Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

quarta-feira, outubro 19, 2011

Opinião] Lei Geral da Copa

“Uma abordagem esclarecedora e imparcial.”
(Benê Lima)
Um debate profundo sobre o tratamento que damos a conceitos erroneamente tidos como “conquistas sociais”

Geraldo Campestrini

Blatter quer tribunal especial para proteger FifaA Lei Geral da Copa (LGC), visando estabelecer regras e/ou facilidades na organização da Copa do Mundo de 2014, tem gerado um debate acalorado por diversos entes da nossa sociedade, uma vez que a mesma deve impactar não só a questão do futebol, como também outras áreas de nossa sociedade.

Em primeiro lugar, é bom frisar que a Copa do Mundo é um evento privado, de uma entidade supranacional, a Fifa, e o Brasil se candidatou voluntariamente ao pleito, conhecendo antecipadamente as regras e o ônus de trazer um dos maiores eventos do mundo para o seu território. A retórica é importante para lembrar que a entidade máxima do futebol não é uma mera “organização que impõe regras contra a soberania das nações” e que o Brasil não é obrigado a organizar a Copa. Foi ele quem quis.

Depois, que a discussão sobre a LGC pode ser muito boa para o Brasil para, talvez, enfim, colocar um ponto final em alguns discursos político-demagógicos de algumas “minorias”, que se travestem de “coitados” para receber migalhas do poder público, sem que este tire efetivamente verba do seu próprio bolso e transfira esta responsabilidade aos entes privados.

O Emerson Gonçalves, no blog “Olhar Crônico Esportivo”, expressa muito bem parte de meus sentimentos em relação ao assunto no texto “Meia entrada e ‘Soberania Nacional’”.

Essa transferência de responsabilidade (e de conta) para as entidades esportivas (ou o teatro, o cinema, as artes, etc.) do governo é um tanto quanto desproporcional para uma atividade econômica que tem autonomia garantida na constituição e que mesmo assim deve abrir mão de parte de suas receitas para atender a apelos político-eleitoreiros de poucos.

Assim, as referidas “minorias” que mencionei anteriormente “brigam” e “lutam” por migalhas. Estudantes preferem discutir a meia-entrada no futebol (?) a reivindicar educação pública de qualidade. Idosos, ao invés de se organizarem e trabalharem pelo respeito em áreas básicas como saúde, acessibilidade e dignidade após servirem o país com sua força de trabalho, contentam-se com pequenos descontos, quando deveriam ganhar proventos dignos para terem o direito ao lazer como bem entender.

No fim das contas, quem pagará a diferença delas será o trabalhador de nível intermediário, ou seja, aquele que produz, trabalha e gera riquezas ao país, seja pelo seu próprio bolso ou pela arrecadação do governo. E isso é evidenciado por algumas reportagens recentes:

- Portal 2014: “Meia-entrada pode levar Fifa a aumentar preço de ingresso da Copa” (http://migre.me/5WptR), de 17-out-2011.

- Jornal Valor Econômico: “Governo quer Copa com ingressos populares”, p. A4, de 10-out-2011.

Outra questão é a da venda de bebida alcoólica em estádios. Outra demagogia barata. O argumento é sustentado por um discurso vazio de quem não entende que o torcedor que briga no estádio faz o mesmo fora dele. O cidadão que vai a uma arena esportiva e causa confusão é o mesmo que irá à noite para uma festa ou um bar com os amigos e provocará alguma arruaça ou confusão.

Esse erro comum de tentar diferenciar o cidadão comum do torcedor que tem sido o grande problema da violência em estádios de futebol. Se adotássemos a lógica aplicada no futebol, deveríamos ver nas “baladas” policiais armados dentro das pistas de dança no lugar dos seguranças das casas.

Se o consumo de bebida alcoólica está tão associado à violência no futebol, é verdade que a mesma bebida deveria ser proibida em quaisquer estabelecimentos comerciais, de shows de rock a quermesses – isto aqui é culpa da bebida ou da educação?

Por fim, penso que a LGC deve servir, sim, para um debate profundo sobre o tratamento que damos a alguns conceitos erroneamente tidos como “conquistas sociais”. Estudante precisa de recursos para “estudar”, tendo acesso a eventos educacionais, compra de livros, revistas científicas ou assinatura a banco de dados. Idosos precisam que a sociedade entregue a eles uma vida “digna” em termos de saúde e qualidade de vida.

Devemos entender que as entidades esportivas, por sua soberania, é quem pagam a conta no fim de tudo ao abrir mão de receita integral na venda de ingressos ou na comercialização de bebidas, causando desequilíbrio econômico com outras atividades semelhantes de nossa sociedade.

 
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Benê Lima