Capacitação de treinadores e projeto para categorias de base são destaques no planejamento do vôlei brasileiro
Geraldo Campestrini
É redundante falar novamente sobre o sucesso das seleções brasileiras de voleibol face aos resultados expressivos dos últimos 20 anos. Acaba por ser inevitável a comparação com o esporte mais popular do país, o futebol, e se perguntar o que aquele fez de tão bom para chegar a patamares quase que hegemônicos nos naipes masculino e feminino.
Li muito artigo nessa semana creditando a vitória da Seleção Masculina de Voleibol no Tri-Campeonato Mundial ao seu técnico Bernardinho. De fato, trata-se de uma figura de incrível capacidade de reunir, engajar e trabalhar em prol dos resultados com o elenco de atletas que convoca e sua equipe de trabalho multidisciplinar.
Contudo, acompanhando há algum tempo a evolução da modalidade, percebemos que o sucesso esportivo nas seleções é proveniente de um trabalho de organização e gestão minuciosamente planejado, envolvendo em essência duas premissas básicas que percebo com alguma deficiência ainda no futebol: (1) a formação e capacitação profissional e (2) um programa contínuo de formação de atletas.
Na primeira, o voleibol adotou há algum tempo o CONAT, que é uma Escola de Treinadores, nivelando, conforme a categoria e a evolução profissional do treinador (e demais profissionais que complementam uma comissão técnica multidisciplinar), respeitando a evolução de conhecimento do mesmo em modelo semelhante ao que ocorre na UEFA, que classifica em níveis os técnicos do futebol.
Essa ideia vai além, de acordo com palavras do Presidente da Confederação Brasileira de Voleibol, Sr. Ary Graça Filho, que, certa vez, em entrevista para um canal de esportes mencionou o cuidado da CBV em observar jogadores de expressão que estão em vias de se aposentar para convidá-los a se capacitar durante os últimos anos de suas carreiras. Com essa medida, contribuem para a melhoria do conhecimento científico agregado com o nome e a experiência prática de ex-atletas.
Na segunda premissa é possível notar a enorme quantidade de jogadores que fizeram parte das seleções de base para então figurar na seleção principal. Esse processo contínuo de formação de jogadores é muito bem desenvolvido a partir de uma visão do todo e não específica de cada categoria.
Tanto na primeira situação quanto na segunda, o futebol encontra barreiras culturais que dificultam sobremaneira a sua aplicação na prática. No caso da formação profissional, há ainda uma ideia perene de que o conhecimento prático, puro e simples, são a chave para o sucesso nas equipes, indo de encontro a evolução científica e a era da informação e do conhecimento como fatores para evolução contínua da modalidade.
No que se refere às seleções de base, percebe-se que nem sempre os critérios técnicos são levados em conta no momento de uma convocação de atletas, dificultando um pensamento dos clubes brasileiros em torno daquilo que é benéfico para a Seleção Brasileira como um todo. Por tal razão, conta-se nos dedos os atletas que passaram por várias categorias até chegar à seleção principal.
A cópia integral de um modelo de gestão nunca é o mais indicado, mas a observação de pontos-chave no sucesso de instituições similares fazem parte daquilo que a literatura define como “benchmarking”. O voleibol brasileiro inovou e vem inovando continuamente e por tal razão pode e deve ser observado com uma atenção mais técnica e não puramente emocional sobre os fatores que o conduziram ao sucesso esportivo mundial.
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Benê Lima