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"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

sexta-feira, outubro 22, 2010

Estudo comprova que a contextualização do modelo de gestão é componente decisivo para o sucesso

  • 03h58
  • 22Out

Estudioso critica modelo inglês de administração do futebol e usa Alemanha como exemplo

por Lucas Borges, da redação do ESPN.com.br

Vendo os jogos do Campeonato Inglês pela televisão do Brasil, tudo parece perfeito. Os gramados são bem cuidados, os estádios cheios e a torcida comportada. Um especialista brasileiro que viu de perto o espetáculo vendido na Terra da Rainha, porém, diz que nem tudo são rosas por lá.

Marcos Alvito, doutor em antropologia social e estudioso do futebol, esteve por um ano na Inglaterra entre 2007 e 2008 para realizar uma pesquisa sobre o policiamento de torcidas no Brasil e no país europeu e conta: “Quando cheguei lá, o modelo inglês era muito elogiado, só se falava em Premier League.” 

“Só que comecei a perceber que esse modelo não era sustentável. Eles mesmos estavam criticando demais. A primeira compra do Liverpool e a compra do Manchester United pela família Glazer foi feita da mesma forma: o sujeito pega empréstimo no banco para comprar um clube e dá como garantia o próprio clube. O clube assume a dívida que esse sujeito fez para comprá-lo. O sujeito não traz o dinheiro dele. Hoje, dos 20 primeiros clubes da primeira divisão inglesa, 19 estão endividados.”

“Esse modelo tinha destruído as bases do futebol inglês, que eram os clubes locais, os clubes de bairro, de fábrica, de cidades pequenas. Era um modelo elitista, concentrador, tanto em termos da exclusão do torcedor, como concentrando poder e riqueza na mão dos grandes clubes”, conta o especialista, que para ilustrar a situação lembra do caso do FC United, clube fundado por fãs que se desiludiram com os rumos do Manchester United e criaram seu próprio time.

Na época de sua visita à Inglaterra, Alvito testemunhou em matéria à Revista Piauí, que um torcedor do Arsenal, por exemplo, deveria desembolsar no mínimo R$ 120 em um plano de anuidade para ter o direito de comprar ingressos a pelo menos R$ 160. Somente se as entradas destinadas a esse grupo e também a torcedores que pagam ainda mais caro se esgotassem, os demais fãs tinham a chance de comprar bilhetes normalmente.

No Brasil, isso também já existe. Como para os torcedores do Corinthians, que se quiserem garantir entrada nos jogos da equipe, têm que pagar entre R$ 100 e R$ 1200 anuais para terem um pequeno desconto em ingressos que variam entre R$ 30 e R$ 180. “Aparentemente é bom, é menos caótico, não é preciso ficar um dia inteiro em uma fila esperando. Mas no final das contas vai acabar redundando em um modelo elitista também”, opina Alvito.

Para o antropólogo, a experiência da Alemanha tem se mostrado como a mais sustentável. Além dos clubes germânicos estarem em melhores condições financeiras do que os ingleses e de os estádios locais também estarem cheios, por lá os torcedores estão conseguindo preservar os seus direitos.

“Não era preciso acabar com a geral, como fizeram no Maracanã. Na Alemanha, a Fifa disse que não podiam construir estádios que tivessem área para os torcedores ficarem em pé. Os alemães responderam: ‘Como não pode? A gente constrói uma cadeira que é retrátil. Quando o cara quer ficar em pé, ele fica em pé, e quando ele quiser sentar, que é jogo da Fifa, ele senta”, conta. 

No início deste mês, os mesmos fãs que reclamaram pelo direito de assistir a um jogo em pé, se reuniram nas ruas de Berlim aos milhares, entre torcedores de diferentes clubes, para dizerem basta à violência dos policiais nos estádios e para garantirem o uso de megafones e sinalizadores dentro das arenas.

ASSISTA ABAIXO AO VÍDEO DA MANIFESTAÇÃO DOS TORCEDORES ALEMÃES EM BERLIM



“Na Alemanha o ingresso custa a mesma coisa que custa no Campeonato Brasileiro, com um poder aquisitivo muito mais alto. Até a segunda divisão é um modelo, porque tem uma média de público maior do que a do Brasileiro. Os clubes lá não estão endividados. Isso é fruto da luta dos torcedores alemães.” 
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Revisão: Benê LIma

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Benê Lima