Violência no futebol: um estudo sobre a equipe juvenil do Sport Club Rio Grande/RS

 

 

 

 

 

 

Qual seria o verdadeiro sentido da violência dentro de um esporte tão apaixonante como o futebol? As cifras envolvidas? A própria natureza do homem? O que realmente seria violência?

Bruno Moreira*

Resumo

Este trabalho possui como seu principal enfoque problematizar a violência dentro do futebol e direcionou-se a categoria juvenil do Sport Club Rio Grande. Para a discussão da violência no futebol utilizei-me de entrevistas com jogadores da equipe juvenil e de autores (Betti, Elias & Dunning, Reis, Daolio) que discutem essa problemática.

Introdução

Este trabalho possui como seu principal enfoque problematizar a violência dentro do futebol. O grupo analisado nesta versão é de uma cidade que foge dos grandes centros urbanos, Rio Grande, município este que possui o clube mais antigo do país. Sendo assim, este estudo direcionou-se a categoria juvenil do Sport Club Rio Grande. 

Através do relato de estudiosos da área pude constatar semelhanças e disparidades com o grupo que observei, dessa forma pude estabelecer um diálogo com estes mostrando a realidade no grupo observado. A coleta de informações sobre a equipe deu-se sob forma de observações em treinos e jogos bem como com entrevistas com os atletas.

Para uma melhor compreensão, o texto está apresentado com um breve histórico do futebol, a cidade do Rio Grande e o clube mais antigo do país; estabelecendo relações entre o futebol e a violência na equipe juvenil do Sport Club Rio Grande.

O primeiro relato de jogos similares ao futebol advém da China, da época do imperador Huang-ti (2.197 A.C.). Era costume chutar os crânios dos inimigos derrotados após as batalhas. Mais tarde os crânios foram substituídos por bolas de couro, que deveriam ser chutadas por entre estacas fincadas no solo. Notadamente, outras práticas que se assemelhavam com o atual esporte mais popular do mundo foram: o Calcio Fiorentino (Itália) e o Football (Inglaterra).

Segundo Leal (2000) o Calcio Fiorentino teve sua origem na Idade Média, na cidade de Florença – Itália, e pode ter sido o precursor do futebol inglês, pois conforme o autor, o Cálcio saiu da Itália e chegou à Inglaterra no século XVII dando origem ao futebol que foi exportado para o mundo. Já na Inglaterra, durante muito tempo o footbal foi somente uma forma de festejo, e disputada apenas pelas camadas sociais economicamente inferiores. (STIGGER,2005). 

Posteriormente, tais jogos populares passaram a ser praticados nas escolas por estudantes da aristocracia e da alta sociedade, fato que gerou antipatia por parte dos professores da época, que buscaram reprimir tal prática. Não conseguindo isto, houve a necessidade de regulamentar o modo desportivo, o que deu origem ao football e ao rúgbi. Por sua vez, os trabalhadores industriais ingleses também praticavam nos intervalos de trabalho o futebol e, visto que essa prática era muito violenta e acarretava uma diminuição na produtividade dos operários, impôs-se a criação das regras como nas escolas. (STIGGER, 2005).

No que toca ao Brasil, a história do futebol dá-se primeiramente na camada mais nobre da população de São Paulo, no último quarto do século XIX, como descrito por Betti: “os primeiros clubes surgiram em São Paulo, ao final do século XIX, organizados pela colônia inglesa ligada às companhias de gás, ferrovias e bancos da Inglaterra instalados no Brasil. Logo surgiram clubes brasileiros, inicialmente nas camadas altas, depois nas médias”. (1997, p.21).

A cidade do Rio Grande e o Clube mais antigo do país

Nesta cidade litorânea deu-se a criação do primeiro clube de futebol em atividade onde um grupo de jovens (20 a 25 anos) resolveu se reunir a fim de organizar um clube esportivo que viesse a difundir o futebol no Brasil. Deste modo, no ano de 1900, surge o Sport Club Rio Grande, na cidade de Rio Grande, no estado do Rio Grande do Sul. 

Sua fundação decorreu de um grupo de rapazes alemães, ingleses e italianos que institucionalizaram um clube de futebol, colocando o nome da cidade e as cores da bandeira do Rio Grande do Sul. Configura-se atualmente como o clube de futebol mais antigo do país em atividade. 
Existem outros com data de fundação mais antiga, mas somente o “mais velho” nunca interrompeu suas atividades (RIGO, 2004). Contudo, o surgimento do futebol no Brasil não é isento de controvérsias. Segundo Rigo,
 

A maior parte da grande imprensa brasileira ao longo deste século mostrou-se muito empenhada em personalizar a história enaltecendo a pessoa de Charles Miller como aquele que não somente trouxe-o para cá, mas também programou, deixando no ar uma espécie de dívida histórica do tipo se não fosse por ele o futebol não teria sido jogado no Brasil. Sinal de uma personalização da história, essa tendência acabou por relegar a um plano secundário todas aquelas experiências de futebol contemporâneas ao próprio Charles Miller, que, sem um único pai, pipocavam em diferentes cidades brasileiras (2004, p. 55).
 

Rio Grande destacava-se na virada do século XX por forte e intensa atividade fabril e portuária. Possuindo uma sociedade cosmopolita, influenciando, dessa forma, as artes, as letras e a cultura de um modo geral. As maiores companhias de teatro, vindas da Europa, tinham passagem obrigatória na cidade do Rio Grande, mostrando que as novidades do velho continente chegavam primeiro aqui do que as demais cidades do estado. (RIGO, 2004).

No final do século XIX início do XX, o futebol já se mostrava presente no tempo de lazer de boa parte da elite européia (RIGO, 2004). Devemos chamar a atenção que a iniciação do futebol na cidade do Rio Grande, não sofre apenas influência européia, mas também dos países platinos. 

O esporte nesses lugares teve uma emergência e profissionalismo anterior ao futebol brasileiro. Devido à posição geográfica de fronteira, o futebol da região incorpora traços do contato e interação com o desenvolvido no Uruguai e na Argentina. Sendo assim, o futebol da zona sul do Rio Grande do Sul recebe rastros da dupla-linhagem platina/européia, diferentes das demais regiões do país como no Rio de Janeiro e São Paulo. (RIGO, 2004).

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*Treinador sub-15 do Sport Club Rio Grande, licenciado em Educação Física e Pós-graduando em Futebol

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