Jogar futebol
É preciso compreender o jogo na sua essência, entregando-se a ele com paixão. É preciso senti-lo internamente. É preciso saber oxigenar-se através do combustível mágico do jogo. Esse é o esporte
Ronald de Carvalho
De maneira geral, o futebol que está sendo jogado no Brasil – ainda que haja exceções à regra – não prima pela qualidade. Basta ver o inadmissível número de passes errados numa partida, algo que se refere a um dos elementos fundamentais da técnica individual do jogador.
O que antes era um jogo de bola se tornou uma luta, uma batalha. São brigadores de posse da bola se multiplicando assustadoramente e, paradoxalmente, os talentos da arte de jogar futebol se tornando cada vez mais escassos. Não é o modelo da escola brasileira de futebol. Não é a nossa identidade. Isso acaba se refletindo numa enganosa aceitação de competitividade. Competir não significa lutar.
Afinal, futebol é um jogo ou é uma luta desenfreada pela posse da bola? E antes que se subestime a indagação com o chavão de que “o futebol mudou”, precisamos refletir um pouco mais.
O que antes era um jogo de bola se tornou uma luta, uma batalha. São brigadores de posse da bola se multiplicando assustadoramente e, paradoxalmente, os talentos da arte de jogar futebol se tornando cada vez mais escassos. Não é o modelo da escola brasileira de futebol. Não é a nossa identidade. Isso acaba se refletindo numa enganosa aceitação de competitividade. Competir não significa lutar.
Afinal, futebol é um jogo ou é uma luta desenfreada pela posse da bola? E antes que se subestime a indagação com o chavão de que “o futebol mudou”, precisamos refletir um pouco mais.
Por que será que alguns jogadores, já com seus trinta e tantos anos, acabam se destacando no meio dessa correria desenfreada? Seria porque ainda lhes sobra o talento, mesmo sem o vigor da juventude? Ou por que ainda carregam dentro de si outra concepção do jogo de futebol?
Num artigo anterior, comentei sobre jogar futebol por reação. Em síntese, quis dizer o seguinte: hoje, o jogador luta pela bola e, de posse dela, vai em frente ou a entrega a um companheiro, mesmo sem saber por quê. Se for em frente e algum adversário se opõe, vindo na sua direção, reage aquela ação, desviando-se, e por aí vai. Acontece até mesmo de se deparar, assustado, com a seguinte situação: “Ih... caramba... fiquei na cara do gol”, e aí chuta para fora ou, acidentalmente, como tudo se originou, termina fazendo o gol.
Seria isso jogar futebol? Evidentemente, não é assim que se pratica a modalidade, pelo menos na história brasileira nunca foi dessa maneira.
Jogar futebol é algo mais. Não se joga futebol por reação. Tampouco por reprodução. E futebol não se restringe a um projeto social para minimizar as desigualdades do povo brasileiro, e nem deve ser entendido como uma tábua de salvação, embora, consequentemente, acabe proporcionando independência financeira a muitos que dele participam.
É necessário, primordialmente, talento para se jogar bem. Aliado ao talento, a inteligência. Luta, garra e determinação não garantem um bom futebol, apesar de necessárias. É preciso compreender o jogo na sua essência, entregando-se a ele com paixão. É preciso senti-lo internamente. É preciso saber oxigenar-se através do combustível mágico do jogo, colocando em cada gesto, em cada jogada, a alegria pela descoberta de saber e poder fazer o melhor diante das mais inusitadas situações.
É preciso conceber e criar. É preciso transgredir o óbvio com o diferente, com o novo, até com o inimaginável. É preciso mostrar felicidade pelo prazer de jogar bola nesse mundo particular, e na qual consegue melhor se expressar. A vocação foi concedida. A contrapartida faz obrigatória uma doação intensa a cada jogo. Com respeito a tudo que ele significa. Não se preocupando em ser o melhor, mas sim a dar o melhor que puder e que existe dentro de si. Não é simples, mas é assim que se joga futebol.
Seria tudo isso apenas um delírio? Ou algumas linhas românticas do futebol? Ou apenas, coincidências? Seria difícil simbolizar um jogador com tais atributos?
Para mim, basta fechar os olhos para visualizar o Kaká correndo com a bola nos pés, jogando futebol sempre com a mesma intensidade. Sempre competitivo!
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Benê Lima