo o Ceará Sporting cogita a construção de um desses centros na cidade de Pacajus. Isso configura um erro estratégico de elevado custo, pois só a locomoção de seus quadros em cinco anos absorveria uma quantia exorbitante, além de outros custos e riscos adicionais.

Clarimundo – Mas, e aí, o que se faria de real para que o futebol amador pudesse contribuir com os clubes profissionais?
Benê Lima
- Estruturar o futebol amador é a nossa idéia. A criação de uma entidade nacional em nosso estado já está em curso, e neste projeto ela buscará apoio nas três esferas (municipal, estadual e federal) para patrocinar um surto desenvolvimentista do futebol amador no estado do Ceará. As competições amadoras seguiriam o modelo preconizado pela FIFA e CBF, com o aval e o comprometimento da FCF quanto ao cumprimento do calendário. Desse modo se abririam novas perspectivas não só para atletas, mas também para os profissionais da área.

Clarimundo – Qual o escopo das mudanças que você preconiza como necessárias ao futebol cearense?
Benê Lima
- Os alvos das mudanças seriam na orientação geral dos gestores (ou atores) do nosso futebol. Isso inclui a administração dos nossos clubes, a administração da federação (FCF) e a crônica esportiva. Falta-nos o capital intelectual na área esportiva para pensarmos nossos próprios projetos, para criarmos soluções alternativas contextualizadas na nossa realidade, sem importarmos modelos que guardam pouca ou quase nenhuma afinidade com nossa economia e nossa cultura.

Clarimundo – Por que razão se fala tanto em ética e pouco se pratica a esse respeito?
Benê Lima
- Na verdade, se percebe um grande equívoco no enunciado do conceito de ética. Por aqui, tem-se a ética como sinônima de parcimônia crítica, ou melhor, de extrema generosidade e casuísmo, a ponto de se considerar ético a mentira e o mentiroso, em detrimento da verdade e do legítimo. Não foi por acaso que solicitei ao doutor em filosofia que proferiu palestra sobre o tema, no 1º Seminário Cearense de Futebol Feminino, que formatasse a ética como um produto, buscando ‘vendê-la’ sob suas vantagens e benefícios. A idéia era mostrar e comprovar aos presentes o verdadeiro e inestimável valor do bem supremo da ética.

Clarimundo – Você já tem alguma experiência prática como gestor na área esportiva?
Benê Lima
- Pouca, mas o suficiente para formular um caminho de autodescoberta a baixo custo. Nosso tônus cerebral adveio da soma da experiência predominantemente teórica dos nossos clubes, aliada à experiência prática do Caucaia Esporte Clube. Quem acompanhou e acompanha o site do clube sabe dos acréscimos que fizemos, sobretudo na área de comunicação. Outra experiência que tem ganhado boa visibilidade é a de coordenador técnico e relações públicas da Liga Cearense de Futebol Feminino. Promovemos, ao lado do Presidente Sérgio Ricardo, um substancial impulso no crescimento da entidade, principalmente quando direcionamos seu trabalho para o aspecto educacional e social. Organizamos um Seminário com elevado conteúdo didático-pedagógico, e de prático obtivemos a convocação de uma atleta radicada em um de nossos clubes para a Seleção Brasileira Sub-19.

Clarimundo – É verdade que essa sua visão do futebol é fruto de um processo de transformação de suas idéias originais?
Benê Lima
- É verdade sim. Tinha, como muitos, uma visão elitista do futebol. Não enxergava nem as macro e menos ainda as micro relações existentes no mundo da bola. E isso era algo tão arraigado que tinha desdobramentos em outras áreas, como a do rádio. Só há pouco passei a ver a exata dimensão, por exemplo, de uma rádio comunitária. Mas, a bem pouco, passei a valorizar os programas esportivos que abrem espaço para o futebol amador, e eu mesmo adotei tal iniciativa no programa diário que coordeno e apresento. É bem verdade que ainda não encontrei um profissional com o qual tenha maior afinidade, mas creio que isso deve estar bem próximo.

Clarimundo – E quanto ao futebol profissional, como vê as situações do Ceará e do Fortaleza?
Benê Lima
- São situações bem diferentes na atualidade. A experiência positiva do Fortaleza serviu ao Ceará, e o Fortaleza não perseverou no acerto. Dito assim pode parecer fácil, mas a gente sabe que no futebol o sucesso é efêmero. O Ceará de agora tem uma cara mais profissional e se apresenta como um produto mais confiável, embora o componente político-eleitoral esteja tão presente como em tempos recente. E isso transfere instabilidade ao clube. O Fortaleza rebusca um modelo administrativo profissional desde o fim da co-gestão, mas até aqui não encontrou nenhum que o pacifique e estabilize. E, quando tudo é mais efêmero do que deveria, a estabilidade, a durabilidade e a confiabilidade passam à distância.

Clarimundo – Como assim?
Benê Lima
- O Fortaleza foi lançado numa tormenta pelo experimentalismo da gestão anterior. Esperava-se que a gestão e mesmo a autogestão praticada pela diretoria atual, principalmente através de seu departamento de futebol, pudesse tirar o time e o clube do mar revolto em que ainda está. Sem a cooperação dos bons resultados de dentro do campo a situação foi agravada, e não fora pela bravura dos que lá se encontram, não sei o que seria do Fortaleza.

Clarimundo – Que nota você daria para o programa que você comanda?
Benê Lima
- O Metro nos Esportes está longe de ser o programa que eu gostaria de fazer. Uma nota cinco já estaria de bom tamanho. O programa não tem custo. O programa que eu quero fazer tem custo e não é barato, teria pré e pós-produção.

Clarimundo – Por que o seu blog é tão conceitual, como você mesmo costuma falar?
Benê Lima
- Mera opção. Já tem muita coisa ruim por aí. Quem mais se preocupa com audiência e coisas do gênero são os enganadores. Quero como contrapartida ao que o rádio e a web possam me dar em visibilidade, devolver às pessoas que me acompanham um mínimo em possibilidade de conhecimento e qualidade. E o futebol não é tão superficial como se pensa e nem só o que se passa no âmbito das quatro linhas. Há muito mais, muito mais mesmo, do que supõe a grande maioria. E precisamos evoluir e fazer evoluir, sem o quê não haverá futuro promissor.


(...)
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