Profissional que acumula funções aborda necessidade de crescimento na área e peculiaridades do clubeBruno CamarãoO momento da Associação Portuguesa de Desportos é especial. Líder incontestável da Série B do Campeonato Brasileiro, a equipe comandada por Jorginho, que virtualmente ascendeu à elite do futebol nacional de maneira antecipada, com um jogo coletivo muito bom, amparado por destaques provenientes de suas categorias de base.
Dois deles, Guilherme e Henrique, simbolizam um perfil traçado pelos profissionais de gestão técnica que atuam nas equipes de formação. Agregado à qualidade nos fundamentos básicos, como passe, cabeceio e finalização, ambos têm uma grande componente tática e um caráter elogiável, fruto também da educação caseira. No ano passado, sagraram-se campeões paulistas da categoria sub-20. Hoje, encantam a torcida no departamento principal.
Eles podem se tornar o sustentáculo de um projeto que, entretanto, ainda carece de desenvolvimento. Isso porque a Portuguesa ainda não possui uma metodologia própria e solidificada em relação à detecção e desenvolvimento do talento do jogador de futebol. Quem fez a avaliação foi Rodrigo Bellão.
Jovem profissional formado em Esporte na Universidade de São Paulo, ele está há quase cinco temporadas no Canindé – atuando no CT do Parque Ecológico do Tietê, como extensão. Após um começo como estagiário da preparação física, no grupo sub-20, e passagem por várias etapas, foi efetivado e contratado como preparador físico da equipe sub-16 e auxiliar técnico do sub-17 neste ano. Mas mantém com entusiasmo e dedicação sua função de analista de desempenho.
“No nosso departamento de formação de atletas, a análise de desempenho não é uma ferramenta consolidada, com a qual todos concordam ou que sabem se utilizar dela. Ainda estamos engatinhando, dependendo muito do treinador de cada categoria gostar ou não desse suporte”, explicou Bellão.
Para ele, essa atividade técnico-científica, que ganhou projeção (pelo menos nominalmente) com Rafael Vieira, integrante da comissão técnica de Mano Menezes, na seleção brasileira ,é dividida em cinco processos: planejamento, coleta de dados (anotação), análise dos dados coletados, geração do banco de dados e apresentação dos resultados.
“Quando a avaliação do jogo é feita de maneira subjetiva, muitas vezes os treinamentos acabam sendo planejados e realizados de maneira subjetiva, sendo que se pode estar trabalhando algo que não é tão necessário no momento ou então deixando-se de trabalhar algo que é extremamente necessário”, justificou Bellão, que faz uma parceria com Felipe Bressan, seu antigo companheiro de estágio, e hoje treinador do sub-17.
Nesta entrevista à Universidade do Futebol, Bellão discorreu ainda sobre como os padrões de análise devem ser criados a partir da união do Modelo de Jogo com as estratégias definidas pelo treinador e qual é a importância da tecnologia esportiva inserida nos staffs.
Universidade do Futebol – Qual é a sua formação acadêmica e como foi seu ingresso no ambiente do futebol?
Rodrigo Bellão – Eu sou Bacharel em Esporte, formado pela Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (USP), em 2010, e começei no futebol na própria Portuguesa, como estagiário de preparação física.
Em agosto de 2007, o então coordenador de futebol de base do clube, Coronel Lucas , me ofereceu uma vaga de estágio na categoria sub-20. Eu estava no segundo semestre da faculdade e trabalhei no juniores até fevereiro de 2008, após o término da Copa São Paulo da categoria.
Neste torneio foi onde dei início ao trabalho como analista de desempenho técnico, desenvolvendo um scout primário que atendesse às necessidades da época. Em fevereiro de 2008, o técnico do juvenil gostou do que eu fiz (um relatório individual de cada atleta, com todos os dados coletados, evolução jogo a jogo e uma análise dos dados) e me convidou para trabalhar com ele. Como os horários dos treinos do sub -17 se adaptavam melhor aos meus da faculdade, acabei mudando de categoria. Comecei, então, a trabalhar com as equipes sub-16 e sub-17 da Portuguesa.
Neste mesmo ano, o clube trouxe outro estagiário, o Felipe Bressan. Juntos, resolvemos que iríamos desenvolver mais o scout e melhorar a análise de desempenho da categoria juvenil. Em janeiro de 2009, produzimos uma planilha bem completa para fazer a análise de desempenho da categoria sub-20 na Copa São Paulo.
Seguimos o trabalho de análise de desempenho na base da Portuguesa, assim como para a equipe profissional, no ano de 2010. Em 2011, fui efetivado e contratado como preparador físico da equipe sub-16, e o Felipe, que era analista junto comigo, virou treinador daquele grupo e também do sub-17. Com isso, passei a acumular a função de auxiliar técnico e analista de desempenho dele, na categoria sub-17, além de ser preparador físico da categoria sub-16.
Scout da campanha da Lusa sub-17 em um campeonato estadual; Bellão encontrou algumas resistências no departamento principal, mas fez bom trabalho ao lado de Vadão
Universidade do Futebol – Qual é o papel do analista de desempenho nas categorias de base da Portuguesa?
Rodrigo Bellão – A análise de desempenho técnico nas categorias de base da Portuguesa atualmente é feita somente por mim, no juvenil.
Há um projeto que eu criei para implantar essa função em toda a base, mas ainda não foi possivel colocar em prática devido à política do clube.
No nosso departamento de formação de atletas, a análise de desempenho não é uma ferramenta consolidada, com a qual todos concordam ou que sabem se utilizar dela. Ainda estamos engatinhando, dependendo muito do treinador de cada categoria gostar ou não desse suporte.
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Universidade do Futebol – Esse trabalho também é desenvolvido com o departamento de futebol principal? Você comentou que teve uma experiência com o Vadão…
Rodrigo Bellão – Já tivemos a experiência de colaborar com o departamento de futebol principal do clube no ano passado, em 2010. O Vadão é um treinador muito interessado em análise de desempenho, assim como seu auxiliar técnico, o Gersinho. Sei que ele já tinha esse suporte quando trabalhou na Ponte Preta, onde um departamento lhe ajudava com essa parte, se não me engano coordenado pelo professor Vendite, da Unicamp, que é um dos maiores estudiosos dessa área no futebol.
Quando o Vadão chegou ao Canindé, o auxiliar técnico fixo do clube era o Rúbio Alencar, grande treinador e com quem tive a oportunidade de trabalhar na temporada de 2009 no juvenil. O Rúbio sempre gostou do trabalho de análise de desempenho e nos apresentou ao Vadão na chegada dele à Portuguesa. Então, começamos a coletar os dados e fazer as análises somente nas partidas em casa, pois não tínhamos acesso ao jogos fora.
Foi uma experiência muito boa, já que o Vadão, o Gersinho e o Rúbio nos ajudaram dando opiniões e mostrando o que era necessário para desenvolver mais o nosso trabalho.
Mas atualmente não há esse tipo de ação sendo feita na equipe principal do clube, infelizmente.
Universidade do Futebol – Você poderia explicar de maneira conceitual como é realizado o processo de anotação, avaliação, interpretação e apresentação dos resultados?
Rodrigo Bellão – Na minha visão, a análise de desempenho é dividida em cinco processos: planejamento, coleta de dados (anotação), análise dos dados coletados, geração do banco de dados e apresentação dos resultados.
Sabe-se que o "scout", que é a ferramenta mais usada na análise de desempenho, não é padronizada e que cada analista pode ter uma coleta de dados própria. Assim, as análises de desempenho, como os próprios "scouts", podem ser diferentes nos diversos lugares em que eles existem.
Portanto, o primeiro passo para iniciar o processo de análise de desempenho deve ser o planejamento no início da temporada. Este deve ocorrer entre o analista de desempenho e o treinador, junto com o respectivo assistente. Isso para que todos debatam quais os dados a serem coletados e definam os padrões desses dados, não ficando algo subjetivo.
Por exemplo, o analista pode coletar os dados de "desarmes". Será que o conceito teórico de desarmes que o analista tem é o mesmo conceito do treinador? Isso é fundamental para que haja êxito na análise, pois ambos têm que falar "a mesma língua". Também há o caso de um mesmo fundamento ser dividido em dois subitens, como o próprio "desarme", por exemplo – este pode ser "completo" ou "incompleto". O primeiro, quando a equipe retoma a posse de bola; o último, quando ocorre a interceptação, mas a posse de bola ainda continua com o adversário.
Em minha opinião, essa fase do planejamento é a mais importante da análise de desempenho, pois é nela que se definem os objetivos para toda a temporada, atendendo, assim, a necessidade do treinador e da própria equipe.
O segundo passo do processo é a coleta de dados. A minha ferramenta para a coleta de dados é o "scout", bastante conhecido no ambiente esportivo. Trata-se de uma planilha na qual é possivel fazer as anotações sobre os dados coletados durante a partida. Para isso, é necessário que todos os padrões de análise estejam bem definidos desde o planejamento, evitando o empirismo durante a análise. Não pode haver "achômetro": “eu acho que é isso, ou acho que é aquilo”. Nesta fase, o analista assiste, observa os dados e os coleta durante a partida.
O terceiro passo do processo é a análise dos dados coletados. Ela pode ser dividida em duas partes: análise durante o jogo e análise após o jogo. A primeira ocorre quando há a necessidade de levar ao treinador algumas informações pertinentes a ele sobre a equipe durante a partida. Um exemplo disso é indicar se a zaga da equipe está muito sobrecarregada, devido ao baixo número de desarmes dos volantes e laterais. Essa é uma informação que muitos treinadores gostam de saber durante as partidas e que podem lhes ser úteis, pois nem sempre isso pode ser verificado apenas com a percepção visual do treinador.
Já a análise após o jogo ocorre juntamente com o próximo passo, que é a geração de um banco de dados. Com esse conteúdo, é possivel fazer uma grande análise, passando informações preciosas para equipe e treinador. E essas informações podem resultar em notas, como médias e evoluções jogo a jogo de vários fundamentos.
Por exemplo, o treinador da equipe pode verificar como estão as jogadas de linha de fundo da equipe, com a finalidade de planejar e realizar sessões de treinamentos que melhorem esse fundamento caso ele esteja baixo.
O último e quinto passo é a apresentação dos resultados, com os dados coletados e as suas respectivas análises. Primeiro explicito uma análise mais profunda ao treinador da equipe e dos dados, com uma breve explicação ao grupo; na semana seguinte, após o jogo, os atletas gostam de saber como foram na partida e por isso se interessam bastante também na análise de desempenho. Ao fim da temporada, faço uma grande análise coletiva e individual da equipe durante todas as competições, entregando ao treinador e aos dirigentes do clube.
Universidade do Futebol – Se os treinadores vierem a avaliar o jogo de uma forma subjetiva, acaba-se inevitavelmente construindo os treinamentos de uma forma subjetiva? Como se dá sua relação com o treinador e os demais profissionais da comissão técnica para a montagem de treinamentos?
Rodrigo Bellão – Concordo plenamente com a sua colocação. Quando a avaliação do jogo é feita de maneira subjetiva, muitas vezes os treinamentos acabam sendo planejados e realizados de maneira subjetiva, sendo que se pode estar trabalhando algo que não é tão necessário no momento ou então deixando-se de trabalhar algo que é extremamente necessário.
A análise de desempenho ajuda a diminuir tal subjetividade para os treinadores. Até hoje, sempre tive facilidade de comunicação com todos os treinadores com os quais eu trabalhei, mas nem sempre a minha análise foi bem aceita.
Nas últimas três temporadas trabalhei com treinadores (Rúbio Alencar, Ailton Silva e Felipe Bressan) que sempre gostaram da minha análise e que muitas vezes se utilizaram das informações coletadas para montar seus trabalhos.
Anotações no Canindé e parceria com Bressan: alvo é conquistar cada vez mais o espaço e servir de amparo aos treinadores e atletas
Felipe Bressan, que é o treinador com quem eu trabalho atualmente, era analista de desempenho junto comigo. Isso facilitou bastante para ele compreender a análise de desempenho, pois no início da semana sentamos juntos para analisar quais são as necessidades da equipe para desenvolver os trabalhos da semana.
Universidade do Futebol – Para a realização da análise tática, alguns conceitos, princípios e procedimentos são bem determinados. De que modo são cruzadas as informações estratégicas e o Modelo de Jogo treinado e como são criados “padrões de análise”?
Rodrigo Bellão – Os padrões de análise devem ser criados a partir da união do Modelo de Jogo com as estratégias definidas pelo treinador. Não se pode fazer uma análise sem um objetivo. E tal objetivo deve ir de encontro com o que o treinador deseja para a sua equipe.
Ao analisar o jogo, o analista deve verificar se a equipe vem desempenhando o Modelo que foi treinado e é exigido pelo treinador, assim como se os atletas, em conjunto, estão cumprindo as estratégias propostas. Por exemplo, se o plano for pressionar a equipe adversária nos primeiros 15 minutos de jogo, na formação de um 1-4-4-2, com duas linhas de quatro. O analista deve verificar se esta estratégia está funcionando, com o time bem compacto e as linhas de quatro bem avançadas, durante o tempo determinado pela comissão.
Deve-se lembrar que os padrões de análise tática têm que estar bem definidos, assim como os de análise técnica, porém a observação da primeira é bem mais complicada do que a outra. Por isso, o analista deve estar bem atento a todos os treinamentos do treinador, e seus pensamentos devem estar em sintonia com o mesmo.
Universidade do Futebol – A tecnologia esportiva para auxílio da comissão técnica ainda é vista de forma limitada pelos clubes nacionais? Como avançar nessa questão?
Rodrigo Bellão – Os clubes brasileiros, infelizmente, ainda não enxergam a tecnologia esportiva como um grande suporte para as suas equipes. O máximo que se consegue é o vídeo do jogo, porém, geralmente é filmado da mesma maneira que uma transmissão esportiva (câmera no centro do campo e com as jogadas sendo filmadas de perto).
Isso é ruim, pois se perdem muitos detalhes que ocorrem na partida, como posicionamento geral da equipe em campo, assim como não é possível verificar como está posicionada a defesa em um momento que a posse de bola está no ataque.
Para mim, a renovação dos dirigentes esportivos é o primeiro passo para se avançar nessa questão. Como isso é muito difícil de acontecer, acredito que no momento em que algum grande clube investir nessa área e conseguir um resultado expressivo, os outros rivais começarão a enxergar a importância e a utilidade das ferramentas de auxílio.
Inserção maior de aparatos tecnológicos às comissões técnicas dos clubes depende de resultados concretos de grandes agremiações
Universidade do Futebol – No Brasil, ainda não há cursos de formação de analistas de desempenho, ou na área de alta tecnologia esportiva. Qual é o reflexo disso? De que forma podem ser moldados e capacitados profissionais interessados em atuar nessa função sem uma base acadêmica?
Rodrigo Bellão – Realmente esse é um grande problema e que inviabiliza e muito o crescimento da área. O próprio professor português Júlio Garganta, grande pesquisador do futebol, diz em um trabalho seu que esta área de análise de desempenho, através de números estatísticos, esbarra em uma barreira. A maioria das pessoas que vem trabalhando com isso no Esporte não são da área, e sim de segmentos como a estatística.
Então, eu me pergunto: como uma pessoa que não entende do Esporte, o futebol como exemplo, pode coletar dados e analisá-los de maneira correta, sendo que ele entende de estatística? Um exemplo disso foi uma vez que um dirigente me perguntou se eu não achava que a nossa equipe jogava de maneira muito defensiva, visto que o número de desarmes era quase cinco vezes maior que o número de finalizações da equipe.
Essa é uma observação de uma pessoa que não entende do Esporte, pois é óbvio que ocorrerão mais desarmes do que finalizações – o último quesito geralmente ocorre em apenas em ¼ do campo, enquanto o primeiro pode ocorrer por todos os espaços de jogo.
Atualmente, acho muito necessário que a pessoa que queira atuar nesta área entenda tanto do Esporte como do material que irá usar para fazer a análise. Não basta saber só de tecnologia ou só de futebol: tem que unir as duas coisas.
Creio que as universidades poderiam criar disciplinas, como análise de jogo e análise de desempenho, e colocá-las em seus currículos, pois estas são de suma importância ao Esporte.
Vale ressaltar que quando eu digo que o profissional desta área deve entender de futebol, me refiro como profissional, como um membro de comissão técnica, e não como um torcedor, como muitas vezes acontece por aí.
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Universidade do Futebol – Há uma grande dificuldade em compreender como é possível ensinar e aperfeiçoar a técnica dentro do contexto de jogo, ou como se teoriza, ensinar a técnica por meio da ação tática? Esse processo é mais complicado no departamento de formação de atletas?
Rodrigo Bellão – Eu acredito ser complicado dentro das limitações culturais que temos no futebol brasileiro. Fora do Brasil, principalmente na Europa, o aperfeiçoamento da técnica através do contexto de jogo já é uma realidade há muitos anos.
Concordo que em categorias menores, como do sub-11 ao sub-15, são necessários alguns exercícios analíticos inseridos no processo de treinamento para uma aquisição inicial da componente técnica. Isso porque através de habilidades fechadas fica mais fácil adquirir ganhos no aprendizado. Porém, como o futebol é uma habilidade aberta, não se pode viver somente de exercícios analíticos, como é visto na maioria das escolas e em categorias de base de futebol.
Acredito, sim, no ensino e na aprendizagem da técnica dentro do contexto de jogo, porém, nas categorias menores, acho necessário o auxílio de exercícios analíticos. A partir do sub-16 em diante, somente o contexto de jogo é o ideal para dar continuidade à formação do atleta.
Universidade do Futebol – O que diferencia a categoria de base do Portuguesa das outras, e por que tantas finais alcançadas e tantos atletas revelados nos últimos anos?
Rodrigo Bellão – A categoria de base da Portuguesa possui uma tradição histórica de revelar grandes jogadores. Acredito que o bom nível de profissionais que lá atuam se junta ao fato de o clube ter a vantagem da grande oferta de jovens.
Pelo fato de ser um clube tradicional no futebol, juntamente com a boa localização dentro da cidade de São Paulo, há uma grande procura de atletas para fazer um teste e jogar nas nossas equipes. Isso se alia ao bom trabalho desenvolvido, proporcionando um grande sucesso na formação.
Universidade do Futebol – Guilherme e Henrique, que se destacam no atual elenco principal comandado pelo Jorginho, podem ser considerados dois exemplos, em termos de perfil, de atletas formados pelo clube?
Rodrigo Bellão – Sim. Tive a oportunidade trabalhar com os dois e digo que são grandes exemplos de perfil de atleta nosso. Tanto o Guilherme, quanto o Henrique, possuem uma grande qualidade técnica, aliada a uma grande componente tática e um grande caráter. São duas ótimas pessoas, com a cabeça no lugar.
Lembro-me que quando trabalhei com o Guilherme na categoria sub-17, os seus números eram impressionantes. Ele atuava como segundo volante e, no Campeonato Paulista da época, era o maior responsável da equipe em relação aos desarmes, cabeceios defensivos, um dos que tinham as melhores médias de cruzamentos e de finalizações. Os dados dele eram bem acima da média da equipe.
Universidade do Futebol – Alguns estudiosos ligados às Ciências do Esporte colocam o sub-15 como um dos grandes desafios das categorias de base no futebol. A influência do processo maturacional, a iniciação à sistematização dos treinos, a iniciação ao ambiente do futebol de alto nível e o afastamento dos pais e responsáveis, são alguns dos pontos de destaque aos jovens dessa faixa etária. O que você pensa?
Rodrigo Bellão – Concordo que na categoria sub-15 existe muita dificuldade encontrada no processo de ensino-aprendizagem devido ao fato de os atletas estarem passando por mudanças maturacionais, fruto da puberdade. Mas acredito que, para o atleta, a categoria sub-17 é a mais complicada, no que diz respeito ao ambiente do futebol de alto nível.
No sub-15, os garotos ainda encaram os treinos com diversão e a cobrança não é tão pesada. Já na etapa seguinte, não é assim que acontece, pois o atleta tem que começar a encarar o futebol como ambiente de trabalho. Eles assumem muitas responsabilidades, principalmente porque é nesta faixa etária que eles lutam pelo seu primeiro contrato profissional. Muitos ainda querem levar os treinamentos na brincadeira e acabam se dando mal.
Psicologicamente, essa é uma fase muito difícil pela qual os jovens atletas têm de passar, e muitos acabam não dando sequência em suas carreiras por encontrarem muitas dificuldades e não suportarem a pressão.
Universidade do Futebol – Como é o processo de detecção e desenvolvimento de talento do jogador de futebol na Portuguesa?
Rodrigo Bellão – A Portuguesa ainda não possui uma metodologia própria e solidificada em relação à detecção e desenvolvimento do talento do jogador de futebol. Cada categoria, apoiada em suas comissões técnicas, trabalha à sua maneira.
No sub-17 nós ficamos no mínimo uma semana com o atleta em avaliação. Ele participa dos mais diversos trabalhos que a equipe trabalha durante a semana, como jogos reduzidos com objetivos técnicos, físicos e táticos, até realizar um treinamento coletivo tático, mais no fim da semana.
Universidade do Futebol – Você também atua como assistente técnico da equipe sub-17. Qual é o seu papel neste caso e qual deve ser relação desse profissional com o treinador no estabelecimento da forma de jogar da equipe?
Rodrigo Bellão – Eu atuo na realização prática das sessões dos treinamentos, desde o comando de um exercício até a análise de desempenho de alguma sessão, dependendo da necessidade do treinador. Atualmente, o Felipe me deixa livre para ajudá-lo e dar as minhas opiniões a respeito do cotidiano, da análise do rendimento dos atletas, assim como dar a minha opinião a respeito do padrão de jogo da equipe.
Esse relacionamento depende muito do nível de confiança do treinador com o seu assistente ou analista de desempenho, e acho que a sinceridade é o principal fator de relação entre esses membros da comissão técnica.
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Sinopse
"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."
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sexta-feira, outubro 21, 2011
Rodrigo Bellão, analista de desempenho e preparador físico das categorias de base da Portuguesa
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