Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

sexta-feira, agosto 07, 2009

Motivação em números: o sucesso crescente da Uefa Champions League se reflete no ímpeto dos jogadores em campo
Por que Chelsea e Liverpool fizeram uma das maiores partidas da história do principal torneio de clubes do mundo?
Luciano Teixeira de Souza, Thiago Mendes Cardoso
O dia 27/05/2009 marcou a grande final do, hoje, maior torneio de clubes de futebol do planeta, a Uefa Champions League.

Naquela data, a equipe espanhola do Barcelona se sagrava campeã após uma vitória incontestável sobre os ingleses do Manchester United.

Porém, as duas nacionalidades citadas acima dizem respeito apenas à origem das equipes, pois a Champions League se tornou tão grande e milionária que é possível afirmarmos categoricamente que cada jogo se tornou um confronto entre “mini-seleções” de jogadores de todo o planeta.

Tanto sucesso, mídia e dinheiro envolvidos fizeram com que a Champions League se tornasse um dos maiores objetivos na carreira de um jogador profissional. Em muitos casos, um objetivo maior até do que o de representar a seleção de seu país.

Um dos jogos desta competição, agora em 2009, que deixou bem claro como o alto nível de motivação influenciou diretamente no ímpeto dos jogadores em campo foi o clássico inglês “Chelsea x Liverpool”. Jogo que, para muitos, pode ser considerado o melhor jogo do ano e com o qual trabalharemos neste estudo.

Os dados utilizados aqui são captados através da **Prancheta Eletrônica, da ScoutOnLine Tecnologia Esportiva.

Percebam no quadro abaixo como, ainda com relação às “mini-seleções”, cada time se compõe em termos da nacionalidade dos seus jogadores:



Com relação ao jogo em si, essa foi uma partida muito movimentada e que dividimos em quatro momentos (intervalos) distintos. Isso pode ser observado no gráfico de passes certos ao longo do tempo de jogo abaixo, bem como nos campogramas de posicionamento efetivo dos jogadores nesses mesmos intervalos seguimentados:





Dividimos em quatro grandes momentos sob uma visão tática: até 2x0 Liverpool; empate por 2x2; virada do Chelsea para 3x2; e virada do Liverpool até o final. Nesses seguimentos do jogo fica possível perceber a estrutura tática das equipes, a maneira como iniciaram a partida e suas nuances em função da necessidade do resultado.

Uma marca das equipes inglesas - pelo menos das quatro grandes (Chelsea, Liverpool, Arsenal e Manchester United) - é o 4-3-3 que varia para um 4-5-1 ao estarem sem a posse de bola.

São os “falsos pontas”, voltando para a primeira linha defensiva. Essa estrutura foi a utilizada pelo Chelsea no início da partida.

No início, o clube londrino esteve muito recuado em função da marcação adiantada do Liverpool, com os pontas Malouda e Kalou recuados; no campograma (0-28 min) vê-se uma média de ações defensivas com todos os jogadores atrás do meio de campo. O resultado foi um excesso de tentativas de ligação direta entre os setores de defesa e ataque, com muitos lançamentos em direção a Drogba e ações ofensivas de perigo somente nas bolas paradas.

Pelo lado do Liverpool, além da marcação adiantada, os Reds tiveram um esquema parecido com o do Chelsea, entretanto, os pontas tiveram o apoio dos laterais no ataque, com Fabio Aurélio e Arbeloa sempre participando das ações ofensivas nas quais, mesmo sem chegarem à linha de fundo com constância, tornaram-se o grande diferencial da equipe.

Enquanto isso, os Blues tiveram o zagueiro Ivanovic improvisado na lateral direira, além de Ashley Cole discreto no ataque.

Na segunda etapa da divisão (28-57), as principais mudanças se devem à entrada de Anelka. Ele entrou no lugar de Kalou e melhorou a qualidade no setor direito, conseguindo manter a posse de bola e auxiliar Drogba no ataque, tanto em jogadas pelo meio, como em jogadas pelo fundo, de onde saiu o primeiro gol. Além disso, abriu espaço pra a chegada de Lampard pelo meio.

O equilíbrio da partida refletiu-se no campograma com o avanço das linhas de defesa e equilíbrio no fluxo de passes. Resultado da diminuição da intensidade da marcação do Liverpool, até de certa maneira dada como natural, pois o desgaste físico de marcar pressão no ataque é muito grande.

Na terceira etapa da divisão (57-76), o Liverpool voltou a dominar as ações (algo bastante claro no gráfico 1 acima), porém, aos 76’, num erro na saída de bola da sua defesa, acabou tomando o gol da virada.

Por fim, na última etapa da nossa divisão, após o Chelsea virar o placar para 3x2 (quando o rival precisaria de mais três gols para a classificação), os azuis pareceram relaxar com um ar de missão comprida. A partir daí os vermelhos começam a trocar maior número de passes e marcaram dois gols num intervalo de dois minutos. Gols que saíram em um chute despretensioso de Lucas e uma jogada de Riera pela esquerda, com as linhas defensivas do Chelsea muito próximas à grande área.

Na sequência, faltando um gol para a classificação do Liverpool, o Chelsea conseguiu manter a posse de bola no campo adversário e não levou o sufoco que era esperado num momento daqueles. Marcou um gol justamente após jogada de Drogba, o responsável pela manutenção dessa posse de bola e, quando tudo parecia definido, Essian ainda salvou uma bola em cima da linha e que colocaria o Liverpool na partida restando ainda os acréscimos do árbitro.

O que se pode tirar dessa partida como exemplo de fatores determinantes de um resultado e que aconteceram de maneira explícita é:

· A marcação pressão no campo adversário foi fundamental para a manutenção da posse de bola já no início do jogo. Além de poder roubar a bola num setor mais próximo à área, pode-se pegar o adversário desestruturado.

· Jogadas de linhas de fundo realizadas pelos pontas, e não pelos laterais que somente dão apoio, quando o senso comum diz que estes “acabaram” no futebol atual (é muito comum escutar isso no noticiário esportivo).

· Times jogando sem um meia responsável somente pela armação, jogando com um trio de volantes versáteis com função primeiramente de desarme (Essien-Lampard-Balack/Lucas-Mascherano-Xabi Alonso) podem ser muito eficientes, e faz com que estes sempre apareçam no ataque vindo de trás.

Uma partida com muitos gols acontece em função de erros do setor defensivo ou mérito do ataque. E com relação a isso, o aspecto motivacional dos atletas em torno da competição influencia diretamente no resultado final.

Fica aí o exemplo a ser seguido aqui no Brasil. Mantendo nossas estrelas por maior tempo e aproveitando esse bom momento do futebol brasileiro (com a atual “onda” de contratações do exterior, ainda que limitada) de nomes de peso, é possível despertar um interesse maior por esta temporada do Campeonato Brasileiro, além de dar uma maior qualidade ao mesmo.

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