Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

segunda-feira, agosto 10, 2009

Lições de liderança para treinadores do século XXI
Alcides Scaglia
"José Mourinho é um excelente comunicador e um líder eficaz" (Luis Lourenço & Fernando Ilharco)

Por intermédio dos professores João Paulo Medina e Manuel Sérgio, mesmo à distância, pude conhecer o competente jornalista e professor Luís Lourenço.

Luís Lourenço é mais conhecido por ser o biógrafo do treinador José Mourinho, tendo publicados os livros “José Mourinho” e “José Mourinho: um ciclo de vitórias”.

Contudo, quero destacar o melhor e o mais denso de todos os bons trabalhos de Lourenço, seu estudo de caso sobre a liderança de José Mourinho.

Este estudo, fruto de cabal trabalho acadêmico/científico, o qual lhe proporcionou o título de mestre, saiu da universidade e foi publicado como livro depois de receber importantes incrementos do professor Fernando Ilharco.

Acredito que todos que atuam ou almejam ser treinadores de futebol devem ler este livro. Intitulado como “Liderança: as lições de Mourinho”, o mesmo além de ser um estudo de caso muito particular sobre um dos mais destacados treinadores da atualidade, discorre sobre as mais importantes teorias de liderança e suas interfaces com a profissão de treinador.

Sempre à luz do pensamento complexo, essa obra procura, em determinado momento, discorre sobre seis estilos de liderança. E neste momento, tomo a liberdade de abordá-los nesta crônica pedagógica, de modo a facilitar e despertar a percepção dos treinadores de futebol, a ponto destes tornarem suas respectivas experiências de gestão mais eficazes e eficientes.

Sendo assim, quero apresentar uma síntese dos estilos de liderança, tendo como exemplo de aplicação a forma de gestão de José Mourinho, nas palavras literais do autor do estudo, Luís Lourenço:

Estilo Visionário – Talvez a característica mais importante do líder visionário seja a de inspirar os seus seguidores. Contudo, o seu segredo está na forma como o faz. Este tipo de liderança encontra suporte na forma como exprime os seus objetivos. Porque o que vale para os outros vale para si próprio, este líder sintoniza-se com os seus subordinados porque partilha os mesmos valores, logo é autêntico. Assim, não lhes incute idéias e fins sem que eles os descubram por si mesmos, e neles genuinamente acreditem, embora, obviamente condicionados pelo caminho que o líder lhes propõe e pelos objetivos a atingir. O líder visionário leva os seguidores a realizarem as suas tarefas de uma forma envolvente, ou seja, deixa-lhes espaço para que sejam eles a descobrir um caminho que ele próprio já imaginou. Com Mourinho é isto mesmo que se passa com a técnica que apelidou de descoberta guiada. A sua autenticidade e partilha dos valores que apregoa está bem expressa quando, depois da derrota com o Panathinaikos, ele disse aos seus jogadores: “Nós vamos lá dar a volta à eliminatória e se alguém aqui não acredita que é possível ganhar lá e passar às meias-finais que o diga já, porque fica cá e eu vou para a Grécia com outro".

Estilo Conselheiro – Este estilo encontra muito do seu fundamento na capacidade relacional do líder com cada um dos seus subordinados. O líder vê o homem para além do profissional e interessa-se pelo seu bem-estar dentro e fora do trabalho. Conversa, ouve e aconselha de uma forma individual, porque cada ser humano é uno e diferente. Daniel Goleman considera que este estilo não é muito praticado na atualidade, no entanto é um estilo capaz de gerar ressonância já que os líderes conselheiros ao estabelecer ligações ajudam as pessoas a identificar os seus pontos fortes e fracos, criando uma ligação direta e efetiva ao seu desempenho. Não sendo talvez o seu ponto forte, José Mourinho pode, também aqui, encontrar alguma fundamentação da sua liderança. Podemos perceber isso nas palavras de Desmond Morris sobre o treinador: “Mourinho identifica-se mais com a sua equipa do que qualquer outro treinador. Ele está apaixonadamente envolvido com eles. (…) Discordo ligeiramente do retrato que fazem dele como um pai para os seus jogadores. Ele é mais como um irmão mais velho. Ou o chefe do bando”.

Estilo Relacional – Este estilo caracteriza-se pela partilha de emoções. O líder celebra e o líder chora. Coloca a ênfase no ser humano e nos seus sentimentos mais que no profissional e ao fazê-lo gera grandes laços de fidelidade e relacionamento. É, no entanto, um estilo de liderança que não melhora de uma forma direta o desempenho das pessoas. Embora Mourinho se emocione com os seus jogadores não podemos considerá-lo um líder relacional já que ele raramente admite erros e procura sempre de uma forma direta o aperfeiçoamento individual e coletivo, sendo isto, para ele, o mais importante. Não dissocia, portanto, numa perspectiva complexa, a felicidade pessoal do desempenho pessoal tal como se percebe das palavras do jogador do Chelsea, Joe Cole: “Ele é a primeira pessoa a olhar a sério para mim e para a minha maneira de jogar”.

Estilo Democrático – O líder democrático, tal como o próprio nome indica, recorre aos contatos pessoais, à discussão, à partilha de idéias e às sugestões. Fá-lo em reuniões, que podem ser alargadas, e escuta as preocupações dos participantes. Ao ouvir os outros encontra grande parte do fundamento do seu próprio processo decisório. Cria um clima emocional globalmente positivo e funciona melhor se o líder tiver dúvidas. Pela própria personalidade, conhecimentos técnicos e competência de José Mourinho não o enquadramos diretamente neste estilo de liderança.

Estilo Pressionador – É um estilo de atuação utilizado em determinados contextos porque não traça linhas claras de atuação. Quase sempre o líder está focalizado nos objetivos, deixando para um plano completamente secundário as pessoas, o que poderá ter como resultado – e a médio/longo prazo tem seguramente – a dissonância. Contudo, como referimos, num contexto determinado e em doses moderadas a pressão pode levar a desempenhos positivos. É um estilo que pode ou não identificar-se com José Mourinho. Lembrarmo-nos da sua entrada no Estádio da Luz para o jogo Benfica/Porto em 2003, antes dos seus jogadores, como forma de os aliviar da pressão exercida pelos adeptos benfiquistas. Mourinho tenta sempre retirar a pressão, ou demasiada ou não apropriada pressão, dos que consigo trabalham. No entanto, a pressão em causa neste exemplo é algo que vem do exterior da equipa, não é exercida pelo líder. Quando falamos na pressão exercida pelo líder – e aqui o enquadramento no estilo pressionador já será mais correto –, então podemos afirmar que José Mourinho se encaixa também neste estilo de liderança. A comprovar esta análise estão as palavras de Rui Faria, seu técnico adjunto: “Quem vive profissionalmente com ele tem de saber viver com grande pressão e ao mesmo tempo tem de dar resposta positiva. A pressão que José Mourinho exerce sobre o seu grupo de trabalho é feita de um modo muito particular em função das diferentes situações.” Mourinho pressiona os jogadores, desfiando-os constante e consistentemente, a dar o máximo deles próprios, a superarem-se, a serem os melhores”.

Estilo Dirigista – Este estilo de liderança preconiza a obediência cega, o que o liga a uma forma eminentemente coerciva de estar na vida. Na sociedade atual é o menos aceitável e tolerável podendo, no entanto, ser aceite em situações muito esporádicas, como, por exemplo, face a ameaças”.

Portanto, depois destas breves, porém consistentes e fundamentadas análises que recolhi no trabalho de Luís Lourenço, considero que seja possível instigar uma pertinente reflexão, principalmente ao público mais interessado, os treinadores de futebol.

Qual seu estilo de liderança?

No momento que se tiver claro qual ou quais sejam, é possível criar estratégias de gestão para que os liderados possam ser guiados ao sucesso, ou seja, a vitória pessoal, social e profissional..


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Benê Lima