Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

quarta-feira, maio 19, 2010

Médico do Futebol fala sobre os novos tratamentos para lesões no esporte

Quem acompanha futebol certamente já ouviu falar de José Luiz Runco, o médico da Seleção Brasileira e do Flamengo. Será dele a responsabilidade de cuidar de todo trabalho médico da seleção que estará na Copa do Mundo de 2010. Uma responsabilidade que encara com naturalidade e garante, com um trabalho intenso, é possível transformar o grupo heterogêneo de atletas, em uma homegeneidade para competição. Uma tarefa de médico onde ele compartilha a responsabilidade com o próprio atleta. Afinal, é o jogador que deve se cuidar, evitar lesões, manter uma alimentação regrada. “O atleta tem uma vida regrada, ele faz tudo aquilo que a pessoa da faixa etária dele faz, mas com limitação. Ele tem que ser regrado na vida desportiva”, observa José Luiz Runco, que esteve em Natal participando do 14º Congresso Norte-Nordeste de Ortopedia e Traumatologia.

Longe de apenas se dedicar ao trabalho dos atletas profissionais, o médico também envereda por inovações na Medicina e há quatro anos desenvolve a técnica do Plasma Rico em Plaquetas, um tratamento feito com a centrifugação do sangue. Mas José Luiz Runco alerta: é preciso critério no uso da técnica. “O momento do médico é delicado com o risco dele usá-lo indevidamente. Esse procedimento veio para ficar, mas os médicos têm que ter muito cuidado nas suas indicações. Ele tem que ser feito dentro de protocolos. Eu uso há quatro anos em várias situações, como lesões musculares, lesões articulares”, frisa. O convidado de hoje do 3 por 4 é um profissional simples, que se mostra dedicado e traz lições para atletas amadores e profissionais.

Qual a responsabilidade do atleta no preparo físico para evitar lesão?

Basicamente, o atleta tem que se cuidar, boa alimentação dentro do que for possível. Evitar desgaste físico além do necessário. Existe o desgaste físico natural e existe o desgaste emocional. Ele deve estar equilibrado e receber a carga de treinamento adequada.

Até que ponto o excesso de peso compromete o rendimento do atleta e pode contribuir para lesões?

É grande. Se você tem um atleta que está acima do peso ele sobrecarrega as suas estruturas. Ele perde em agilidade, perde em condicionamento físico, sobrecarrega as articulações. Você tem que ter um controle do peso para que ele possa jogar e desenvolver normalmente. Isso é muito forte na característica de trabalho. Você precisa ter o próprio trabalho coordenado para essa questão do peso. As pessoas precisam entender que você não vai ter um atleta no início de trabalho dentro do peso. Quando o atleta vem de férias ou quando fica parado por alguma lesão, quando ele volta está 2 ou 3 quilos acima do peso. Mas isso com o próprio dia-dia a gente acaba. Cria-se muita especulação em torno do peso de atletas, quando, na verdade, não é isso que vai acontecer durante a competição. Lá (na competição) ele estará regrado, com seu peso normal e desenvolvendo o futebol dele normalmente.

Que tipo de comportamento o atleta, seja amador ou profissional, deve adotar para evitar lesões?

Você tem o que nós chamamos de prevenção. Na verdade, a gente procura fazer hoje na traumatologia do esporte é a prevenção de lesões. Prevenir é você preparar para que não aconteça algo. Você prepara o ser humano através de exercícios, fortalecimento de exercícios, alongamento, exercícios de equilíbrio para que essa pessoa possa exercer. Hoje todo mundo pratica esporte. Hoje há uma demanda muito grande até por indicação médica de que você venha a praticar esportes. Então os exercícios passam a ser de fundamental importância. Mas esses exercícios têm que ter controle primeiro do cardiologista. Você não pode ir fazer exercício se não tiver o suporte da área clínica. Você pode ter uma patologia que para o dia-dia vive muito bem, mas quando vai fazer um esforço pode comprometer a tua saúde. Visto isso você tem que ter exercício baseado por um profissional traumatologista para ver qual o tipo de exercício que você vai fazer, se você tem desvio de alguma articulação, joelho para dentro, tornozelo para dentro, tornozelo para fora, ver o tipo de calçado que você vai ajustar para fazer a atividade física, a roupa. Você não pode fazer exercício com roupa apertada. Você tem que ter roupas boas que tenham menor chance de absorver calor e você possa render mais. A parte alimentar e nutricional também é importante. Houve época em que tomar água durante o exercício era proibido. Hoje a gente chega a conclusão que isso é uma grande imbecilidade. Você tem que se hidratar. Então você tem hidratação com a água, com isotônico. Esse contexto é fundamental que a pessoa tenha. Não é chegar no local e sair praticando exercício. E o suporte na minha ótica, pelo menos na fase inicial, é de um profissional de educação física que tenha experiência com exercício físico. Caso contrário, a pessoa pode lesar uma articulação, pode fazer uma lesão muscular ou fazer exercício errado. Isso estou falando para a pessoa comum, do dia-dia. No caso do atleta profissional ele é condicionado desde criança e para que você possa exercer sua profissão você começa desde cedo a fazer isso. O atleta profissional já tem o hábito. A gente tem dificuldade para passar isso para o atleta do final de semana, que é aquela pessoa que trabalha a semana toda e no final de semana resolve correr, jogar futebol, tênis. Tem que ter um controle.

O senhor trata com um grupo de jogadores muito heterogêneos. Como trabalhar essa diversidade de atletas que se reúnem na seleção brasileira?

Não temos contato de avaliação direta porque eles estão servindo aos seus clubes. Todos irão apresentar, evidentemente, cada um com suas características que estão em final de temporada. Alguns estarão de férias, outros no meio da temporada, que são os jogadores brasileiros que jogam no futebol brasileiro. O grande jogo nisso tudo é conseguir fazer com que esse grupo heterogêneo, no período da Copa, seja preparado para se transformar em um grupo homogêneo e possamos ter toda uma performance na competição. É um trabalho que se faz com um certo cuidado para você não ultrapassar metas em relação a quem vem de final de temporada.

Vivemos um momento em que alguns técnicos convocam atletas mesmo eles estando contundidos. É uma aposta que o técnico faz no atleta. Até que ponto um técnico pode apostar na recuperação de um atleta para uma competição?

Depende se ele tiver um departamento médico que ofereça suporte para ele. Tivemos essa experiência em 2002 quando o Felipão resolveu convocar o Ronaldo e nós demos o suporte. Ele poderia convocar o Ronaldo que teria condição de jogar a Copa do Mundo. O treinador só vai ter a vinda do atleta no momento em que tiver suporte do departamento médico.

Inovações para lesão?

Diria que você tem uma lesão cirúrgica as indicações, com o desenvolvimento das técnicas, há uma recuperação mais rápida. Evidentemente, se ele tiver uma lesão passível de recuperar. Uma outra técnica que tem é a evolução da fisioterapia. Ela (a fisioterapia) evoluiu muito e permite que o atleta possa se recuperar em um período mais curto. E você, um pouco fora da área, é a própria parte do condicionamento físico. Que envolve a parte física e envolve a parte nutricional. A nutrição hoje tem função muito importante para o atleta ter estrutura biológica e resistir ao tratamento. Então, se nós tivermos um atleta com uma lesão passível de ser tratada com o tempo normal para que possa se recuperar.

O “atleta do final de semana” está mais consciente ou irresponsável para a prática do exercício?

Ele está mais consciente até porque a sociedade médica tem passado essas informações. A sociedade médica do cardiologista, do ortopedista tem passado a importância. As próprias academias hoje começam a cumprir uma lei do conselho federal que é ter um profissional médico a disposição para poder dar suporte ao desportista.

O senhor tem se destacado pela técnica do plasma rico em plaquetas. Mas ainda há muitos questionamentos sobre esse técnica.

O plasma rico em plaquetas é uma técnica que foi desenvolvida pela odontologia, foram os primeiros profissionais que usaram o plasma rico em plaquetas foram os odontólogos e ao tentar fazer um implante o profissional viu que havia deficiência óssea e ele achou que tirando sangue do paciente, fazendo uma centrifugação colocaria lá e viu que teria resultado. As coisas foram se desenvolvendo e hoje é uma técnica extremamente usada em grandes especialidades médicas. Na traumatologia, em geral, está sendo muito usada. Na traumatologia desportiva está sendo muito usada. Uma característica que nós achamos que é o cuidado. Não podemos transformar esse procedimento que tem tudo para ser um procedimento que possa trazer um belo resultado tanto na reabilitação, no tempo de recuperação e banalizá-lo e não ter a resposta. Hoje é um procedimento que está sendo muito estudado no mundo todo. Acho que é um procedimento que veio para ficar, cada vez será explorado pelos profissionais. Porém, nossa grande preocupação é que esse procedimento tenha protocolo bem definido nas indicações médicas e na maneira de fazer. É isso que nós estamos tentando estudar e a todo momento passar aos colegas sobre o uso.

Esse momento seria delicado pela falta dessas regras do uso do plasma rico em plaquetas?

Não. Não é momento delicado porque há evidências científicas que ele funciona. O momento é delicado do médico, do risco dele usá-lo indevidamente. Esse procedimento veio para ficar, mas os médicos têm que ter muito cuidado nas suas indicações. Ele tem que ser feito dentro de protocolos. Eu uso há quatro anos em várias situações, como lesões musculares, lesões articulares, lesões de cartilagem e temos um protocolo e apresentado isso em diversos eventos médicos com aceitação bastante boa dos colegas.

O sucesso da reabilitação de um atleta depende de quem?

Depende primeiramente da pessoa. Ninguém fica bom se não tiver vontade própria. Segundo se a lesão for bem tratada, quer no sentido conservador, quer no sentido cirúrgico. Terceiro se você tiver bem adaptado ao profissional de Fisioterapia. O profissional de fisioterapia é muito importante e completa o trabalho do profissional médico.

Qual o atleta que lhe surpreendeu no tratamento?

Um atleta que sempre me surpreendeu nas suas recuperações foi o Romário. Operei em 1995, era uma lesão de cartilagem, ele me surpreendeu na maneira como ele se reabilitou.

Fonte: Tribuna do Norte

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Benê Lima