Nesta sexta-feira (14), será dado o pontapé inicial no primeiro Torneio Escola COXA de futebol. A disputa que se desenvolverá até o fim do ano entre as categorias sub-13, sub-15 e sub-17 terá como participantes as redes de Curitiba e região e também do interior do estado do Paraná e Santa Catarina.
A competição é encarada pela coordenação do projeto como uma forma de movimentar e integrar todas as unidades, além buscar novos talentos para as categorias de base do Coritiba.
Criadas para divulgar a marca do clube, as Escolas COXA aproximam mais futuros torcedores em potencial e criam os próprios centros de formação de atletas para a captação de novos talentos. Jovens que se destacam são convidados a compor o departamento de futebol no Centro de Treinamento da Graciosa, onde funciona a principal estrutura alviverde. Lá, certamente terão contato direto com Rosemara Fernandes.
Contratada do Coritiba desde o ano passado, ela compõe uma equipe comandada por Mario André Mazzuco, coordenador técnico da base, ao lado de outros 50 profissionais, como a assistente social Clair Kapp e a nutricionista Elisângela Zanetti – Rosemara responde pela área da pedagogia.
Confira entrevista com Mario André Mazzuco
“A educação deve ser entendida como efetivação de seu desenvolvimento intelectual, na qual, através dos conhecimentos adquiridos com o acompanhamento pedagógico individual, a prática educacional, palestras e dinâmicas, o atleta possa crescer em sua atividade esportiva atuante e crítico na execução das suas ações”, explicou, nesta entrevista concedida via e-mail à Universidade do Futebol.
A especialização de Rosemara é em psicopedagogia, campo que estuda o processo de aprendizagem e suas dificuldades, tendo um caráter preventivo e terapêutico. A atuação não se limita apenas ao âmbito escolar, mas objetiva a família e a comunidade, esclarecendo sobre as diferentes etapas do desenvolvimento.
Aos aspirantes a atletas, a intenção é fazê-los compreender e assimilar as características próprias, evitando, assim, cobranças de atitudes ou pensamentos que não são relativos àquela idade. Cabe à psicopedagoga identificar, analisar, planejar e intervir por intermédio das etapas de diagnóstico e tratamento.
“Para formarmos jovens jogadores de futebol, é necessário que ocorra um planejamento e uma ação conjunta entre os profissionais que atuam nas diversas áreas que envolvem os atletas. A coordenação das categorias de base do Coxa nos dá condições e compartilha com nossas ações”, garantiu Rosemara, que também abordou alguns aspectos metodológicos de sua função e o processo de formação de líderes.
Escolas COXA estão espalhadas em 15 unidades, inclusive fora do Estado do Paraná: alvo é divulgar imagem do clube e descobrir novos talentos
Universidade do Futebol - Qual a sua trajetória acadêmica e como ocorreu o ingresso no ambiente do futebol?
Rosemara Fernandes - Durante dez anos trabalhei como voluntária junto a entidades sociais, as quais tinham como objetivos resgatar crianças envolvidas em situações de violência social e familiar.
No início de maio de 2009, ocorreu o convite para atuar nas categorias de base do Coritiba Foot Ball Club: um trabalho de acompanhamento pedagógico e psicopedagógico nas categorias mirim, pré- infantil, infantil, juvenil e juniores.
Universidade do Futebol - Qual é o referencial teórico para o projeto das categorias de base do Coritiba?
Rosemara Fernandes - Temos no clube como referencial teórico o projeto de formação contínua do atleta. Nosso trabalho tem como prioridade a prática formadora, em que atuamos como condutores no desenvolvimento moral, social e intelectual do atleta.
A educação deve ser entendida como efetivação de seu desenvolvimento intelectual, na qual, através dos conhecimentos adquiridos com o acompanhamento pedagógico individual, a prática educacional, palestras e dinâmicas, o atleta possa crescer em sua atividade esportiva atuante e crítico na execução das suas ações.
Universidade do Futebol - De que forma são reconhecidos os líderes individuais entre as crianças e como é trabalhada a liderança construtiva pela equipe coordenadora do Coritiba?
Rosemara Fernandes - A liderança individual ocorre mediante a leitura feita durante o processo de desenvolvimento das atividades educacionais, dinâmicas, palestras e reuniões. As atividades desenvolvidas seguem dentro de um estudo especifico para as necessidades de cada jovem atleta nas respectivas categorias, onde procuramos trabalhar visando o grupo num só processo de aquisição de conhecimentos e informações.
Dentro de uma realidade de diversidade cultural, social e emocional que existe em um clube de futebol, é importante exercermos ações educacionais que procurem unir cada potencialidade individual e, assim, preparar o atleta para que possa desenvolver e aprimorar suas características, aplicando-as corretamente no exercício do futebol.
Universidade do Futebol - Walter Benjamin* diz que o grande equívoco em relação aos brinquedos fabricados é o fato de que estes são sempre pensados como produções para as crianças e não como criações das crianças. Os brinquedos, atualmente industrializados e produzidos em séries, limitam a criatividade das crianças, mesmo quando estas não são totalmente subservientes a eles?
Rosemara Fernandes - Brincar com a bola de todas as maneiras e, principalmente, jogar futebol, sempre estará presente na infância da criança brasileira, pois faz parte da nossa cultura.
Mesmo diante de brinquedos sofisticados, com tecnologias que dispensam muitas vezes o exercício do raciocínio pela criança que irá utilizá-lo, jogar futebol nas escolas, ruas e bairros ainda prevalece como escolha de diversão para a maioria das crianças.
O brinquedo bola
*Walter Benedix Schönflies Benjamin foi um ensaísta, crítico literário, tradutor, filósofo e sociólogo judeu alemão. Associado à Escola de Frankfurt e à Teoria Crítica, foi fortemente inspirado tanto por autores marxistas, como Georg Lukács e Bertolt Brecht, como pelo místico judaico Gerschom Scholem.
Conhecedor profundo da língua e cultura francesas, traduziu para alemão importantes obras, como "Quadros Parisienses", de Charles Baudelaire e "Em Busca do Tempo Perdido", de Marcel Proust. O seu trabalho, combinando ideias aparentemente antagónicas do idealismo alemão, do materialismo dialético e do misticismo judaico, constitui um contributo original para a teoria estética.
Entre as suas obras mais conhecidas, contam-se "A Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Técnica" (1936), "Teses Sobre o Conceito de História" (1940) e a inacabada "Paris, Capital do século XIX".
Universidade do Futebol - O fato de as crianças não brincarem mais tanto de futebol, desenvolvendo essa atividade majoritariamente em escolinhas ao comando de um professor muitas vezes tecnicista, pode acarretar em uma perda da identidade brasileira ao longo do tempo?
Rosemara Fernandes - As escolinhas surgem como aprimoramento da técnica para aqueles que já optaram por desenvolver o esporte e, muitas vezes, para testar suas aptidões para o exercício, ou não, do mesmo.
Não podemos esquecer as questões ligadas à segurança, pois estar dentro de um espaço físico acompanhado por profissionais especializados gera uma maior tranquilidade aos pais que, muitas vezes, não se sentem seguros em deixar seus filhos nas ruas ou praças.
Torna-se fundamental, diante disto, que aqueles que desenvolverem esta atividade e adquirirem espaços para o esporte futebol, tenham a preocupação em dispor de profissionais especializados para atuar junto às crianças e aos jovens que os procuram. Profissionais estes que compreendam a importância de suas ações no desenvolvimento educacional, social, psicológico, técnico e tático dos jovens futuros jogadores de futebol.
Universidade do Futebol - Muitos teóricos da psicologia da aprendizagem argumentam que “ninguém aprende se não tiver necessidade”. Como desenvolver uma metodologia eficaz e eficiente capaz de criar problemas novos, quebrando o status quo, e levando os alunos (jogadores) a construir as soluções?
Rosemara Fernandes - Quanto à argumentação de que “ninguém aprende se não tiver necessidade”, conduzimos nossos jovens atletas a entenderem, desenvolverem e se conscientizarem, paralelamente à prática do esporte, de que a formação intelectual contribuirá para o crescimento pessoal, social e profissional.
Esse processo fará com que os mesmos permaneçam com suas atividades escolares e até busquem soluções para que isso aconteça.
Rosemara participa de palestra com jovens das categorias de base; dinâmicas e ações educativas compõem projeto do departamento
Universidade do Futebol - É possível pensar a formação de jovens jogadores de futebol sem a criação de um programa que gerencie o crescimento pessoal, social e profissional de modo interdisciplinar? Isso ocorre no Coritiba?
Rosemara Fernandes - No Coritiba, todos os atletas das categorias de base são obrigados a frequentar escolas, com apresentação regular junto à pedagoga dos boletins escolares. Para formarmos jovens jogadores de futebol, é necessário que ocorra um planejamento e uma ação conjunta entre os profissionais que atuam nas diversas áreas que envolvem os atletas.
A coordenação das categorias de base do Coxa nos dá condições e compartilha com nossas ações. Os projetos desenvolvidos têm como objetivo principal a formação plena dos jovens jogadores de futebol que atuam no clube.
Universidade do Futebol - Como avalia o atual momento dos ambientes de aprendizagem para os jovens no Coritiba?
Rosemara Fernandes - Através da interação com os demais profissionais, podemos estabelecer e executar um trabalho buscando atingir nosso objetivo único: o crescimento do atleta como indivíduo atuante na busca da realização de seus sonhos como jogador, bem como praticante do exercício da cidadania através do respeito, amor e ética profissional.
A partir do momento em que o atleta ingressa nas categorias de base do Coritiba, ele já faz parte do projeto de formação do atleta com conhecimento, ética e profissionalismo.
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Benê Lima