A oito rodadas do término da competição, mudança pode ser efetiva para melhorar desempenho do time?
César Cavinato
Demitido no último domingo após derrota para o Atlético-GO, Adilson Batista foi a uma vítima na “dança dos técnicos” no Brasileirão 2011.
Só neste campeonato, o próprio Adilson Batista já dançou no Atlético-PR e, além dele, outros nomes como Antônio Lopes, Carpegiani, Cuca, Dorival Júnior, Falcão, Joel Santana, Mauro Fernandes, Renato Gaúcho, Renê Simões, Silas e Vagner Mancini também já dançaram.
Não podemos esquecer que até mesmo os atualmente bem sucedidos Caio Jr. e Tite já estiveram ameaçados ao longo da competição.
E a música está longe de parar.
Disputas pelo título, contra o rebaixamento, para conquistar vaga na Sul-Americana ou na Libertadores ainda poderão fazer mais vítimas.
Mas, a oito rodadas do término da competição, a mudança de treinador pode ser efetiva para melhora do desempenho de uma equipe? Estudo realizado na Alemanha e publicado recentemente diz que não (Heuer et. al., 2011).
Seguindo um teorema matemático que determina o desempenho pelo número de gols marcados na temporada, o grupo do Prof. B Strauss verificou o aspecto qualitativo do desempenho, pois mesmo que 1 a 0 ganhe três pontos da mesma forma que 5 a 0, não há dúvidas de que quem fez cinco gols foi melhor do que quem fez um e que quem tomou cinco foi bem pior do que quem tomou um.
Por esse motivo, os autores preferiram analisar a quantidade de gols marcados para medir o desempenho, ao invés de verificarem a pontuação dos campeonatos.
Com essa metodologia, os autores analisaram o desempenho de equipes que tiveram seus treinadores demitidos durante a temporada ou entre uma temporada e outra.
Após conferirem 14.018 jogos da Bundesliga (primeira divisão do Campeonato Alemão) desde 1963, verificaram que demitir o treinador tanto durante a temporada, quanto intertemporadas, não tem nenhum efeito sobre o desempenho subsequente de uma equipe.
Naturalmente, o principal motivo de demissão foi um desempenho insatisfatório, sendo que os dois últimos jogos com resultados ruins parecem anteceder o momento da demissão.
Os autores sugerem com esses dados que nos últimos 40 anos analisados a qualidade dos treinadores alemães pareceu ser semelhante ou irrelevante para o desempenho. Essa conclusão é baseada na informação de que o treinador demitido por mau resultado inicia outro ciclo em uma nova equipe, porém o desempenho de nenhuma das equipes é alterado. Assim, pode-se especular que além da parte técnico-tática, aspectos motivacionais, de relacionamento e de coletividade podem fazer diferença, contudo são mais difíceis de serem mensurados.
Pelo visto, na Alemanha a mudança do treinador per si não surte efeitos positivos no desempenho das equipes, pelo menos em longo prazo. No Brasil, não encontramos nenhum estudo que se propôs a fazer tal análise, contudo, sabemos que nenhum treinador que atue no futebol brasileiro tenha condições de bater a marca de Fred Everiss, que ficou 46 anos (1902-1948) à frente do West Bromwich Albion do Reino Unido sem qualquer interrupção.
Além disso, um estudo deste tipo seria bem difícil em nosso país, pelo fato de a mudança de treinador geralmente resultar em outras mudanças como, por exemplo, elenco, comissão técnica, ambiente do clube, condições de trabalho, relacionamento com a imprensa e investimento. Com isso, é complicado saber se as mudanças de desempenho (se é que elas acontecem) ocorrem exclusivamente pela troca de treinador ou pela alteração dos outros fatores intervenientes.
De qualquer forma, esse dado precisa ser levado em consideração quando um clube pretende contratar um treinador, pois no final das contas, a prática mostra que o grande diferencial entre equipes vencedoras e perdedoras normalmente é o aspecto econômico.
As equipes com maior poder financeiro, quando bem administradas, terão sempre mais chance de ter os melhores jogadores que, no fundo, serão os principais responsáveis em fazer o resultado acontecer.
Para saber mais
Heuer A, Müller C, Rubner O, Hagemann N, Strauss B. Usefulness of dismissing and changing the coach in professional soccer. PLoS One. 2011 Mar 22;6(3):e17664.
Balduck AL, Buelens M, Philippaerts R. Short-term effects of midseason coach turnover on team performance in soccer. Res Q Exerc Sport. 2010 Sep;81(3):379-83.
Chow GM, Murray KE, Feltz DL. Individual, team, and coach predictors of players' likelihood to aggress in youth soccer. J Sport Exerc Psychol. 2009 Aug;31(4):425-43.
Alvarez MS, Balaguer I, Castillo I, Duda JL. Coach autonomy support and quality of sport engagement in young soccer players. Span J Psychol. 2009 May;12(1):138-48.
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Benê Lima