Ao longo de décadas, e virando o século, muitos pesquisadores vêm estudando o ensino e desenvolvimento das habilidades técnicas nos esportes coletivos.
O objetivo impulsionador da maior parte dos estudos sempre foi o de entender como alcançar com os treinamentos a maestria desportiva e como maximizar o desenvolvimento técnico específico de jogadores e equipes.
A percepção de que a repetição sistemática de gestos nos treinamentos, para melhorar as habilidades técnicas de jogo nos esportes coletivos, não correspondia necessariamente, sob o ponto de vista cognitivo e neuromotor, à repetição do real gesto solicitado durante uma situação de jogo, trouxe à tona, a necessidade de se entender como tratar do desenvolvimento das habilidades técnicas, de maneira a atender a manifestação motora específica exigida no jogo.
Em outras palavras, além do habitual treino de repetição de gestos técnicos (de passes, cabeceios, chutes, etc.), tornou-se necessário o desenvolvimento de treinos que dessem conta, de não mais repetir apenas gestos, mas sim repetir sistematicamente ações (ações de passes, ações de cabeceio, ações de finalizações).
Desta maneira, métodos de ensino e treinamento da técnica nos esportes coletivos tornaram-se objeto de estudos e de aplicação.
No futebol, dentre os métodos amplamente estudados e utilizados, destacaram-se principalmente os métodos “analítico” e “global”.
O método analítico, herdeiro especialmente das práticas empíricas, foi nos primórdios do treinamento técnico, o principal método empregado por equipes de futebol; das escolinhas, passando pelas categorias de base, até o profissional. No Brasil é o método de raízes mais profundas.
O método global, oriundo do redirecionamento dos olhares da ciência, à prática esportiva dos jogos coletivos, foi ganhando um grande corpo de conteúdos e de interessados, e passou a ser estudado e empregado em centros onde “construir o talento” passou a ser uma necessidade e uma resposta as dificuldades de se “encontrar o talento”. Na Espanha encontrou seu principal porto de desenvolvimento (não só no futebol, mas também no futsal, basquetebol, voleibol e handebol).
Hoje, na prática do futebol, o método analítico se caracteriza pela realização de exercícios técnicos, com repetição sistemática de gestos, que são fragmentados e retirados do contexto circunstancial-situacional de jogo.
O método global por sua vez, se caracteriza pela repetição sistemática das ações (balizada pela aleatoriedade e imprevisibilidade do jogo) em contexto de jogo, integrando ao desenvolvimento técnico, o desenvolvimento tático individual e coletivo, bem como o desenvolvimento físico (enfim, o desenvolvimento do jogar).
A Ciência não nega os feitos e benefícios do método analítico, afinal, especialmente no futebol, muitos problemas ao longo da história, foram sendo resolvidos através dele.
Há, porém, que se destacar que as soluções dadas pelo método analítico deixaram lacunas, que até certo ponto, frearam o desenvolvimento dos jogadores. Isso gerou novas perguntas (novos problemas), que não poderiam ser respondidas com as mesmas respostas.
Infelizmente, muitos dos “gestores maiores” nos clubes de futebol (nas categorias menores ou no profissional), aqueles que tem poder de decisão para mudar o rumo das coisas, viveram uma época de aprendizagem em que a lição formal era dada pelo método analítico (sem se dar conta, muitas vezes, de que a lição que realmente lhe valeu frutos foi ensinada nas ruas, nas peladas das periferias, de um “jeito global”, que não era método).
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Benê Lima