Grupo de estudos sobre futebol convoca petição pública para salvaguardar memória a Mané Garrincha

Nome do eterno craque do Botafogo e da seleção brasileira poderia ser retirado da referência à nova arena de Brasília

Bruno Camarão

“Brasília possui reconhecida tradição em abrigar eventos esportivos de primeira linha e foi uma das sedes da Copa do Mundo de Futsal da Fifa 2008. Os jogos foram disputados no Ginásio Nilson Nelson, situado à frente do antigo Estádio Mané Garrincha, que dará lugar ao novo Estádio Nacional de Brasília. A nova arena terá capacidade para mais de 70 mil torcedores e passa a ser uma dos maiores do país”. 

O parágrafo inicial, exposto no site oficial da entidade que comanda o futebol no planeta, mais do que apresentar parte do histórico da modalidade na capital do Brasil, possui de maneira explícita um desejo. Algo que causa consternação em um grupo acadêmico. Pois fere a memória de um ídolo popular.

O “Movimento fica Garrincha!”, capitaneado por Silvio Ricardo da Silva, professor do Departamento de Educação Fisica da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UFMG, busca reunir todos os que consideram tal atitude de troca de nome algo inaceitável e ofensivo à história do esporte e do país.

O governo do Distrito Federal planeja mudar a descrição do local que receberá os jogos da Copa do Mundo de 2014 que ocorrerão naquela cidade-sede. E o antigo Mané Garrincha passaria a ser alcunhado apenas como “Estádio Nacional de Brasília”.

Junto ao grupo que coordena, o Gefut (Grupo de Estudos Sobre Futebol e Torcidas), Silvio discute as questões que dizem respeito ao futebol em âmbito mais geral – não apenas sobre aspectos técnicos e táticos, mas também, e principalmente, a relação do futebol com a sociedade.

“O grupo ficou sabendo que o nome do estádio iria mudar e que essa mudança vai na direção de outras ações que vêm sendo tomadas em função dos megaeventos que acontecerão no Brasil. Essa iniciativa da mudança carrega com ela uma ideia de assepsia social e esportiva, tentando (mas nunca conseguirão) fazer esquecer aquele que foi o nosso ‘Macunaíma’ do futebol O anti-atleta”, afirmou o professor.

 

Diante de tal “crueldade ao patrimônio do futebol brasileiro”, como nominou o ato executivo de CBF e Comitê Organizador Local, aliada a outras ações que vêm no bojo dessas últimas mudanças, como o aumento do preço dos ingressos, o agendamento de jogos em função dos interesses das TVs e não dos torcedores, etc., os acadêmicos pretendem que a medida seja revogada.

Para que isso se concretize, eles pedem o amparo da sociedade brasileira a partir da manifestação diante das “intromissões” de órgãos administrativos e TVs ao “patrimônio cultural futebol”.

“Quero deixar claro que minha defesa não é só pelo nome do Garrincha ou de qualquer outro ídolo, mas a defesa pelo que ele simboliza. Um futebol alegre, popular, nascido nos campos de pelada, que encantou multidões e que nos deu muito orgulho. Não estou falando de ídolos inventados pela mídia e por patrocinadores”, completou Silvio, em referência ao atleta que nesta semana completaria 78 anos se ainda estivesse vivo.

No que diz respeito à CBF e o Comitê, a posição do Gefut é de modificar o nome do estádio. Para Silivo, há uma subserviência absoluta à Fifa e aos interesses econômicos. Além de uma lamentável falta de respeito aos anseios dos torcedores, “pois é o pertencimento clubístico que fez o futebol ser o que é”.

Uma petição pública corre nas redes sociais. Há, inclusive, um abaixo assinado que apresenta duas demandas ao Governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, cobrando: a manutenção do nome de batismo e a construção de um busto e de um memorial em homenagem a Mané Garrincha na arena revitalizada.

“Não haveria oportunidade melhor para mostrar a todo o mundo que o Brasil sabe valorizar sua memória e sua gente”, finalizou Silvio.

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