Criticar sem conhecimento de causa, ignorando tudo que leva a prejudicar a qualidade do piso, não é uma atitude positivaArtur Melo*A "história" dos gramados esportivos no Brasil é muito recente.
Inicialmente, jogava-se em campos de grama nativa (Batatais - Paspalum notatum). Grandes atletas, como Pelé, Zagalo, Garrincha, Zico, Falcão, Sócrates, Batista, Júnior, etc, só para citar alguns, até o início da década de 90 do século passado, jogavam em campos precários.
Era muito comum atuar com as áreas frontais aos gols inteiramente carecas, campos sem grama de gol a gol. Era, literalmente, pasto aparado e com um elevado grau de ervas invasoras. Campos duros, com base argilosa. Campos esburacados. Que traziam grande risco à integridade física dos jogadores.
Entre o final da década de 80 e meados da década de 90 do século passado, iniciou-se uma verdadeira revolução nos gramados esportivos nacionais, com alguns engenheiros agrônomos que se dedicaram a essa área.
A partir de 1990, as gramas nativas começaram a ser substituídas, gradativamente, pela grama Esmeralda (Wild zoyzia) que foi a primeira variedade cultivada no país, em moldes profissionais. Os principais conceitos de drenagem começaram a ser revistos e muito dos conceitos que vieram dos gramados de Golf passaram a ser usados nos campos de futebol. Desta formam ocorreu uma grande melhora na qualidade dos gramados.
Depois de 1998, com a possibilidade de uso das gramas Bermudas híbridas (cruzamento da Cinodon dactilum x Cinodom transvaliensis), o salto de qualidade dos nossos gramados ficou mais evidente. Era uma segunda geração de variedades de grama (tifton 419, ITG6 e a Celebration), com uma aptidão maior a formar gramados esportivos que a Esmeralda, e uma segunda geração de engenheiros agrônomos, que junto com os pioneiros, conseguiram aos poucos incutir uma mentalidade nos dirigentes esportivos da necessidade de se investir nos campos de treino e jogo. O gramado é o palco verde do espetáculo!
Tudo melhorou e evoluiu nos últimos 15 a 20 anos em gramados esportivos no Brasil: mão de obra técnica, máquinas, drenagem, irrigação automatizada, manutenção, etc.
A despeito da intensa carga de uso, da sombra, etc., conseguimos levar a maioria dos campos, até o fim do ano, com grama e razoável qualidade. Não dá é para querer comparar com os gramados da Europa, onde o investimento nesse setor é muito maior e, principalmente, feito há muito mais tempo. E com muito menos jogos/atividades por lá.
Porém, nos últimos 20 anos ocorreram, também:
- aumento da capacidade física do atletas, que hoje correm o dobro que há 20 anos;
- redução do tamanho dos campos (de 110x75m, para 105x68), com 1.110m2 a menos para 22 atletas que hoje correm mais;
- as chuteiras passaram a ter mais cravos, quadrados ao invés de redondos, que conferem maior poder de tração para os atletas, mas que, em contrapartida, provocam mais injúria mecânica aos gramados;
- a moderna arquitetura de estádios trouxe as coberturas e os formatos tipo arena, que, se de um lado proporcionam maior conforto ao espectador e beleza estética ao espaço, impõem sombra ao gramado (a grama precisa da luz solar para fazer a fotossíntese e poder crescer, produzir massa verde e ter capacidade de suporte de pisoteio);
- temos um calendário que é criticado por técnicos e comissões técnicas por sobrecarregar os atletas profissionais. Isso não é diferente nos campos. O Stadium Rio (Engenhão) teve no primeiro semestre um número de atividade maior que um estádio europeu em um ano.
Este ano, entre 19/01 e 31/07, tivemos 62 jogos oficiais, enquanto Wembley tem 20 jogos/ano, o Camp Nou, 30 jogos/ano, ou Guerlan, 30 jogos/ano.
Esse é apenas um exemplo. Mas as comissões técnicas se esquecem de que não há banco de reservas para os campos de futebol quando criticam o gramado.Assim, quando um determinado jogador, ou técnico, critica um gramado no Brasil, este ignora (no sentido mais puro do termo) tudo o que está acima explicado. E, como profissional da área, não deveria ignorar.
Não se deveria criticar um gramado sem ter o conhecimento de toda a situação que leva um campo a não estar na sua melhor condição.
A crítica, quando construtiva, é sempre bem vinda e bem aceita. Nos ajuda a melhorar. Quando é feita construtivamente e pelos canais próprios. E há canais próprios e sempre abertos.
Agora, criticar sem conhecimento de causa, ignorando tudo que leva a prejudicar a qualidade do piso, não é uma atitude positiva.
Trabalhamos de forma a dar as melhores condições possíveis de trabalho a jornalistas, comissões técnicas, dirigentes e atletas (todos os usuários dos gramados). E vamos continuar a fazê-lo, sempre, ainda que algumas vezes sejamos criticados por profissionais que desconhecem por completo o âmago e todas as nuances da questão.
*Artur Melo é Engenheiro Agrônomo, especialista em gramados esportivos.
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