Se a equipe dá liga e vai bem, bom para o jogador que se valoriza e abre as portas para um novo emprego no segundo semestre. Mas e o clube?Eduardo Zanello de Paula e SilvaEram felizes e não sabiam. Durante as décadas de 1970, 80 e 90, os clubes do interior paulista, encabeçados por Guarani, Ponte Preta, América, XV de Jaú, Ferroviária, Marília e pelo nosso Botafogo, de Sócrates, Zé Mário, Paulo Egídio, Raí, Boiadeiro e tantos outros, faziam a diferença.
Era a época da mãe fértil que procriava a cada ano expoentes para o futebol brasileiro e mundial. Comum naquele tempo era ligar o rádio, sintonizar no AM e ouvir a escalação dos times “chamados pequenos” com vários jogadores oriundos das categorias de base.
Jogavam por amor, o beijo no brasão era verdadeiro, literalmente colocavam o coração no bico da chuteira. Um orgulho vestir a camisa que se confundia muitas vezes com a própria pele. Jogar profissionalmente pelo clube de formação era uma honra... Os clubes grandes da capital paulista suavam para conquistar um pontinho fora de casa contra os chamados pequenos, bons tempos!
Aí, de repente, tudo mudou. Os clubes deixaram de investir na formação, pararam de garimpar. A base se misturou com as escolinhas, houve crise de identidade: qualidade na base versus quantidade nas escolinhas.
O profissional, até então recheado de jogadores criados no próprio clube, mudou de identidade e passou a ter o sobrenome “barriga de aluguel”.
A imprensa esportiva imediatista, que exige a montagem de bons times para a disputa dos campeonatos, a cobrança inconsciente do torcedor apaixonado pelo clube, somados ao despreparo, na maioria das vezes, dos dirigentes abnegados e ao calendário inapropriado das competições de curto prazo, por exemplo, o Campeonato Paulista, foram os fatores preponderantes que impulsionaram os clubes a deixarem de lado a incubadora para investir na revenda por consignação, em que os atletas dos “outros” ou de “ninguém” ficam expostos na vitrine do clube para a disputa de um campeonato de tiro curto.
Se a equipe dá liga e vai bem, bom para o jogador que se valoriza e abre as portas para um novo emprego no segundo semestre (Campeonato Brasileiro).
E o clube? Se foi bem no campeonato, entenda-se, não caiu de divisão, fica com aquela sensação de dever cumprido, sobreviveu por mais uma temporada. Mas e aí? Até quando suportaremos essa pressão de que um dia vamos sucumbir?
Pra refletir: vamos deixar de lado o imediatismo da disputa pra não cair e pensar num investimento em médio prazo nas categorias de base, voltar às origens da formação. Só assim resgataremos os clubes de futebol do interior.
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Benê Lima