Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

terça-feira, outubro 25, 2011

Seleção de talentos esportivos, uma revisão necessária no Brasil em sua década do esporte

Processo geralmente atende competências técnicas, deixando de lado necessidade de avaliar perfil comportamental do atleta e se este se adéqua a função, cultura e valores da empresa
Gustavo D'Avila*

Falar em seleção de talentos no esporte é uma tarefa no mínimo desafiadora uma vez que ao vermos grandes somas de recursos financeiros que giram em torno do esporte, principalmente do futebol, nos perguntamos: como é feita essa seleção de talentos? Será que ainda é realizada através de processos exclusivamente empíricos e percepções intuitivas dos olheiros, sem excluir seus méritos sobre os talentos que foram descobertos? Mas e aqueles que não foram “selecionados”? Será que não estamos desperdiçando talentos pela simples falta de um processo estruturado e com critérios definidos que possam suportar de forma sustentável essa seleção?

Não digo que não serão mais utilizados complementos intuitivos e percepções pessoais, até porque isso é cultural no Brasil e não cabe aqui definir que esses métodos não devam mais ser utilizados, mas sim cabe refletir porque estes não passam a ser suportados por processos mais estruturados, regulares e confiáveis.

Ao pensarmos no aproveitamento dos atletas nos clubes de futebol brasileiros, também lembramos que após passarem pela tradicional peneira, os atletas ainda serão avaliados por algum clube que também, na maioria dos casos, utiliza apenas a observação técnica e a característica física dos mesmos, desconsiderando as características psicológicas e perfis comportamentais destes. Nesse caso, será que não temos um fenômeno que acontece no mundo corporativo também se desenhando no meio esportivo: o de selecionarmos talentos pelas suas competências técnicas e esquecermos-nos de avaliar seu perfil comportamental e se este se adéqua tanto à função que se deseja ocupar, quanto à cultura e valores da empresa? 

Em geral, os recursos são contratados pela competência técnica e formação e num cenário de baixa performance podem ser demitidos justamente por problemas relacionados ao perfil de comportamento que não é compatível à função atribuída ao recurso ou com a cultura organizacional na qual está inserido.

No esporte vemos inúmeros casos de promessas que não se transformam em grandes atletas profissionais. Será que não se cometem os mesmos equívocos do mundo corporativo citados anteriormente, ou seja, ao selecionarmos os talentos a serem recrutados ou contratados nos esquecemos de avaliar se o perfil comportamental destes estão de acordo com as expectativas do clube, em relação ao papel que este atleta exercerá na equipe e também em relação à cultura e valores da instituição esportiva? Nestes casos, o atleta frequentemente deixa de ser utilizado e tem sua carreira comprometida, transferindo-se de clube em clube sem reproduzir a esperada performance esportiva. Sem falar no clube que desperdiça a chance de compreender o cenário e aprender para evoluir, além de não obter retorno sobre o investimento feito na base por pura falta de atenção adequada ao assunto.

Pode-se somar a análises técnicas, físicas e fisiológicas, as com o objetivo de definir perfis comportamentais pretendidos pela instituição, além de poder mapear perfis de alto rendimento baseado no desenho de perfis de atletas de resultados reconhecidamente de alto rendimento e sucesso profissional. Ao espelhar alguns perfis, podem-se comparar os perfis dos talentos e compreender se determinado poderá se tornar um talento esportivo, além de compreender como desenvolver tal talento rumo ao seu estado da arte no que tange ao desempenho esportivo. Isso possibilitará uma seleção mais apropriada dos talentos esportivos e também um melhor aproveitamento e performance dos atletas já selecionados e atuantes nos clubes e instituições esportivas.

Quem se mantiver apenas no processo intuitivo para selecionar seus talentos estará perdendo mercado para demais instituições esportivas, ainda mais num mercado em que desenvolver talentos é um investimento muito mais rentável do que adquirir talentos prontos. E neste cenário, coaches e psicólogos do esporte terão um papel fundamental na estratégia de seleção dos talentos, bem como no planejamento estratégico das carreiras dos atletas.

E sua instituição esportiva, como tem feito a seleção dos talentos? Estrategicamente, como sua instituição esportiva quer ser reconhecida no futuro? Lembre-se que seus investidores estão atentos e acompanhando a evolução do mercado esportivo no país.
 

*Gustavo D'Avila é Master Coach Certificado pela Sociedade Brasileira de Coaching e pelo BCI (Behavioral Coaching Institute) e MBA em Gestão e Marketing Esportivo.

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Benê Lima